Faz agora 40 anos
sexta-feira, junho 01, 2007
Este disco faz hoje quarenta anos. A música que ele contém é um elixir de juventude. Nestas quatro décadas, todas as listas dos melhores da música popular, o incluem nos lugares cimeiros, por vezes no topo. Porquê?
Em 1 de Junho de 1967, os Beatles, lançaram oficialmente, na Inglaterra, Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band.
O disco contém boas canções, algumas delas fantásticas mesmo ( She´s Leaving Home e A day in the Life), mas antes disso os Beatles já tinham composto outras ainda mais fantásticas: In My life, Here There and Everywhere, Yesterday , só para citar algumas, entre outras que viriam nos anos seguintes ( Something, Strawberry Fields Forever).
O que torna tão especial este álbum dos Beatles ?
O conceito sonoro, gráfico e temático. Sgt Peppers, é, provavelmente e de acordo com especialistas ( Mikal Gilmore, Rolling Stone, 23.8.1990), o primeiro álbum gobalmente conceptual da música pop, elevado por isso à categoria de arte maior.
Na sonoridade, os Beatles de 67, já não faziam espectáculos ao vivo e permitiram-se experimentar sonoridades, na tonalidade da época. O LP foi gravado entre Dezembro de 66 e Abril de 67 e Lennon terá dito ( citado pela revista Guitar World de Junho de 2007) que se não tinham que se apresentar ao vivo, então poderiam fazer música que não seria necessário tocar ao vivo. A inovação sonora de Sgt Peppers, insere-se numa altura de experimentalismo já encetado pelos próprios Beatles ( em Revolver) e por outros grupos: Beach Boys na América, Moody Blues e Pink Floyd, na Inglaterra, são os mais conhecidos.
O conceito sonoro tem ainda uma particularidade: os instrumentos tomam dimensões diferentes das convencionais e mostram processos criativos que nos anos seguintes permitiriam novas experiências no chamado rock progressivo.Sgt Peppers é uma espécie de amostra das novas correntes da música popular que ainda viriam a revelar-se nos anos vindouros.
O conceito gráfico também inovou pela mensagem da capa, criação original de Peter Blake e que inspirou imitações, a mais célebre das quais, foi a de Frank Zappa, logo no ano seguinte ( em We´re only in it for the Money). O processo gráfico está explicado pelo seu criador original no texto da imagem que se mostra, extraído da revista inglesa Mojo de Março de 2007.
O tema geral do Lp é um pot pourri de ideias várias e dispersas, juntas por John Lennon e Paul McCartney, ajudados pelos engenheiros de som da EMI, particularmente Geoff Emerick e o produtor George Martin.
Geoff Emerick, em entrevista à Mojo declarou que o processo criativo e de gravação do disco, em 67, foi sempre vivido num ambiente diário de “groundbreaking”, de inovação. Por exemplo, na primeira canção que foi gravada para o disco, Strawberry fields Forever, os Beatles ( Lennon e McCartney) usaram pela primeira vez o Mellotron.
As histórias sobre Sgt Peppers e os Beatles e a gravação do disco, estão disponíveis na net, à distância de alguns clicks. Click in it!
Imagens tiradas da Mojo de Março de 2007 e de um qualquer sítio não identificado na net
Aditamento em 2.6.2007:
Um crítico de música do Expresso, na revista Actual da edição de hoje, 2.6.2007, afirma logo a abrir o seu artigo sobre o álbum do Sargento, que Sgt Pepper´s lonely hearts club band, dos Beatles, não foi o primeiro álbum conceptual da pop moderna e nem sequer o título de conceptual merece. O título de primeiro pertence, segundo o crítico, a Freak Out de Frank Zappa, saído em Julho de 1966.
Bem, o primeiro duplo LP da música popular, até poderia ter sido, não se dera o facto de em Maio ter já saído Blonde on Blonde, de Bob Dylan, igualmente considerado por muitos como …o primeiro álbum-conceito da música rock
O crítico João Lisboa, firmado em fontes muito próprias, mas não citadas, continua, afirmando que a ideia de criação conceptual da música da banda dos corações solitários do sargento pimenta, foi abandonada logo a seguir à segunda canção do disco ( With a little help from my friends) e a reprise quase final é apenas a desesperada tentativa de salvar o tema inicial.
