Cândido de Agra, criminologista

Temos visto nas últimas semanas, auto-intitulados criminologistas e até "criminalistas", a perorar livremente nas televisões, sobre casos criminalmente mediatizados, como é o caso da pequena Maddie. Normalmente o discurso de tais "criminalistas", que dirigem autarquias e têm tempo para dar uma perninha nas memórias de há vinte e cinco anos atrás, lembra-me o saudoso dr. Varatojo, com vantagem para este último que nem licenciado era [ nessa área particular, embora o fosse em Economia e Direito, tendo ainda um curso superior de Medicina Legal], mas tinha o senso de apresentar charadas nos jornais e simpatia carismática para aparecer na tv.

Hoje a Visão, vê um pouco mais longe e entrevista um verdadeiro criminologista. Cândido de Agra, dirige a Escola de Criminologia do Porto e refere-se ao caso Maddie, assim:
"Em Criminologia, a análise de um caso é sempre a análise de um sistema. Prefiro falar em "sistema McCann". A criminologia é uma ciência, não especula, trabalha com factos. Provados. E não há factos suficientes para uma análise séria."
O resto vem aqui nesta página que copio da revista, no pressuposto anterior ( fica aqui até reclamação em contrário...e clicando, lê-se a interessante entrevista).


Publicado por josé 19:58:00  

18 Comments:

  1. Ha do que said...
    Fiz a penitência de clicar e ler a interessante entrevista...

    Fiquei com uma dúvida:
    Erudição boçal ou
    boçalidade erudita?
    josé said...
    Beg your pardon?!
    Luís Negroni said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    Luís Negroni said...
    Não batam tanto no pobre homem, no "bolachudo criminalista" autarca. Não perdem uma oportunidade para lhe baterem com quanta força têm. É injusto. Ele até é bastante engraçado. Eu, pelo menos, divirto-me imenso com ele. Embora actue noutro registo, acho-lhe quase tanta graça como ao Larry David. Estou sempre ansioso que ocorra um qualquer crime mediático e sem solução óbvia, para poder desfrutar de mais um momento de excelente humor involuntário de Moita Flores.
    zazie said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    zazie said...
    Mesmo assim, ele também diz uma coisa que não me parece correcta. Fala no "sistema mccann" e diz que tem actores, nos quais inclui a religião e a política, a par dos maccann, da comunicação social, opinião pública, justiça e polícia".

    Ora onde é que estão os dados (sem ser especulação) que possam transformar o simples facto dos mccann serem católicos para se considerar a religião como mais um personagem? e o mesmo para a política- não sendo eles figuras políticas, também não vejo dados que a transformem noutro actor. Podia incluir-se na comunicação social, penso eu.

    Com isto não estou a dizer que até não existam mais estes figurantes ou papéis de primeira, digo é que me pareceu que ele também acrescentou um ponto aos meros factos.
    Ou então não se percebeu a que política se estava a referir.
    josé said...
    Quanto a mim, discordo num ponto essencial: a Criminologia como "ciência".

    Se for entendida como "ciência social", com todas as limitações decorrentes, ainda vá lá.
    Agora, querer à viva força, torná-la aparato de laboratório, não estou muito concordante.

    Em Portugal, a criminologia parece-me uma tarefa ingrata e só possível de exercer verdadeiramente por quem se formou cá dentro, em disciplinas específicas que não podem dispensar a História, a Antropologia, a Psicologia também, mas acima de tudo, a vivência em sociedade comum e com experiência suficiente e a leitura e formação cultural integrada no meio em que vivemos.

    Um criminologista americano, por aqui, de pouco servirá. A realidade que é nossa não se transpõe facilmente para os parâmetros de avaliação dos outros.

    Nós temos alguns, bem específicos. Perceber o fenómeno da criminalidade violenta, no Porto, implica um conhecimento bem preciso e concreto do modo de viver nessa zona e daquilo que levou certas pessoas a fundar ginásios, clubes nocturnos, lojas de contrabando, comércio específico de arte, futebol, claques, actividades marginais ligadas à antiga prostituição na rua Escura, etc etc. etc.

