o caso DREN, e a 'boa' moeda
quarta-feira, maio 23, 2007
Enquanto o Ministério da Educação continua a achar que na DREN
não se passou nada de anormal e inusitado, já, no blog onde escreve o companheiro da Ministra da Educação, Pedro Adão e Silva, um ferrista que se a si próprio se vê como uma das mentes brilhantes que ululará no PS pós-Socrático, resolveu imitar Goebels, na tentativa de contextualizar, e relativizar, o caso.
Começando pelo fim, numa prosa intitulada 'Morder o Isco', Pedro Adão e Silva 'reduz' a questão a uma alegada armadilha, uma 'esparrela fácil' (sic) na qual a Torquemada de saias, directora regional, da DREN terá caído, por 'excesso de zelo e falta de inteligência' (sic). Para Adão e Silva o que tivemos na DREN foi mais uma cabala - a directora-regional terá sido 'provocada, provavelmente a sua liderança afrontada de modo sistemático'. Depois, "a história do Professor destacado na DREN que foi suspenso e recambiado para a escola de origem (onde, parece, não estava há dezanove anos – o que não deixa de servir para nos questionarmos sobre o fenómeno dos professores destacados para os serviços centrais e regionais do Ministério da Educação) tem todo o ar de estar mal contada. Basta saber que muitas das direcções regionais dos Ministérios são lugares de poder partidário por excelência, para perceber que o que esta história esconde é provavelmente uma luta entre novos e velhos poderes nos serviços. A este propósito, não é nada irrelevante que o professor em causa tenha sido até há pouco deputado pelo PSD" (sic).
Ora, nestes nacos de proza está todo um programa, todo um retrato daquilo que vai quer na cabecinha de Pedro Adão e Silva, quer na de uma boa parte do 'povo de esquerda' que nos pastoreia.
É que há de facto, e por estes dias, uma diferença de fundo, estrutural, entre a 'esquerda'/PS e a 'direita'/PSD em Portugal, uma diferença que vai muito para além de questões ideológicas. É que se no PSD há tentativas periódicas de 'mexicanização' do poder, mas onde ecumenicamente acaba por haver lugar para todos, de todas a cores, e mais alguns, já no PS o que há, nos últimos anos, e na pior tradição jacobina da Esquerda, é uma tentação 'afonso costista', de fatwas eugénicas e sistemáticas, contra, não só quem não é do PS, mas sobretudo contra quem não pensa da mesma forma que o (chefe do) PS. ("Quem não é do PS, leva!")
Tivesse Pedro Adão e Silva um módico de princípios, um módico de honestidade intelectual, não padecesse também Pedro Adão e Silva do mesmíssimo 'excesso de zelo e falta de inteligência' (sic) de que acusou a responsável da DREN de padecer e a conclusão que teria imperiosamente de tirar era uma e só uma - o professor da DREN não foi acusado por rigorosamente nenhuma das razões que Adão e Silva aventou, foi acusado por ter proferido um comentário sobre a licenciatura faxeada de Sócrates. São estes os factos, inilúdiveis, confirmados aliás pela tal Torquemada de saias, a qual, abone-se, não se escuda em quaisquer eufemismo ou subterrefúgio. Tudo o resto é assessório e só serve para esconder o essencial - um cidadão português foi perseguido por puro delito... de opinião.
Pedro Adão e Silva bem pode dizer que é de 'esquerda', não pode é dizer é que é, ou que sabe o que é, um democrata! Soubesse-o, e certamente saberia que, numa democracia, em qualquer democracia, mesmo de 'esquerda', somos, temos que ser, iguais, perante a Lei, perante a sociedade, perante o Estado, quer sejamos, ou tenhamos sido, deputados do partido A, B, ou C. Soubesse-o e não faria a figura pindérica que fez.
Em bom rigor, nada distingue Pedro Adão e Silva, o silencioso Ministério da Educação, a mole de dirigentes e deputados do PS que apareceram a contextualizar a questão e a falar no 'respeitinho' devido ao 'Grande Engenheiro' (faxeado), a própria Margarida Moreira - a Torquemada de saias da DREN, de alguém que há cerca de dois milénios 'conquistou', na horizontal e na vertical, o seu 'lugar' na história - Fulvia Flacca Bambula - uma 'senhora', e 'política', romana cujo maior feito, foi o de mandar cortar a língua a Cícero, depois deste assassinado, para depois a retalhar, à língua, com ganchos dourados do cabelo.
Publicado por Manuel 10:58:00
Mas não queria deixar passar em claro o último número par-a-lamentar com que fomos brindados:
“O PS já fez saber que não vai permitir que a ministra da Educação seja questionada, enquanto estiver a decorrer o processo disciplinar do professor.”
Este argumento dos atentos, veneradores e obrigados deputados do PS, pretende provar demasiado e é insustentável.
Mesmo na pendência do processo disciplinar, a Ministra da Educação, que tutela a tal DREN, deve explicações imediatas ao país, no mínimo sobre os motivos da inusitada cessação da requisição do professor arguido naquele processo.
É que, das duas uma: ou há razões comprovadas para a cessação da requisição, no momento em que ocorreu, que sejam totalmente alheias ao objecto do dito procedimento disciplinar pendente – razões essas cuja natureza e oportunidade terá de ser muito bem explicada... – ou, não sendo esse o caso, a cessação da requisição poderá configurar, materialmente, uma actuação ilegal dos serviços dependentes da Senhora Ministra, por se tratar de uma sanção atípica , aplicada à revelia de procedimento adequado ou, até, de uma actuação em desvio de poder, visando frustrar o efeito prático de uma decisão judicial no âmbito de um procedimento cautelar a que o arguido – ao que se noticia – terá recorrido.
Dúvidas desta natureza, sobre a actuação do Ministério da Educação, em matérias que envolvem direitos fundamentais, não devem deixar de ser rápida e cabalmente esclarecidas no Parlamento pela titular da pasta.
Não basta andar de cravo ao peito no ofício anual do 25 de Abril.
Mas a evolução da rábula está a ter uma outra consequência proveitosa:
Numa altura em que o PS (nos) pede a maioria absoluta para a CML, calha muito bem (por ser extremamente pedagógica...) esta exibição do que pode fazer uma maioria absoluta.
É deixar. Não vale a pena criticar, é gozar e ajudar a afundar mais. Quando não há vergonha na cara, só assim.
E não é só esse PAS, são os militantes xuxas. Aqui na blogosfera já apanhei uma série deles a branquearem coisa. Um (o João Paulo Pedrosa) até lhe chamou historieta de silly season.
Numa escola que conheço, uma psicóloga que todos os anos tem sido contratada ao abrigo de um apoio financeiro qualquer, que desconheço, após ter sido vista pelo(a) presidente do concelho executivo em campanha autárquica numa caravana dum partido diferente do seu, a última, fez questão de relembrar aos colegas, aquando da renovação do contrato da visada que se dependesse dela, a psicóloga não seria novamente contratada. Só o foi por pressão da maioria dos docentes que informaram claramente do trabalho meritório da psicóloga junto dos alunos da escola.
De qualquer forma, que a historieta está muito mal contada e de inocente não terá muito, salta à vista, independentemente do "excesso de zelo" da senhora.
Compreende-se que pode ser incómodo estenderem-nos um lenço quando estamos a salivar.
Para contextualizar, utilizando a linguagem da casa, também seria de ter o Manuel como "companheiro" do "até há pouco deputado do PSD", não é Manuel?
http://raim.blogspot.com/2007/05/sr-directora.html