Continua, negando e renegando qualquer inovação técnica e de tomo, no disco, quanto à gravação, exemplificando anteriores novidades sonoras, apenas repetidas agora em Sgt Pepper´s e sem sombra de inovação sonora audível ou perceptível.
Nesta vertente de análise técnica, quem melhor do que o próprio engenheiro de som do disco, para falar sobre as novidade ou repetições copiadas? Geoff Emerick, na entrevista citada, à revista americana Guitar World, é específico:
Juntamente com George Martin e os Beatles, tinham concordado em não repetir técnicas já usadas em discos anteriores: nada de vocais repassados em Leslies, nada ao estilo de “tomorrow never knows”- tape loops, vocalizações ou guitarradas de trás para a frente. “Nunca fizemos a mesma coisa duas vezes” disse Emerick. “Teria sido o modo mais fácil uma vez que estávamos apostado em algo, mas nunca o fizemos”.
A tarefa, segundo o mesmo, revelava-se ainda mais complicada na medida em que os instrumentos usados pelos Beatles eram os mesmos de sempre- guitarras acústicas Epiphone Casino e Gibson J-160; o baixo Rickenbacker e a viola rítmica Fender Esquire. Apesar do equipamente de estúdio, na Abbey Road da EMI, os discos Revolver e Sgt Pepper´s soam de modo bem diferente, particularmente devido ao cuidado técnico colocado por Emerick na gravação e refinação de métodos já usados em Revolver. A gravação dos sons mais baixos, com maior evidência, foram uma das preocupações que se torna audível no disco. No tema final, A day in the life, estas particularidades são notórias a ouvidos atentos. O baixo de McCartney e principalmente a sonoridade da bateria de Ringo, tem uma potência nunca antes ouvida, segundo Emerick, assim como outras particularidades.
Voltando ao início: João Lisboa já ouviu bem Freak Out de Frank Zappa? Começando na primeira composição, das 15 que seguem, onde vai buscar sons que antes não tinham sido ouvidos, ou instrumentos sem paralelo na música popular da altura?
Talvez nas três últimas composições do disco, mas que afinal não passam de colagens sonoras de proveniência variada, também ouvidas de modo mais estranho e composto, em Tomorrow never knows, dos Beatles de 1966
Com certeza que pode ir buscar o modo original e idiossincrático de cantar e recitar de Zappa e músicos de companhia, mas instrumentação ou experimentação instrumental, não arranja de modo igual.
Todas as composições de Freak Out, também um duplo álbum, saído nos USA, em meados de 1966, recitam as raízes musicais de Zappa, nesse tempo, sem grande inovação. E sem Varese. As canções e temas, dispersam ideias sem intervenção unificadora. Um tema como Anyway the wind blows, é pop e a seguir a I´m not satisfied aparece uma das composições típicas de Zappa, You´re probably wondering why i´m here, com estrutura repetida vezes sem conta nas dezenas de álbuns que apareceram nos trinta anos posteriores,mesmo após a morte do compositor. A inovação mais impressionante, no entanto, é a vocalização onomatopaica e o uso de percussão específica, com marimba sumida e vibrafone improvável. A guitarra passa em som distorcido, derivado de pedais variados e nada mais.
A composição que aparece a seguir, Trouble everyday, bebe todos os acordes na música de rythm´ and blues misturado com a dicção folk de Dylan e anuncia os temas de Apostrophe (´) e Over nite sensation, que aparecem em meados da década seguinte, tal como a estranha personagem Suzie Creamcheese aparece em diversos discos seguintes, tal como outros freaks.
