A vogal da ERC

O curriculum vitae oficial, de Estrela Serrano, vogal da ERC, no seu Conselho Regulador, está aqui.

Uma vista ao Google, permite-nos ver alguns textos recheados de citações de Régis Débray ou Daniel Boorstin ou ainda de edições avulsas da Columbia Journalism Review, sobre assuntos seriados e de séria preocupação com a prática do jornalismo pátrio.

É apontada como um caso raro de alguém que já esteve dentro, de fora e de novo dentro, dos percursos sinuosos dos jornais.

Estala em polémia, de há dias a esta parte e nas páginas do jornal, com um cronista do Público, Eduardo Cintra Torres que aparentemente não gosta da senhora professora doutora em Sociologia da Comunicação, summa cum laude, pelo ISCTE.

Também não gosto, por motivos improváveis e estranhos e por isso, parto deste preconceito para analisar a polémica breve e escrita. Não gosto do percurso; do jornalismo da RTP de 1980, já não gostava. Diz que foi para a RTP pela mão de Soares Louro, um socialista que fez o frete da propaganda, ao governo da época. Não sei como entrou para lá; que qualificações profissionais tinha; que qualidades pessoais apresentava; que motivos determinantes a levaram ao jornalismo e como o praticou durante anos. Não gosto de doutoramentos no ISCTE que me parecem fracos de acordo com standards que aprecio e me lembram os das ESE´s deste país engravatado que se assoa à gravata por engano.

Perante isto tudo e muito que não sei, aprecio pela aparência que leva ao engano, mas serve muito bem à distância crítica. Alimento o inefável preconceito de que esta senhora professora doutora, configura muito do que não aprecio no jornalismo e que tem muito a ver com a falta de independência e o enfeudamento a correntes e amigos do peito. Como não é asim que entendo e aprecio o jornalismo e os jornalistas, por isso, não gosto e nunca gostei de ver o nome da senhora, escrito por aí e sempre associado a uma certa esquerda de tempos modernos e de socialismo engavetado.

Como a senhora professora doutora do ISCTE lê blogs, se isto ler, tem sempre a possibilidade de responder à letra, na caixa de comentários, ao que vou passar a escrito. Presumo que não o fará, porque se julgará num patamar de inatingibilidade, depois de ter passado por onde passou e não irá rebaixar-se a um anónimo que nem o nome todo assina e escreve letras de mabeco, como alvitrou em tempos, um destacado defensor da ERC. Se assim for, tanto pior.

No Sábado, 1 de Setembro, o crítico de televisão, Cintra Torres, escreveu no Público algo que mereceu a resposta pronta de Estrela Serrano, sem que o crítico a citasse particularmente. O que ECT escreveu é duro de ler, mas não personalizado: “ Esta, como outras deliberações da ERC, cria um grande incómodo aos amantes da liberdade: por que raio um organismo do Estado, enfeudado ao Governo, faz relatórios sobre o trabalho dos jornalistas? Note-se que ninguém pediu à ERC este relatório. Mas ela quer vigiar a liberdade. Considerando outras deliberações suas, cheias de intromissão na liberdade jornalística, de manipulações, de verborreia e de um “acho que” intoleráveis para um organismo de Estado, esta é muito factual: apresenta os dados e a sua análise sumária.”

A polémica estalou logo que ECT contestou as estatísticas da ERC que afrma em deliberação que o candidato às eleições de Lisboa, ganhador, afinal tinha sido o mais prejudicado nos favorecimentos dos media. Coitado de António Costa, um verdadeiro piu piu, para a ERC. Esta entidade topou estatísticas, números que o atestam e afirmou-o, sem mencionar afinal o mais favorecido. Como isto parece um gato escondido com um rabo felpudíssimo de fora, no final de contas, uma chico-espertice da ERC, o crítico assinalou-o. Fê-lo de modo pessoal, emitindo uma opinião, sem citar nomes, a não ser a instituição do Estado, imbuída da gravitas de estado e órgão colectivo, cujos Conselho Regulados nem é presidido ou vice-presidido pela dita Estrela que é mera vogal nesta conjuntura consoante.

Na edição de quarta-feira,a vogal da ERC(S), assina artigo de opinião-resposta, personalizada e directa, onde alardeia logo em subtítulo o teor substancial do artigo: ECT é um desonesto Intelectualmente desonesto, entenda-se. Usa também o “again” anglófono para sustentar que é relapso na desonestidade.

Na escolha de adjectivação, de elegância rara numa senhora professora doutora em sociologia, ao longo de três colunas, detectam-se as referências primorosas ao “estilo caceteiro”; à “paixão compulsiva do homem para com a ERC, bem conhecida dos leitores do Público” ( nunca reparei…); “despautério do colunista”; “catilinária do escriba” ; “ Ignorante”; “competente”, com aspas originais; “obcecado”; “conspirativo”; “Independência”, com aspas originais.

Esta adjectivação do escriba, acompanha o tom chocarreiro do escrito da vogal. Chocarreiro, segundo o Houaiss, significa aquela que graceja com desabuso e insolência e que me parece ser o caso, numa evidência desnecessária numa vogal da ERC.

Sem querer entrar na substância do assunto, por além do mais ser de lana caprina e nem perceber por que razão a ERC ocupa o seu tempo com matérias de medição subjectiva de tendências, há desde logo algo que pretendo dizer, em livre exercício opinativo: esta senhora vogal da ERC, veio para o público , em nome da ERC e a título forçosamente pessoal, chocarrear com um crítico, por causa de uma opinião que nem pode ser confundida com acusação, mesmo que dolorosa para a vogal em causa.

