PSD -- uma clarificação
sexta-feira, setembro 21, 2007
Perante a escassez de qualidade das escolhas (Menezes inconsistente, Mendes pouco mobilizador), é fácil perceber esta enorme indiferença em torno das directas no Partido Social Democrata.
Apesar de não ser o partido no qual habitualmente voto, devo dizer que essa indiferença me preocupa. É que não faz muito sentido que os analistas aumentem o tom de crítica e a impaciência em relação aos tiques autoritários do Governo Sócrates e, depois, olhem com esta indiferença perante a falta de alternativas no maior partido da oposição.
Uma democracia saudável necessita de projectos alternativos, sob pena de cair naquilo em que estamos, precisamente a cair — numa nova Ditadura da Maioria, agora cor-de-rosa, duas décadas depois da ditadura laranja do Prof. Cavaco.
Olhando para outros candidatos à liderança do PSD, desde a sua fundação, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes estarão, certamente, abaixo da dimensão de Sá Carneiro, Cavaco, Durão, Marcelo, Balsemão ou mesmo Fernando Nogueira (o acidente Santana Lopes nem entra nestas contas...)
E há mesmo quem pense que no actual PSD haveria soluções melhores, como Manuela Ferreira Leite, Aguiar Branco, Rui Rio ou António Borges. Mas esse, sinceramente, parece-me ser um dos principais problemas da maneira como se faz política em Portugal: em vez de se valorizar quem vai a jogo, quem arrisca, quem dá a cara em momentos menos oportunos, disserta-se sobre soluções salvíficas de quem nunca se incomodou em arriscar parte do seu crédito político e profissional.
Já critiquei esse fenómeno quando António Vitorino se recusou a avançar para a liderança do PS (três anos depois, continuo a achar que teria sido uma solução bem melhor do que este arrogante PM) ou quando se negou a dizer sim aos apelos para ser o candidato da área do centro-esquerda às Presidenciais de 2006.
Porque a política é «o homem e a as suas circunstâncias», interessa, pois, olhar para as soluções reais e não para D. Sebastiões que se recusam a voltar do nevoeiro.
Num PSD ainda traumatizado pelo desastre da governação Durão/Santana, e com a facção barrosista sem saber muito bem o que fazer (esperar pelo regresso do chefe, que está em Bruxelas, limitar-se a gerir o timing para as presidenciais de 2016?), com os cavaquistas hesitantes entre um apoio tímido a Mendes e um silêncio incomodativo, estas eleições não são, claramente, uma representação normal das principais tendências dos laranjas.
Tenho-me esforçado por conhecer as principais propostas de Menezes e Mendes e assisti ao debate na SIC Notícias. E devo dizer que, na escolha possível que é oferecida aos militantes laranjas e, por consequência, ao País (dado que desta disputa sairá o candidato a PM em 2009, alternativo a Sócrates), Marques Mendes é, claramente, a melhor solução.
Menezes não consegue fugir de um registo inconsistente: vive de soundbytes, de uma constante contradição entre um discurso populista e a proclamação de que não é aquilo que é -- populista; apesar de o seu trabalho em Gaia ser apontado por muitos como positivo (não é bem essa a minha opinião), Menezes não consegue atingir uma dimensão nacional. E, depois, há o seu histórico altamente sinuoso: já apoiou Cavaco, Nogueira, Durão, Marques Mendes e Santana Lopes! Alguém falou em... coerência?
Marques Mendes pode não ter carisma, pode ter exagerado no discurso moralista da «limpeza da classe política» (que acabou por lhe explodir nas mãos com a queda da gestão de Carmona em Lisboa), mas é um político com um percurso consistente e uma longa experiência governativa. Aceitou estar no lugar que ninguém quis (ser líder do PSD logo depois do desastre de 2005) e a verdade é que sobreviveu — se, como tudo indica, bater Luís Filipe Menezes no próximo dia 28, não há razões para se voltar a falar em crise de liderança no PSD até 2009.
Paremos, pois, de imaginarmos soluções milagrosas: as do mundo real são estas duas e, na hora de escolher, Marques Mendes é o único que mostra condições de manter o PSD com os seus traços de partido de poder, interclassista, com bases heterogóneas mas uma elite bem definida. Nesse sentido, e apesar das críticas que recebeu, tenho que dizer que concordo com Paula Teixeira da Cruz quando afirmou que «uma vitória de Menezes seria a debandada das elites».
Apesar de não ser o partido no qual habitualmente voto, devo dizer que essa indiferença me preocupa. É que não faz muito sentido que os analistas aumentem o tom de crítica e a impaciência em relação aos tiques autoritários do Governo Sócrates e, depois, olhem com esta indiferença perante a falta de alternativas no maior partido da oposição.
