Cópia do dia
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Poder, corrupção e futebol
1. Nos últimos dias, a paróquia anda num frenesim, por causa de um "best seller" dessa novel autora que dá pelo nome de C.S., ex-companheira do sr. J. N. Pinto da Costa, presidente do FCP.
Revelações escaldantes sobre negócios, esquemas, «encomendas de crimes», relações obscuras, tráficos de influência, etc, redundaram, segundo ouvi na TSF, na indiciação de um rol de «dezasseis crimes» e «onze suspeitos».
O caso até podia lembrar vagamente as denúnicas da ex-amante do empresário italiano que desencadeou a operação «Mãos limpas». Mas, qual quê? Portugal é outra coisa. Ninguém acreditará que a dita senhora - louvando-lhe o desassombro (nunca ninguém, até hoje, pôs tanto em causa um dos mais emblemáticos rostos do dirigismo desportivo e dos meandros do seu sistema) - resista muito às verdadeiras condicionantes e influências que enformam o mundo do Futebol.
2. O PGR chamou o magistrado do processo «Apito dourado» para se inteirar do que sucede(u) no processo e sobre as alegadas intimidações e perseguições de que terá sido alvo. Só pode ter sido, obviamente, para lhe dar todo o apoio.
3. O Governo (pela boca do ministro da Justiça na A.R., anuncia a criação de uma «Unidade nacional anti-corrupção», com prioridade para a corrupção no «fenómeno desportivo», não precisando os seus concretos contornos, âmbito de competências e dependência funcional.
Isto é, o Estado continua a ter uma atitude reactiva e vai a reboque dos epifenómenos mediáticos.
É um dado consensual que a corrupção no desporto não é de hoje. É um fenómeno antigo, que impregna os interstícios do complexo sistema organizativo desportivo que os Partidos ajudaram a criar e muito acarinharam: quem não se lembra do anúncio das «grandes vantagens» da criação e autonomização da Liga de Clubes? Já se esqueceram do que foi a esperança desse novo e promissor modelo das "sociedades desportivas"? É certo que havia imposições comunitárias a cumprir, mas os protagonistas de todo esse processo foram sempre os mesmos.
Quem fomentou e possibilitou todo o actual estado de coisas? Há nomes e interesses bem conhecidos.
Porém, o que verdadeiramente interessa é desviar, agora, a atenção do «povinho» para uma área que é realmente crítica, mas que não é fulcral no funcionamento do Estado de Direito. É claro que haverá que investigar todos os factos que sejam ilícitos e responsabilizar os seus autores. No entanto, mais uma vez, o Estado falhou no diagnóstico e na antecipação dos problemas. Sobretudo na sua identificação.
A corrupção que verdadeiramente destrói o Estado de Direito é a que está ligada ao funcionamento ilegal dos partidos, à adjudicação das obras públicas de menor (a nível autárquico) ou maior vulto (directa ou indirectamente, através das engenharias financeiras de projectos faraónicos como OTA e TGV) e à evasão fiscal.
Aí é que se tornava necessário uma «Unidade» (ou um «milhão»?) para a prevenção - sobretudo a prevenção - e combate à corrupção.
Mas, uma vez mais se perde(rá) a oportunidade. Contra todos os discursos políticos, avisos presidenciais e boas intenções piedosas da moda. Aí, não se pode tocar.
Talvez se começe a perceber, finalmente, o propósito último de todos os esforços para descredibilizar o sistema judiciário e de investigação criminal.
P.S. Parece que os dois magistrados do Ministério Público (um deles em funções no DCIAP) que haviam aceitado a indigitação para os lugares de vice-presidentes do Conselho do Justiça da F.P.F. (na Lista do dr. Gilberto Madaíl) recuaram e já não são candidatos. Antes assim.
Só é de lamentar que tenha sido necessário que outros os tivessem convencido por, aparentemente, os ditos cavalheiros não se darem conta, por si, da figura (efeito de branqueamento) a que se prestavavam, num momento em que os juizes serão impedidos de integrar taís organismos.
posted by guy @ 10:51 P
Publicado por josé 11:52:00
SERÁ K DÁ PARA PORES O NOSSO LINK NO TEU BLOG
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Claro que a foto é um pouco maton. É pena que assim seja e que haja no MP e na magistratura judicial quem ainda não se tenha dado conta de que, mesmo neste caso, o que parece é entendido como sendo.
E o que parece é que o futebol está podre de vícios. Um deles é a corrupção desportiva.
Os magistrados no futebol, mesmo nas ligas e federações em órgãos de justiça desportiva, caucionam algumas tropelias a regras éticas, para dizer o menos.
Basta lembrar o triste caso do Gil Vicente.
Sabendo que os magistrados são escolhidos para esses organismos ( autónomos ou não) pelo simples facto de o serem e desse modo emprestarem a imagem de "magistrado", seja lá isso o que for, na sociedade portuguesa, lamenta-se ainda mais que não haja uma evolução cívica para entender que os magistrados são pessoas como as outras que não podem exercer a magistratura senão no âmbito de processos e nos tribunais.
Aceitaria de bom grado que o Pereia e o João Ramos fossem do futebol e do que quisessem ser, se o fossem pelo facto de serem o Almweida Pereira e o João Ramos, somente.
Mas não é assim, como eles sabem muitissimo bem.
Por outro lado, os magistrados no futebol têm benesses que não sendo em espécie ( espero bem que não) são em géneros, tipo viagens e corridinhos para encontros aqui e ali.
Tal como o autor do postal, acho mal, caros Pereira e João Ramos.
No entanto...defendam-se!
Já agora, é ou não a favor da incompatibilidade dos magistrados exercerem cargos nos órgãos desportivos?