Chegará isso para conferir o estatuto de álbum conceito ao disco de Zappa, dando-lhe o primeiro lugar na lista dos concorrentes? Não parece. O primeiro disco de Zappa, sem desprimor para o compositor, um dos que mais aprecio e mais importantes da música rock, não contém uma única composição de referência ( talvez Trouble Everyday faça essa despesa) que possa ouvir-se ainda hoje do modo intemporal com que se ouvem outras obras similares da mesma altura, incluindo obviamente Sgt Pepper´s. E quando à noção de concept-album que se lhe possa colar, talvez se possa dizer o mesmo de todos os discos de Zappa, sem excepção, devido à especial idiossincrasia do compositor e da sua noção particular de continuidade conceptual.
Tudo isto remete no entanto, para um aspecto interessante da crítica musical, em Portugal e algures. Criticar discos, música e costumes de época, deveria relevar de um exercício muito pessoal, devidamente afastado das consultas na net, abundantes, redundantes e enganadoras. A escrita deveria aparecer credenciada por saberes específicos ou estilo inconfundível ( a diferença que existe entre um MEC e um JL, por exemplo), de modo a evitar aquilo que o próprio Zappa dizia dos críticos de jornal da época: pessoas que não sabem escrever e que entrevistam pessoas que nada sabem dizer para serem lidos por pessoas que nem ler sabem.
Em tempo:
Para ler uma crónica em termos escorreitos e com o saber próprio de um fã dos Beatles, deve ir aqui ao sítio do Rato, onde Luís Pinheiro de Almeida, assina e ilustra o postal dedicado à efeméride. Pode ver-se o disco original e algumas considerações sobre a gravação.
Publicado por josé 14:19:00
Segundo a lenda, Paul teria morrido em um acidente de carro em 1966 e seu corpo teria ficado irreconhecível. Os Beatles então procuraram um substituto que fosse semelhante a Paul. Billy Shears ou Willian Campbell foi escolhido (Billy é o apelido usado para o nome de William). E após a substituição, os Beatles teriam começado a espalhar pistas nas capas de seus discos e em suas canções para que os fãs descobrissem o fato.
Dentre as mais famosas pistas, além da capa de Abbey Road, estão: a canção "A day in the life" do disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band de 67, John canta: "He blew his mind out in a car, he didn't notice that the lights had changed" ("ele estourou a cabeça em um carro, ele não notou que as luzes tinham mudado") uma provável referência à morte acidental de Paul.
No mesmo disco, na canção "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", a letra diz: " So let me introduce to you the one and only Billy Shears" ("Deixem-me apresentar para vocês, o primeiro e único Billy Shears"), no final da música "Strawberry Fields Forever", do álbum "Magical Mystery Tour", pode-se ouvir "I buried Paul" ("Eu enterrei Paul"). Paul após 66, apareceu com uma cicatriz, o que foi justificado pelos intérpretes da lenda como uma cirurgia plástica que Billy Shears teria feito para aumentar a semelhança com Paul. Na verdade Paul sofreu um acidente de moto que o deixou com a cicatriz.
Mas Strawberrys Fields Forever é anterior a Sgt. Pepper (do mesmo ano mas em Fevereiro). Curiosamente, foi o 2.º single dos Beatles (a seguir a Love me do, de 1962) a não atingir o 1.º lugar de vendas (ninguém hoje se lembra de quem era o 1.º).
Acabou por não entrar neste disto, apesar dessa circunstância.
Ainda não escrevi tudo sobre o assunto.
Assim que tiver mais tempo ( mais logo ou amanhã), vou escrever noutro sítio sobre a minha experiência pessoal na descoberta da música dos Beatles.
Começou algures em 1968-69, com a audição de Ob la di ob la da.
Fico à espera.
O Sgt Peppers é sem dúvida fabuloso mas, ainda assim, o meu preferido é o Abbey Road, se é que se pode optar.
No Sgt. Peppers encantava-me o tema Within without you, de George Harrison com a participação do Ravi Shankar, pareceria que levou este Beatle a converter-se literalmente ao mundo zen e oriental.
Não cheguei a ter o vinil de maneira que já não me apercebi do fantástico pormenor da agulha que saltava no fim do 2.º lado do disco. Já para não falar daquele da frequência só audível por caninos. De facto sempre passei aquele bocado em silêncio ...