DA REPÚBLICA



Não me é simpática a ideia do anonimato. Na blogosfera ele floresce como cogumelos venenosos. Todavia, quando leio muita da javardice que eminências do jornalismo e da nossa risível "academia" escrevem ou debitam nos mais diversos media, percebo melhor a emergência da famosa "maioria silenciosa". Essa "maioria" pode oscilar entre o puro escarro e o sublime. Depois das peripécias dos últimos dias e semanas - com origem bem clara na blogosfera e, depois, num jornal em quem ninguém pegou para depois se tornar o tema "puta da República à portuguesa" - a blogosfera acedeu a um patamar inesperado para o regime e do qual dificilmente já sairá. Isto porque os media tradicionais - quase todos dirigidos, apascentados e comandados à distância pelo dito regime - "vivem" de transformar "questões duras" em "questões moles", e vice-versa. É, uma vez mais, "a puta da República" a funcionar. A pergunta feita um dia por Pacheco Pereira em um outro contexto - "o que é que comunica a comunicação social?" - nunca fez tanto sentido neste Portugal de pequeninos do ano de 2007. Por isso, e apesar da acumulação de jornais com quase uma semana, fenece-me a vontade de os ler porque deixei de ter paciência para "mais do mesmo". Não me apetece encontrar a "linha da beleza marico-poética" lá onde devia estar escrito a bold o nome da vergonha "democrática". Mete-me nojo o sem-razão de tanto "opinador" do regime com direito a fotografia e a esclerose retórica que já contamina alguma blogosfera mais afoita e doce. Não suporto o "encanar a perna à rã" dos cortesãos dependentes. Perdi o respeito pela democracia portuguesa porque ela não se sabe dar ao respeito. Só me preocupo com os direitos humanos - todos - e a democracia, malgré elle e nessa matéria, não me dá garantias nenhumas de ser "mais respeitosa" do que outra coisa qualquer. Não é ela que tem a culpa, nem os seus founding fathers, os da Europa e os dos EUA. São aqueles a quem colámos - pelo voto - a labita de democratas. A maior parte nunca o foi ou julga que o é apenas por exibir um cartão de partido ou por estar montada numa sinecura. A duplicidade e a cumplicidade dentro do mesmo regime, mata a pureza da democracia como quem recorre a um bordel porque já não suporta "virgens". E ninguém escapa a esta sinistra perversão. Eis como, bruscamente numa primavera qualquer, a República pode passar de respeitosa a puta.
Nota: "Edição" simultânea nos Braganza Mothers e no Portugal dos Pequeninos.

Publicado por João Gonçalves 18:27:00  

1 Comment:

  1. josé said...
    A "ideia do anonimato", a mim, não é nem deixa de ser simpática, porque o que procuro em blogs, não é saber quem escreve, mas o que se escreve.

    Se o problema do anonimato é evitar práticas condenáveis de ofensas à honra, parece-me que o problema fica em parte resolvido quando se fixar como jurisprudência de costumes que aquilo que desonra alguém não tem qualquer valor se não vier assinado. Ou seja, vale tanto como as pichagens antigas que se deixavam ler nas paredes de todo o país: "Sá Carneiro, caloteiro, paga o que deves".

    Os que se viram agora ao anonimato nos blogs, com medo deste tipo de pichagens virtuais, valem o que valiam os antigos directores e redactores do diário da verdade a que então tínhamos direito, onde se publicava exactamente o mesmo e com o mesmo sentido: um olhar condescententa para a hipocrisia que celebram.

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