Os datchistas


António Vilarigues, do Partido Comunista Português, apresenta-se a cronicar no Público como “especialista em sistemas de comunicação e informação”. Ironia interessante para quem escreve no Público de hoje, assim:

Nos dias 25 e 26 de Abril 1974 uma das preocupações centrais da polícia política do regime fascista foi destruir a lista nominal dos bufos. Eram mais de 25 000 os informadores espalhados pelo país. Como o fascismo apenas reconhecia a existência de cerca de um milhão e meio de eleitores ( sim, é verdade), dava qualquer coisa como um bufo para cada 50 cidadãos “politicamente activos”. Bufos esses de que a PIDE mantinha um arquivo com as suas actividades descritas ao pormenor. Mas onde apenas constavam os seus pseudónimos. Daí o queimar apressado. Bufos que apenas eram conhecidos dos respectivos chefes.” (…) Passado poucos anos, muitos ex-pides e ex-bufos eram chamados pelo regime democrático a integrar serviços da República onde poderiam aplicar as suas conhecidas competências.”

Este especialista em sistemas de informação, indigna-se com os bufos do “fascismo” ( a que recusa chamar pelo verdadeiro nome, salazarismo), o que se compreende e aceita como correctíssimo. Quem gosta de bufos, seja de que espécie forem?! E indigna-se ainda mais com a integração dos malditos no regime democrático!

O que estranha mais, nestes especialistas, - que os há por aí às dúzias- , é a falta de memória de tempos bem recentes, por contraposição aos de há quarenta ou cinquenta anos.

Quem lhes falar de STASI, KGB ou das outras polícias políticas de todos os países de leste, satélites da antiga URSS, descartam do discurso e nada dizem a esses costumes. Não sabem, não ouviram, não leram e não viram, principalmente.

Desconhecem a existência de perseguições políticas claras e ocultas, com base em informadores, dentro das próprias casas e contra membros da própria família, em nome do bem comum e colectivo. Desconhecem as descobertas de papéis rasgados e deitados fora, à pressa, nos arquivos da STASI alemã, agora em recuperação por outros especialistas de informação. Desconhecem o horror e o medo que essas polícias infundiam a toda uma população de milhões e milhões de pessoas.

Não querem saber que estes fenómenos aparentados aos nazis e fascistas ( e também salazaristas, mas com grau e violência bem diversos), ainda subsistiam nesses países, não há quarenta anos, mas nem sequer há vinte! Aliás, nunca os denunciaram, como denunciam sempre que podem e lhes interessa, o “fascismo” e a bufaria nacional corporativista. Foram e continuam a ser soldados do comunismo e por isso, com tal, defendem a sua pátria ideológica, para além da coerência e racionalidade. Nunca se arrependeram de nada, tirando os arrependimentos nos Congressos, para mudar de linha, continuando no mesmo rumo, ao socialismo que cantaria dali a dias felizes. Fariam tudo de novo, do mesmo modo e perseguiriam sem piedade, os burgueses que se opõem ao povo. Basta ler O Militante, para se entender o enquistamento ideológico que ainda persiste, alheado dos KGB´s e das STASIS, virados meros intrumentos da propaganda anti-comunista.

Inútil se torna, mostrar-lhes a incoerência argumentativa, mesmo com documentos na mão e à solta na net que lhes provam à saciedade que as polícias politicas dos regimes em que acreditaram e continuam, aliás, a acreditar ( o que é ainda mais grave), foram incomensuravelmente mais cruéis, mais eficazes, mais criminosas, mais mortíferas e capadoras de direitos e liberdade, do que jamais a PIDE ou a DGS o foram.

Uma estranhíssima amnésia destes especialistas em sistemas de informação, afecta-os desde sempre.

Torna-se por isso ainda mais estranho que continuem a ocupar espaço público nos media, sem que alguém lhes faça notar que andam nus, nas suas datchas ideológicas.

Aditamento:
A propósito de um comentário que referia os arquivos da PIDE enviados pelo PCP para Moscovo, logo após o 25 de Abril, é preciso escrever preto no branco que as denúncias de Mitrokhin, num livro prefaciado por Pacheco Pereira, relativas a esse desvio de património arquivístico, em favor de uma potência estrangeira, é um escândalo e uma infâmia que os Vilarigues preferem ignorar.
De uma parte desse livro pode ler-se:
"Portugal ocupa uma pequena parte no arquivo de Mitrokhin e quase toda centrada nos acontecimentos de 1974-5. (...)
[No âmbito de operações soviéticas verificadas em Portugal]... avulta o envio, em 1975, para Moscovo de uma parte significativa do arquivo da PIDE/DGS. (...) Para compreendermos a importância deste envio de documentos (...) temos de ter em conta que o âmbito de acção da PIDE/DGS era incomum nas polícias dos países fora da esfera soviética e muito semelhante ao do próprio KGB. A PIDE era uma polícia com funções instrutórias, com controlo de fronteiras, com controlo de actividades paramilitares. Era a interlocutora portuguesa de muitas outras polícias diferenciadas e serviços de informação estrangeiros. Era igualmente uma polícia política de um pais da OTAN (...)

