Salazar nunca existiu

A polémica sobre Salazar, o fascismo e a História portuguesa contemporânea, continua. No blog Blasfémias, Pedro Arroja, arrisca-se a uma delapidação bloguística, ao defender a ideia que Portugal cresceu economicamente mais e mais, durante o salazarismo do que no período da democracia parlamentar em que vivemos há pouco mais de trinta anos.

Para analisar as raízes da discussão que se abriu em Abril de 1974, importa reconhecer quem já escreveu sobre o assunto.
Um dos autores sempre citados nos media, é Eduardo Lourenço, o professor emigrado e que vive na França de Vence.
Em 1976 publicou o livro, O fascismo nunca existiu, recenseado pela revista Opção, de 26 de Agosto a 1 de Setembro de 1976 ( imagem de cima).
Esse livro partira de um artigo publicado antes no O Jornal, de 9.4.1976, no qual E.Lourenço discorria sobre o processo revolucionário em curso e sobre o regime que o antecedera e indirectamente provocara. O artigo, foi publicado com outro ao lado e da autoria de João Bénard da Costa, que escrevia: "Bom é não esquecer que Salazar - o grande esquecido e por este andar qualquer dia o grande saudoso-conquistou o Poder e nele permaneceu por erros e demissões semelhantes. Ou seja, porque a democracia primeiro lhe pôs nas unhas os trunfos com que soube e pôde tocar o grande fado corrido da menoridade e miséria dos portugueses em democracia". Eduardo Lourenço também dizia coisas extraordinárias nesse artigo: “Ainda não se fez o processo do antigo regime”. E repassava a ideia que perdurou estes trinta anos: "Por tudo o que foi e não foi, o antigo regime pode entrar, como outros similares, nessa necrópole histórica etiquetada de fascismo" .
Portanto, ficamos trinta anos a usar essa etiqueta, nos media. Sem preocupações de maior e sem querer saber se seria porventura contrafeita.
Passados esses trinta anos, continuamos com a etiqueta colada ao regime de Salazar.
Quem se atreve a falar de Salazar, com um mínimo de benevolência em relação ao regime, ( por exemplo idêntica à que se fala dos regimes de leste), não sobrevive no espaço mediático, sendo escorraçado pelos vigilantes atentos do pensamento correcto. O apontamento de Jaime Nogueira Pinto sobre Salazar e que passou na RTP1 é o exemplo mais recente.
E contudo, há outros, mais antigos.
Um dos mais interessantes, é da autoria de um professor, filósofo, sociólogo, romancista e historiador que também viveu no estrangeiro e que escrevia artigos extensos no desaparecido O Jornal. João Medina, em 2006 publicou um livro- Portuguesismos- que vale a pena ler. Tanto mais que passou completamente despercebido aos nossos intelectuais que escrevem ao fim de semana nas revistas de imprensa dos jornais semanários. Cita nesse livro, um dito na fachada dos Arquivos Nacionais de Washington: “past is prologue”. Somos o que fizeram de nós, o que fizemos. João Medina acha que o salazarismo foi a continuação da Inquisição e que “problematizar com seriedade e responsabilidade ética a História dum país passa pela coragem de levantar questões embaraçosas”.
Então vamos a elas, com a apresentação de um outro texto do mesmo João Medina, sobre o fascismo e Salazar. Devido à extensão, fica para a amanhã, se Deus quiser.

Publicado por josé 17:40:00  

1 Comment:

  1. zazie said...
    Estes postais são para guardar!

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