Mitt Romney, a terceira via dos republicanos

A Grande Loja prossegue a cobertura antecipada da corrida eleitoral norte-americana para 2008. Depois da biografia de Barack Obama, senador democrata do Illinois, hoje será a vez de falarmos de Mitt Romney, que foi, até ao passado dia 4 de Janeiro, governador do estado do Massachussets e ocupa o terceiro lugar nas primárias (ainda não oficialmente abertas) do Partido Republicano.

Se é verdade que, do lado do Grand Old Party, tudo aponta para uma animada disputa entre John McCain e Rudy Giuliani, não é menos verdade que primárias de anos anteriores já nos mostraram que convém sempre olhar com atenção para terceiras e quartas escolhas. Ora, em função dos últimos números, Mitt Romney merece, claramente, o rótulo de outsider com mais hipóteses de ocupar o espaço de quem não pretende apoiar nem o senador pelo Arizona, nem o ex-mayor de Nova Iorque.


Mitt Romney nasceu a 12 de Março de 1947, em Detroit, Michigan. Filho de Lenore Romney, antigo governador do Michigan, Mitt é casado com Ann Romney, com quem tem cinco filhos (Tagg, Matt, Josh, Ben e Craig).

O candidato presidencial pertence à comunidade mórmon, uma religião minoritária nos EUA, com traços polémicos devido aos seus preceitos profundamente conservadores, mas que tem no estado do Utah, em especial em Salt Lake City, uma enorme expressão. Não por acaso, Mitt foi o director-geral da organização das Olimpíadas de Inverno que, em 2002, se realizaram em Salt Lake City…

Nos últimos quatro anos, governou o estado do Massachussets, o seu grande trunfo no currículo político. Anos antes, este empresário bem sucedido – que foi CEO da Bain & Company – tentou um lugar no Senado, mas perdeu para Ted Kennedy, o irmão mais novo de JKF.

Romney é um candidato com características especiais. E não é só pelo facto de ser mórmon, uma condição que, à partida, lhe poderá retirar muitos votos numa eventual nomeação presidencial, pelo Partido Republicano. Do ponto de vista do seu currículo, tem alguns pontos fortes a oferecer: acaba de deixar um posto no qual conseguiu bons resultados políticos e sociais e onde gozava de forte popularidade, logo num estado tradicionalmente democrata e liberal (basta dizer que é o estado dos Kennedy e do candidato presidencial democrata em 2004, John Kerry).

Para os republicanos menos virados para o campo centrista, que não apoiam as derivas direitistas dos mandatos de Bush-filho, mas também olham com desconfiança para a excessiva popularidade junto do eleitorado independente e democrata tanto de McCain como de Rudy, Mitt Romney pode ter algo para oferecer: ele assume-se como um conservador tradicional, que até olha para as políticas sociais com respeito (e recorda o seu legado como governador), mas que dá prioridade, no seu discurso político, a um back to basics daquilo que distingue, há décadas, os republicanos dos democratas, nos EUA: os republicanos ligam mais aos valores religiosos, às questões morais e a um pragmatismo económico que os faz preferir conceder liberdade aos cidadãos também no aspecto de não terem que prestar contas ao Estado em matéria de impostos, taxas e coisas do estilo.

Não por acaso, Romney tem como ídolo político não George W. Bush, nem sequer Bush pai, mas Ronald Reagan, o paradigma do republicano popular e bem sucedido, nas últimas décadas.

Mas, até nesse ponto, Mitt Romney terá muito que se explicar durante os próximos meses. Desde que iniciou a sua campanha no terreno (já declarou publicamente a sua intenção de concorrer à presidência), Mitt tem repetido a ideia de que é «um político conservador que consegue tomar as decisões certas».

A tónica no «conservador» tem, precisamente, a ver com essa excessiva colagem dos dois front-runners a temas que seduzem um eleitorado mais à esquerda. O problema é que Mitt, há não muitos anos, já se mostrou muito compreensivo aos argumentos da comunidade gay e dos movimentos pró-aborto, muito fortes no estado de que foi governador até há poucos dias. Agora, Mitt garante que é «um conservador de convicções firmes» em matérias morais.

Sem pretender desmentir o indesmentível, Romney garantiu, na sua primeira acção de campanha na corrida presidencial: «Não, não fui sempre um republicano-estilo-Reagan. Aliás, nem sequer Reagan o foi… Temos que escolher entre preferir um governo intervencionista, a visão dos liberais (ndr: na América, os liberais são quem está mais à esquerda, não confundir com a visão económica liberal que caracteriza o pensamento da Direita europeia) ou apelar à força das pessoas na América, a minha visão».

As sondagens colocam Mitt taco-a-taco com Newt Gingrich, na luta pelo terceiro lugar, mas Romney mostra ser um candidato com maior potencial de crescimento do que o antigo speaker do Congresso, que para os analistas está, simplesmente, morto politicamente.

McCain e Giuliani estão com 15 a 20 pontos de avanço sobre Mitt, mas ainda falta mais de um ano até ao GOP escolher o sei candidato oficial. E convém não menosprezar este mórmon de ar respeitável, mas jovial, um homem de negócios ambicioso, mas acessível, e que exala valores morais e God Bless América.

A série de biografias aos candidatos presidenciais norte-americanos prosseguirá, dentro de poucas semanas, com um texto sobre John Edwards, que já está no terreno e promete aquecer a corrida das primárias democratas.

Publicado por André 01:48:00  

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