Entre o material que receberam conta-se, sem dúvida, tudo o que diz respeito às relações da PIDE com os serviços de informação ocidentais, em particular a CIA, o FBI, os serviços ingleses e espanhóis, sul-africanos, rodesianos. Embora a PIDE/DGS não recebesse informação do mais alto grau, a não ser numa estrita "necessidade de saber", e mesmo assim muitas vezes na base de contactos pessoais com agentes determinados, recebia relatórios de síntese e pedidos de informação que revelavam os conhecimentos e os interesses dos serviços ocidentais. Para o KGB iria ser precioso.
É preciso não esquecer que em 1975 os arquivos da PIDE não eram arquivos
"mortos" com interesse apenas para os historiadores, mas sim arquivos com grande potencial operacional que permitiam tudo: desmascarar informadores, identificar infiltrações, fazer chantagem, etc, etc. (...)".

Imagens: os arquivos da STASI. A segunda imagem mostra o trabalho de recuperação de papéis destruídos pela polícia política, logo depois dos acontecimentos de 1989.

Publicado por josé 11:44:00  

7 Comments:

  1. zazie said...
    Não só ignoram tudo isso como mantêm os mesmos tiques. A esquerda é censora, por natureza. E andam para aí a importar uma série de folclore politicamente correcto e neologismos que usam com o mesmo fim- lançar anátemas sobre as pessoas, estigmatizar quem não finge que adoptou esses novos dogmas, perseguir pessoas pelo que pensam.

    Esta palhaçada dos "ódios e fobias" da praxe, a ser colocada em paralelo com a pedofilia, incentivando-se demúncias anónimas de homofobias e racismos é um exemplo.
    zazie said...
    E o José diz bem: acreditaram e continuam a acreditar nesses regimes.
    lusitânea said...
    O tipo poderia ter acrescentado que apesar dessas "destruições" de ficheiros os "seus" com os habituais "podres" foram enviados para Moscovo...
    Eu também não entendo como é que em nome da liberdade se dá num jornal dum capitalista oportunidade de se verter veneno contra a sociedade.Dizendo mentiras e meias verdades.
    Dr. Assur said...
    A bem da democracia e do politicamente correcto, vamos refazer a nossa opinião sobre o Islão.

    Evidentemente que nem todos os crentes do Islão são terroristas. Entre os que não são, podemos destacar, sem qualquer dúvida ou margem de erro, os que já morreram e encontram-se correctamente sepultados debaixo de uma boa quantidade de “terra”, afastando assim qualquer hipótese de estarem armadilhados e explodirem quando estiverem a ser amanhados para o devido enterro. Outros há, que eventualmente não o são, e que são facilmente distinguidos entre os demais, pela vastíssima barba mal aparada e pela fauna que por lá habita. Fauna essa que, invariavelmente devido ao seu farto número, tomba aos montes no chão por manifesta falta de espaço vital para montarem a sua condigna habitação.

    Existe também um grupo deles, fora de suspeita, que se dedica à musica, sendo conhecidos pelos "Carrapatos", "Bicho-de-pé" ou "Piolhosos", dado que a proliferação destes parasitas pelo corpo todo para além da barba, provoca-lhes, por via da comichão, uma agitação digna de um tocador mexicano de maracas ou de um tocador de cavaquinho brasileiro. Diriamos até que os mais animados, são frequentemente contratados como dançarinas do ventre (depois de devidamente escanhoados, bem perfumadinhos e apaladados com um travozito a azedo). São verdadeiros artistas cujos extraordinários espectáculos acabam, invariavelmente, com um lindo fogo de artifício, capaz de “deitar qualquer casa abaixo”.

    Os restantes são terroristas e distinguem-se facilmente pelo avantajado ventre, que serve de depósito para material pirotécnico. Encontram facilmente emprego nas festas do interior durante o verão. Entre estes, os menos perigosos, são aqueles que fazem demonstrações únicas de como fazer explodir um cinto de explosivos.

    No escalão dos mais perigosos, distinguem-se os inteligentes, cujos estudos superiores lhes permite tirar a carta de condução, possibilitando a condução de carros pejados de material pirotécnico. É geralmente este grupo que consegue produzir os espectáculos de fogo mais espectaculares. Têm, geralmente, emprego garantido na demolição de prédios e nos fogos presos das festas de passagem de ano. Destes, os menos afortunados, só conseguem empregar-se como "homem bala" nos circos. Os restantes, por falta de habilitações, deslocam-se a pé ou à boleia. Adoram viajar nos transportes públicos, frequentar cafés e supermercados. Raramente conseguem empregos de jeito, dada a sua manifesta falta de jeito para fazer seja o que for como deve ser. Há no entanto alguns casos raros, que deslumbrados com o sucesso dos seus actos, acabam por não conseguir resistir às emoções e se finam alarvemente, sem conseguirem distribuir os merecidos autógrafos e gozar a popularidade atingida.

    Os líderes, homens cultos, são frequentemente confundidos com os vulgares políticos democráticos. Prometem várias vezes finar-se alegremente no meio de uma explosão de cores divinais mas acabam sempre, por manifesta falta de sorte, escapar incólumes ao prometido.
    Anónimo said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    Anónimo said...
    Só me apetece dizer, hoje em dia, por todo o lado há BUFOS (Bigilantes da Unidade
    Fiscalizadora dos Opositores ao Sócrates).
    J.M.P.O said...
    Este comentário foi removido pelo autor.

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