A imprensa na net
sexta-feira, maio 18, 2007
A revista francesa L´Express , desta semana, entrevista o director do jornal Le Monde, diário parisiense que vende 320 000 exemplares. Jean-Marie Colombani, à frente do jornal, há vários anos ( os mandatos são de seis anos), acha que a Net será a fonte de informação privilegiada, num futuro próximo. No entanto, acredita numa informação de qualidade, fornecida em ritmo diferenciado, em suportes distintos e por isso não teme o futuro.
A entrevista contém uma passagem assinalável:
L´Express: Jornais em crise, jornalistas rejeitados pela opinião, Le Monde, à semelhança de outros órgãos de imprensa, não estará a pagar vários anos de derivas ideológicas?
Jean-Marie Colombani:
A imprensa paga sobretudo a fractura existente e que continua a existir entre o país e as suas elites, fazendo os media, parte da mesma embalagem-oferta que inclui as instituições e os poderes.
A imprensa, que sem dúvida não andou bem , no passado, ao deixar-se absorver por aquilo que François Miterrand chamava a “classe político-mediática”, por vezes esqueceu que é mais um contra-poder, do que um poder.
Alguns dentre nós, nesta profissão, cederam sem dúvida a esta vertigem. Mas este erros devem conduzir-nos a uma imperiosa exigência de qualidade, e também a um dever de modéstia. A clivagem que vocês evocam, exacerbou-se de modo assinalável, por ocasião do referendo sobre a Europa, em 2005, em que se viu uma parte dos media desligada da opinião. Quando apesar disso…a imprensa tinha anunciado que o “não” seria uma catástrofe estratégica e diplomática. O “não” ganhou e o facto é que foi um pouco o que se passou na França e também na Europa. Também, não estou a ver em nome do que é que deveríamos renunciar à afirmação do que pensamos, para ultrapassar simplesmente uma opinião que desejaria que escrevêssemos outra coisa.
Assim como não será preciso entender como perdas e danos, o grande movimento de apoio à magistratura pela conquista da sua independência: uma revolta que a imprensa, e o Le Monde em particular, acompanhou, desde meados dos anos 90.
Achamos na altura que este combate era legítimo e democrático. Também aí, apesar das críticas, acho que não devemos renegar isso. A ajuda que a imprensa prestou aos magistrados aquando dessa batalha é algo de que nos devemos orgulhar.
Tomemos o caso singular da notícia hoje veiculado pelo Expresso online, acerca do chumbo do Tribunal Constitucional, à data designada pelo Governo Civil de Lisboa, para as eleições locais.
O jornal online, refere a notícia simples e acrescenta que houve apenas um voto contra. Não diz quem foi o relator; qual o conteúdo do acórdão; qual o teor do requerimento e quem o apresentou; que motivações existiam para tal; quem será beneficiado com tal decisão; quem sairá prejudicado e porquê; quem apostou nesta decisão e quem apostava na contrária e que contexto preciso permite que isto aconteça.
Toda esta informação pode ser dada em lina, na Net, mas é na imprensa que sai melhor, com comentários e desenvolvimentos vários.
O problema é apenas um, neste caso: a qualidade da informação e a isenção e profissionalismo de quem a apresenta.
Publicado por josé 21:49:00
abraço cr
http://norteamos.blogspot.com/2007/05/o-verdadeiro-interesse-de-antnio-costa.html
Não descarto nada. Só referi o caso como exemplo do que de positivo tem a Net e do que ainda falta à Net.
Falta o desenvolvimento da notícia que a imprensa pode apresentar com pormenores.
Dirá: um jornal online pode sempre substituir o de papel, nesse aspecto, com a vantagem de a informação poder ser actualizada ao minuto.
Neste caso, porém, tal como acontece com as eleições ( como as francesas), a informação escrita e desenvolvida, tem outro sabor, tal como acontece com a entrevista de Colombani.
A informação imediata, pode ser dada pela net, como pode ser dada pelas tv´s ou rádios.
A imprensa tem outro modo de abordar o assunto, até graficamente, o que a no meu caso considero importante e fundamental.
Algumas publicações online, no entanto, por vezes superam as revistas correspondentes em papel.
Costumo ler a Vanity Fair e relativamente ao tipo de letra e arrumo gráfico dos artigos, prefiro por vezes a Net. O mesmo não acontece com as fotos e ilustrações que resultam muito melhor com a alta resolução do papel.
Há revistas, como a Rolling Stone dos velhos tempos ( anos setenta) que pura e simplesmente seriam impossíveis de resproduzir na Net e isso não é dizer pouco porque esta revista até tem um site muito bem feito.
Assim, a linguagem da Net é mais específica e diferente da do papel.
Talvez seja isso que COlombani refere quando diz que os media podem compatibilizar-se e o progresso da Net não significa necessariamente o ocaso da imprensa.
Tal como aconteceu noutros media, aliás. A tv não acabou com o cinema. A imagem não acabou com a escrita e as rádios conseguiram numa certa altura, abranger públicos muito variados e serem muito interessantes.
Para Colombani, a Net pode inclusivé ser um motor de renascimento da imprensa.