A instituição de que faz parte a vogal, é um dos órgãos e supervisão do Estado português. Ler coisas assim, escritas por uma vogal de um desses órgãos de Estado, em defesa de causa própria e desligada de matéria alheia à função, é um abuso, uma vergonha e um autêntico despautério ( este sim), porque revela além do mais a autêntica falta de sentido de Estado que preside naquela instituição.

Um crítico de televisão, num jornal privado, pode muito bem emitir a opinião que entender, e a contestação nestes termos elencados, da vogal do órgão criticado, revela afinal que há pessoas que não sabem ocupar lugares públicos.

Talvez por isso mesmo, ECT, respondeu ontem, quinta-feira, no jornal, à interpelação bizarra, anotando apontamentos sobre o “jardim da Estrela”, numa deselegância consentânea com o escrito da vogal. Que disse de substancial ECT?

Que a vogal Serrano, mesmo com todo o espaço disponível para se dedicar à função, e que é o das deliberações da ERC, ainda vem ao Público arranjar mais letras para a indignidade patenteada e apresenta a conta do ressentimento dos insultos, indignos para quem ocupa um cargo de Estado, escrevendo sobre causa própria. Coincide com a minha opinião. E rebate argumentos espúrios que a vogal acrescentara no artigo do Público, em arremedo de nota explicativa da decisão da ERC. Denuncia ainda um método infeliz da vogal: a divulgação de conversas particulares com fontes. Termina, alinhavando a perplexidade por ver alguém com funções de Estado a comportar-se como se estivesse na praça pública dos jornais.

Apesar da observação, a Vogal da ERC, responde-lhe hoje, outra vez à letra de ontem, no Público e começa logo por reincidir no estrangeirismo dispensável, Titula o escrito como “O “cronista” sniper” ( sic).

Confessa que hesitou em maçar os leitores, com a resposta, mas quanto a mim, leitor, maça nada. Irrita-me, isso sim, ler acusações recalcitrantes de quem se julga em patamares diferentes de avaliação pública. Uma para o público que lê o Público; outra para o diário oficial onde se publicam as deliberações que subscreve. Reincide na acusação de ignorância, de indigência na escrita e “again” ( sic) de insinuação sobre (in)competência e a busca de opbjectivos pessoais e políticos do crítico, defendendo a dama da ERC, com a justificação de que os textos de ECT têm sido mais ofensivos da honra colectiva da instituição do que alguma vez o escrito pessoalizado o foi. Lindo argumento e que revela que esta senhora vogal, está a mais da ERC. E nem percebe porquê. Temo que seja porque o tempo e o modo lhe são favoráveis.

Quando escreve que “é dever de uma entidade pública defender-se no mesmo terreno em que é atacada e difamada”, está a obnubilar duas coisas que revestem, no caso, extrema gravidade: a primeira é que a vogal da ERC não pode escrever pela ERC, e muito menos nos termos e modos como o faz. A segunda, mais grave ainda, é nem perceber que a crítica do público e particularmente dos críticos, é um direito democrático e a resposta dos criticados é institucional. Nunca pessoal.

Fora! E nem é por não gostar da senhora que de facto não gosto. É por ser insustentável que alguém com as responsabilidades de vogal da ERC não perceba que não pode escrever num jornal a defender a instituição, numa causa que lhe é própria e nos termos apontados.

Publicado por josé 15:11:00  

6 Comments:

  1. Fernando Martins said...
    Isto não será o reflexo, puro e duro, do estado a que o Governo actual deixou ir as coisas...?

    Por favor ver:
    http://antero.wordpress.com/2007/09/02/entrevista-infernal/722/
    Carlos Medina Ribeiro said...
    O que se diz neste post parece correcto, mas ECT também não vai por bom caminho ao fazer trocadilhos com o nome da senhora ("O JARDIM DA ESTRELA").

    Mário Castrim dizia que não se deve fazer humor com o nome das pessoas.
    Aliás, essa especialidade já está bem entregue a A. J.Jardim, com a rábula do Sr. Silva.
    josé said...
    É verdade, Carlos Medina Ribeiro. Sócretino...não me parece boa ideia para apodar o putativo licenciado.

    De qualquer modo, é esse o único deslize de ECT e tendo em atenção a especial diferença de qualidade em que os dois escrevem, parece-me suficiente para poder dizer que é despiciendo, no caso.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    É o que fazem as associações de ideias:

    Jardim (da Estrela)/Jardim (da Madeira);

    Castrim (crítico contundente com piada)/ECT (crítico contundente esforçando-se por ter piada)
    josé said...
    Tenho uma crónica de Castrim, salvo erro de 1972 em que escreve sobre um fidalgo que criticou o crítico. O fidalgo era toureiro e apanhou com umas belíssimas chicuelinas do crítico do PC que sabia olhar com objectividade para a qualidade quando a via. Chegou a dizer bem de José Hermano Saraiva.

    Lembrei-me de Castrim quando escrevi em relação a ECT, que era crítico de TV , porque Castrim foi o único crítico que me deu verdadeiro gosto ler, no antigo Diário de Lisboa. Era assim uma espécie de VPV de esquerda.
    lusitânea said...
    Quantos doutores teremos em sociologia e psicologia?
    Quantos teremos a trabalhar no sector privado?
    Quantos "investigadores", pagos pelo Estado, teremos naquelas duas matérias?
    Por estas e por outras é que estamos a derivar para o terceiro mundismo... mas de forma organizada e científica!

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