O humor é para rir
domingo, abril 15, 2007
A propósito do cartaz do PNR, colocado na rotunda do Marquês, em Lisboa, seguido da réplica do grupo de humoristas “Gato Fedorento”, no Abrupto, adiantam-se algumas explicações interessantes. A essência das mesmas, porém, consiste em algo subjectivamente insuficiente para se entender o tempo actual. A simplicidade de análise levar-nos-ia a considerar que no espaço de discussão pública actual, acerca da imigração, racismo, extrema direita e ideias contrapostas às da esquerda clássica, continuamos exactamente como há trinta anos atrás. Como há trinta anos, não há espaço público onde seja possível discutir ideias apresentadas como extremistas e de direita.
Quanto às de esquerda, mesmo extremada, conglomeradas em grupúsculos políticos e aglutinadas no Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português, nunca houve qualquer limitação de espaço crítico e a liberdade é ampla e total.
Esta diferença, patente e indiscutível, é o verdadeiro fenómeno que ambos os cartazes sugerem. De um lado, o discurso xenófobo, algo incipiente mas suficientemente explícito e supostamente de extrema-direita; do outro, a intolerância à xenofobia, e a ideias pretensamente de extrema-direita, baseada no discurso de contraponto ideológico, mascarado de humor correcto.
A síntese desta contradição de imagens, deu-a, afinal de contas, o autor do cartaz primitivo: “ as ideias discutem-se”, foi a conclusão certa, ainda que de sinceridade incerta. Ironia suave, em contraponto ao fedor sectário.
Em 1974, de Abril a Setembro, a evolução política em Portugal acelerou de tal modo que a esquerda, tomou conta de todo o espaço público de discussão político- ideológica. Aqueles que não se reviam nesse discurso, orientado pelo Partido Comunista Português e pelo Partido Socialista, antes de ter metido o socialismo na gaveta, tentaram reunir forças e organizar a voz, num comício no Campo Pequeno, marcado para 28 de Setembro.
Chamaram à manifestação, a voz da “maioria silenciosa” copiando um slogan vindo directamente de Maio de 1968, apresentado por De Gaulle, para se defender e atacar as revoltas estudantis.
O cartaz de convocação dessa manifestação, desenhado por Quito ( Francisco Hipólito Raposo) foi publicitado de modo envergonhado, mas ainda assim suficientemente incomodativo para os novos poderes instituídos, a esquerda em progressão ideológica.
A manifestação, ainda assim, realizou-se. Mas é sabido que foi a partir daí que se intensificaram as perseguições e prisões de supostos adeptos do antigo regime, encarcerados em massa, sem qualquer culpa formada para além do epíteto de “fascistas” e que assim ficaram por largos meses. Sempre que tal episódio vergonhoso para a democracia, é citado, a esquerda escarnece como quem pudesse dizer que “foram poucas!”
O cartaz fedorento, é apenas mais uma das manifestações desse espírito vigilante da democracia intensiva que limita a liberdade de expressão política, ao pensamento correcto, instituído em trinta anos pela esquerda que nos governa e nos educa oficialmente.
A progressão do processo revolucionário foi tal que em Dezembro de 1975, um cartoon de João Abel Manta, publicado em O Jornal, simboliza o que ideologicamente mudara, até essa altura, em Portugal, falsificando a realidade histórica, através de uma redução do universo português de então, a um hipotético país em que se venerava o fascismo como opção assumidamente política. O cartoon equivale à expressão de propaganda ideológica que dava a entender que o "fascismo" publicitava a ideia que os "comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço"...ou seja, tomando a maioria da população por uma camada de parvos, levava a água ao moinho, num misto de abusrdo com humor negro desconcertante.
Publicado por josé 16:38:00
a seriação da boa troça
:o)))
O proto-fascismo, também se manifesta por isso. O comunismo, evidentemente que o pressupõe.