Vergonhas puristas
quinta-feira, abril 05, 2007
O jornal Público de quarta-feira, apresenta uma página inteira, assinada por Ricardo Dias Felner ( que Jorge Coelho, na Quadratura do Círculo,da SIC-Notícias, disse conhecer muito bem), na qual se apresenta um fenómeno dos tempos modernos: o artigo sobre José Sócrates, na enciclopédia on-line, Wikipedia, anda em bolandas escritas e reescritas, por causa da sua…licenciatura e habilitações académicas.
Há quem tenha escrito “detentor de um diploma de licenciatura”, em contraposição à simples menção de “licenciado”.
É de convir, excepto para os apaniguados que acham tudo isto um “purismo mesquinho”, que esta situação é já patética, precisa de esclarecimento urgente e não tem paralelo na Europa dos doze, para não falar em mais.
Aproximando-se a passos largos a próxima presidência da EU, afigura-se interessante saber e mencionar quem são alguns dos primeiros-ministros europeus e que perfis académicos apresentam e se também eles passam por estas vergonhas.
Não é a vergonha de não se possuir um título académico; nem é a vergonha de não poder emparelhar com os parceiros de liderança, mostrando pedigree. É mais a vergonha de ser obrigado a rasurar e corrigir as qualificações oficialmente colocadas, por força da opinião pública que aponta a nudez crua da verdade, sob aquele manto diáfano de que todos já ouviram falar. É a vergonha da ausência de esclarecimento oportuno que aumenta a desconfiança e uma noção difusa de que algo se anda a tramar para abafar os meios onde a liberdade de expressão ainda não é um mito. As sarjetas já estão esquadrinhadas e os limpadores prontos.
Não deve existir paralelo por essa Europa fora, pelo que nessas chancelarias da Europa dos ricos, já nem sei o que dirão de nós e de quem assim nos envergonha. Pobres já somos e ainda o ficamos mais. Porca miseria, diria um italiano neo realista. Puta que os pariu!, diria o Zé Povinho.
Para ver o retrato explicado, a tarefa é facílima e uns poucos clicks, levam quem quiser, à informação desejada, toda retirada da Wikipedia. Bastam as palavras "primeiro ministro wikipedia" e teremos logo a entrada franqueada para todas as informações relevantes.
Assim, na Grã-Bretanha, Tony Blair, passou no Fettes College e frequentou Oxford e de lá saiu com o canudo vulgar.
Na Finlândia, Matti Vanganen, orgulha-se certamente do seu Master of Social Sciences, obtido com mérito, num regime educativo que já fez inveja ao nosso pobre José Sócrates.
Na Áustria dos artistas da música, o título de doutorado em Ciência Política pela Universidade de Viena, soa como melodia académica, na Internacional Socialista de que faz parte o chanceler Alfred Gusenbauer.
Na França dos intelectuais, Nicolas Sarkozy, pode dizer que tirou um canudo na Universidade de Paris X, em direito público e ciências políticas e um mestrado em direito privado, mas não logrou passar para o prestigiado Instituto de Estudos Políticos de Paris, por causa do…inglês. E conta isso no perfil…
Na Alemanha, frau Angela Merkel, a primeira mulher chanceler, é especialista em Física, doutorada.
Na Itália, Romano Prodi, ensinou Direito, o que também já fez em Harvard e Stanford, como professor convidado.
Na vizinha Espanha, Zapatero, formou-se em Direito, depois de estudos medíocres, mas que ainda chegaram para ser professor.
Até na Roménia, o primeiro-ministro Calin Popescu que deixa para cá virem os pobres pedintes, tem uma graduação em Matemática e Ciência de Computação.
E poderia continuar, ficando à vontade de quem o quiser fazer, teclar umas palavras simples num motor de busca da Internet, para ficar a saber tudo o que é preciso saber sobre quem são e de onde vêm, os primeiros-ministros desta Europa.
Aqui, teclando “José Sócrates Wikipedia”, obtém-se agora o retrato a fotomaton: fosco, impreciso e nebuloso.
Só não vê, quem não quiser...
Publicado por josé 01:39:00
Concordo com o que disse.. Mas neste caso o que está em causa não é saber se o Primeiro Ministro é licenciado, mas sim a forma como obteve o título que ostenta.
«Qual é o mal? O primeiro-ministro é uma pessoas aberta, que gosta de falar com os jornalistas...»
Pretende-se dizer com isso que o conjunto de saberes individuais constitui o "todo do conhecimento da Humanidade", embora tal possa ser discutível.
Ora, sendo a Internet uma reunião de "muitos milhões de saberes", só fica bem a um órgão de informação (o «Público» ou outro) recorrer a ela. E, se o faz com fascínio, melhor ainda.
No entanto, também reconheço que há que distinguir entre o simples "transcrever o que está na Internet" e "ir lá recolher informação, sim, mas para depois a tratar criticamente".