    Um teórico que não conheça esta realidade, vai reproduzir esquemas de livros estrangeiros.
    E isso não me parece que seja criminologia, mas sim, parologia.

    Não sei se é o caso e pela apreciação do assunto Maddie, parece-me que a prudência na análise augura boa recomendação. Mas não conheço. Nunca ouvi. Não sei o que vale.
    zazie said...
    De acordo, José. A minha questão foi mais uma preciosidade no raciocínio dele.

    Porque, ao querer separar o que é da ordem dos factos e o que é da ordem da especulação, depois não pode juntar tudo no mesmo saco e considerar que os personagens são esses. Aí andava perto do que criticava.

    Mas pode ser que tenha interpretado mal e ele se estivesse a referir ao todos os ingredientes que entram na história. Mesmo assim, a religião não tem ingrediente (conhecido)para poder entrar, em pé de igualdade, com os personagens ou com a polícia. A política não sei, porque nem estou a par do que pode ser da ordem factual.
    zazie said...
    É verdade, aquela do nerd foi cá uma coisa.

    ahahahahahah
    josé said...
    O couldn´t help it...ahahaha!
    zazie said...
    ahahahhahaha

    Eu reparei e ainda vi como tentou "tapar"

    ":O)))))
    josé said...
    Lembra-se daquele indivíduo que escrevia no Pastilhas, o Luís e que estava em Santa Fe ou por ali, e que se especializara em Inteligência Artificial?

    Lembra-se da qualidade das discussões que era possível manter com ele e outros?

    Quando me lembro disso, não posso senão lembra-me da palavra nerd, agora. Não há qualquer comparação, com o estofo, a densidade e até a preparação intelectual que se podia ler e agora...

    Percebe o que quero dizer, não percebe?
    zazie said...
    Lembro, pois e ainda nos damos. Claro que percebo. E a diferença, como bem referiu, também está na abrangência do humano.

    Mas nem sei como não me tinha lembrado disso há mais tempo. Andei tão perto... Eu sabia que aquilo não era apenas "escolástica ideológica desencorpada", mas faltava-me o retrato.

    ahahhah

    Foi um flash danado, esse que teve.
    Unknown said...
    O DR. ARTUR VARATOJO TINHA O CURSO DE ECONOMIA E O DE DIREITO.

    PODEM VERIFICAR NO SEU CURRICULUM PUBLICADO A QUANDO DO SEU FALECIMENTO

    OBRIGADO
    josé said...
    Tem razão e fez bem em avisar, porque o postal prestava-se a equívocos e por isso, já está corrigido.
    naoseiquenome usar said...
    (perdão - a correcção não melhorou a "coisa". É que Licenciatura em Criminologia (pelo menos obtida em Portugal) era (só o deixando de ser muito recentemente, não havendo ainda licenciados) materialmente impossível, por inexistente. Podia até fazerem-se pós-doutoramentos, mas não licenciatura)
    josé said...
    Alguém escreveu ou sugeriu abertamente "licenciatura em Criminologia"?

    "com vantagem para este último que nem licenciado era [ nessa área particular, embora o fosse em Economia e Direito, tendo ainda um curso superior de Medicina Legal]"

    Por exemplo, licenciado em Ciências Criminais faria sentido em 1967? E licenciado em Direito, na vertente de ciência criminal?

    O que é importante realçar parece-me apenas o sentido de que o Inspector Varatojo ( que não era inspector)não tinha licenciatura específica nessa área, porque nem existia de facto e só recentemente há no Porto o tal curso.

    Costa Andrade, referia não há muito a circunstância de em Coimbra haver um Instituto Jurídico.
    E até existia até há pouco uma revista de Ciências Criminais, dirigida por Figueiredo Dias, salvo o erro.

    Percebe o que quero dizer, não percebe, apesar de não saber que nome usar?
    naoseiquenome usar said...
    Julgo que o costumo "perceber". O José é que nem sempre quer entender. Uma licenciatura em Direito, apenas, à época, não seria "na área" da Criminologia?! ... De onde provêm os "nossos criminologistas"? Bem há quem diga que direito não é uma ciência, porque não tem um método nem uma técnica. E o José entende por bem chover no molhado.

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