Uma democracia saudável necessita de projectos alternativos, sob pena de cair naquilo em que estamos, precisamente a cair — numa nova Ditadura da Maioria, agora cor-de-rosa, duas décadas depois da ditadura laranja do Prof. Cavaco.
Olhando para outros candidatos à liderança do PSD, desde a sua fundação, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes estarão, certamente, abaixo da dimensão de Sá Carneiro, Cavaco, Durão, Marcelo, Balsemão ou mesmo Fernando Nogueira (o acidente Santana Lopes nem entra nestas contas...)
E há mesmo quem pense que no actual PSD haveria soluções melhores, como Manuela Ferreira Leite, Aguiar Branco, Rui Rio ou António Borges. Mas esse, sinceramente, parece-me ser um dos principais problemas da maneira como se faz política em Portugal: em vez de se valorizar quem vai a jogo, quem arrisca, quem dá a cara em momentos menos oportunos, disserta-se sobre soluções salvíficas de quem nunca se incomodou em arriscar parte do seu crédito político e profissional.
Já critiquei esse fenómeno quando António Vitorino se recusou a avançar para a liderança do PS (três anos depois, continuo a achar que teria sido uma solução bem melhor do que este arrogante PM) ou quando se negou a dizer sim aos apelos para ser o candidato da área do centro-esquerda às Presidenciais de 2006.
Porque a política é «o homem e a as suas circunstâncias», interessa, pois, olhar para as soluções reais e não para D. Sebastiões que se recusam a voltar do nevoeiro.
Num PSD ainda traumatizado pelo desastre da governação Durão/Santana, e com a facção barrosista sem saber muito bem o que fazer (esperar pelo regresso do chefe, que está em Bruxelas, limitar-se a gerir o timing para as presidenciais de 2016?), com os cavaquistas hesitantes entre um apoio tímido a Mendes e um silêncio incomodativo, estas eleições não são, claramente, uma representação normal das principais tendências dos laranjas.
Tenho-me esforçado por conhecer as principais propostas de Menezes e Mendes e assisti ao debate na SIC Notícias. E devo dizer que, na escolha possível que é oferecida aos militantes laranjas e, por consequência, ao País (dado que desta disputa sairá o candidato a PM em 2009, alternativo a Sócrates), Marques Mendes é, claramente, a melhor solução.
Menezes não consegue fugir de um registo inconsistente: vive de soundbytes, de uma constante contradição entre um discurso populista e a proclamação de que não é aquilo que é -- populista; apesar de o seu trabalho em Gaia ser apontado por muitos como positivo (não é bem essa a minha opinião), Menezes não consegue atingir uma dimensão nacional. E, depois, há o seu histórico altamente sinuoso: já apoiou Cavaco, Nogueira, Durão, Marques Mendes e Santana Lopes! Alguém falou em... coerência?
Marques Mendes pode não ter carisma, pode ter exagerado no discurso moralista da «limpeza da classe política» (que acabou por lhe explodir nas mãos com a queda da gestão de Carmona em Lisboa), mas é um político com um percurso consistente e uma longa experiência governativa. Aceitou estar no lugar que ninguém quis (ser líder do PSD logo depois do desastre de 2005) e a verdade é que sobreviveu — se, como tudo indica, bater Luís Filipe Menezes no próximo dia 28, não há razões para se voltar a falar em crise de liderança no PSD até 2009.
Paremos, pois, de imaginarmos soluções milagrosas: as do mundo real são estas duas e, na hora de escolher, Marques Mendes é o único que mostra condições de manter o PSD com os seus traços de partido de poder, interclassista, com bases heterogóneas mas uma elite bem definida. Nesse sentido, e apesar das críticas que recebeu, tenho que dizer que concordo com Paula Teixeira da Cruz quando afirmou que «uma vitória de Menezes seria a debandada das elites».
O PSD terá que escolher o seu caminho. Se, por hipótese menos provável, escolher Menezes, será, a partir de dia 28, um partido menos confiável e, por consequência, menos apto a voltar a governar Portugal.
Publicado por André 15:19:00
3 Comments:
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não concordo muito com sua visão, respeitando-a.
Quanto ao Mendes, não é só a falta de carisma, acho-o escorregadio, sem mostras de capacidade dadas, e o tal moralismo sabe a falso - um verdadeiro pigmeu politico!
E como falar dos feitos da Ferreira Leite quais as obras realmente feitas para o bem de Portugal?
Para pessoas como eu que sendo democrata, não de esquerda, hoje em Portugal, so com um novo Partido, que use a máxima do Kennedy... "não pergunte o que o País pode fazer por vos, mas sim o que pode fazer por ele."..
Espero viver ainda para voltar a ter o orgulho, que recebi dos meus pais, desse rectangulo...
Boa tarde!