os jogos e as sombras

Este fim de semana o Major Valentim Loureiro deu uma entrevista (chamemos-lhe assim) ao semanário Expresso, a qual teve honras de capa, e onde declarava solenemente querer ser julgado na televisão, pois só assim seria feita 'justiça'. Também esta semana a Sábado (da Cofina, cujo parceiro financeiro, o BPI, pode ou não cair nas mãos do BPI, deixando-a assim 'descalça'...) punha na capa Ricardo Espírito Santo, homem-forte do BES, descrito como o homem mais poderoso de Portugal (a peça nas páginas interiores é de ir à lágrimas). Nestes dois 'detalhes' está todo um retrato de Portugal. Por cá, vive-se e morre-se, não pelo que se faz, mas pelo que se é, na comunicação social. Ao major não importa a figura absolutamente ridícula que dele fazem na contra-informação, como não importa a Fátima Felgueiras, a Pinto da Costa e a muitos outros. E não importa porque o que conta, é 'aparecer' lá, só assim se está 'vivo'. O que conta ao major é poder pré-anunciar - com quinze dias de antecedência que vai à TV (pública), ser entrevistado para responder a 'todas' as perguntas (feitas pela companheira de um amigo seu, e correligionário do mundo da bola...). Também para Ricardo Salgado o que conta são 'capas' como 'aquela', que 'cobrem', e de que maneira, quaisquer furacões do momento. O que (a)'parece' é.

Dito isto, a comunicação social em Portugal não tem emenda. Há demasiados interesses (pavlovianos ou não) em jogo, como ainda agora na história da OPA se viu, e voluntária ou involuntariamente, (já) não interessa, contribuí-se invariavelmente para o circo, não para dar pistas, mas para despistar. As coisas só irão mudar quando aparecer um projecto jornalístico de fundo, cujos protagonistas, não dependam, directa ou indirectamente, nem do Estado, nem da miríade de interesses publicamente privados que se movem à sua imensa sombra... Traduzindo, para bom português, as coisas só terão uma ínfima hipótese de mudar - reestablecendo o 'playing field' - quando quem, no fim do mês, a pagar a factura for estrangeiro e não depender, num chavo que seja, de ninguém dos múltiplos aparelhos de poder que há em Portugal. Até esse dia chegar, continuarão os jogos e as sombras.

Publicado por Manuel 17:36:00  

1 Comment:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    Se a PSP faz uma Operação Stop em que apanha umas dúzias de "aceleras", a TV vai entrevistar... os garotos.

    Se algum governo decreta a luta contra a alcoolemia ao volante, logo as TVs entrevistam malta que, com o copo na mão, diz que vai continuar a beber.

    Se um autarca foge para o Brasil, a TV vai lá entrevistá-lo.

    Se um dirigente da bola é apanhado nas malhas da Justiça, a TV abre-lhe as portas para ele mostrar ao mundo como esté inocente e de consciência tranquila...

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