Actuel- Bizot
segunda-feira, setembro 10, 2007
A revista Actuel, fundada em 1970 por Bizot, era um must da então chamada contra-cultura, um conceito fluido sem margem de definição precisa.
A revista, de grafismo fantástico e delirante, com desenhadores do sonho dos comics americanos, paginava textos libertários e de combate ao satus quo. “O capitalismo cheira mal” ( Outubro 1971). Nesse mesmo número, o mesmo Bernard Kouchner, actual ministro de Sarkozy, escreve sobre a revolta nas prisões americanas: “Sabemos bem: cada um deve bater-se por si. Bairros de lata e racismo são também assunto nosso e as morais abjectas do dinheiro, da bófia e das autoridades. Mas poderemos mudar de vida, gritá-lo nas ruas e acreditar nisso, se nos afastarmos dos oito milhões de agonizantes do Bangla Desh sob o pretexto de não terem uma etiqueta política suficientemente nítida? Ou que o acontecimento não seja suficientemente mobilizador.” Aí estava a ideia da Esquerda internacionalista, proletária e tudo.
Nunca admitiriam ser de Direita, embora a marginalização na Esquerda clássica fosse imprecisa e talvez sejam afinal os percursores das novas tendências do idealismo utópico, para além do comunismo e antes do liberalismo. Muitos dos seus representantes conhecidos, tornaram-se reconhecidos pelos poderes actuais do socialismo e até pelo sarkozismo nascente. O discurso actual de Serge July é o melhor exemplo dessa ponte de contradições que atravessou três ou quatro décadas. Não lamenta o desaparecimento do PC em França e admitiu o capitalismo liberal no jornal que ajudou a fundar. Por cá, temos o José Manuel Fernandes do Público, e outros, como exemplos Actuel.
Vieram do trotskismo, do anti-estalinismo, e do anti-capitalismo. Nos anos sessenta, em França, opunham-se ao PC e ao Gaullismo. Amantes de jazz, descobriram depois o rock e foram os primeiros a usar jeans.
Esquerdistas, estes libertários? Peut être, no sentido que Lenine lhes deu: pequenos burgueses que sem gostar do capitalismo, repudiavam igualmente a revolução de Lenine. Em França que não por cá, os seus intelectuais , repudiaram o estalinismo e opuseram-se ao colonialismo e ao capitalismo ainda. O partido comunista nunca lhes deu trela, por isso mesmo, mas ainda assim, herdaram a tradição da grande Esquerda das ideias libertárias, do surrealismo, do anarquismo, numa palavra: da Utopia. E por isso, usaram a sua linguagem codificada, de antifascismos, de lutas contra a burguesia, com todas as palavras emprestadas daquela Esquerda que diziam execrar.
Em França, o seu jornal de sempre é o exemplo do tempo que passa. O Libération, falido, acabou comprado pelos grandes capitalistas e segue a utopia de sair dia a dia, tentando vender o que é preciso para pagar as despesas.
Encalharam agora no reduto da defesa das minorias, das causas minoritárias e sempre à sombra da velha Utopia que Bizot acarinhava. Se a esquerda comunista sonhava com amanhãs a cantar, de que estofo será o sonho destes libertários? Se a verdade da Esquerda marxista, sonhava em transformar o Homem, num novo Ser, será que estes avatares, sonhavam com sucedâneos? Parafraseando um livro de Philip Dick, um autor de ficção científica caro a Bizot: será que os andróides sonham com carneiros eléctricos?
Publicado por josé 22:51:00
Saudações da
Maria
Aliás, ponho dois: Bernard Henry Lévy.
Ça suffit.