Manipulações e delírios
sexta-feira, novembro 10, 2006
O senhor Jorge Van Krieken (JVK), autor do site Repórter X teceu algumas considerações obre um artigo no Diário de Notícias que, apesar de não ser um hábito meu, merecem vários comentários, até pelos indícios de “paranóia e loucura total”. Apenas vou comentar factos. O restante é matéria para as ciências do além e, quiçá, para o colégio de psiquiatria da Ordem dos Médicos.
- 1. JVK começa por dizer ser “mentira” que tenha admitido durante o seu depoimento no julgamento do processo da Casa Pia que não possui documentos que não constem do processo. Documentos que poderiam demonstrar a inocência dos arguidos. ”É mentira”, escreve. Num primeiro momento, diz em sua defesa que entregou “vários documentos ao tribunal que comprovam em como foi ocultada informação vital logo no início do processo”.
Porém, umas linhas mais abaixo do seu escrito, vem dizer o seguinte: ”O que eu disse ao tribunal foi que possuo informações e não «documentos fora do processo»”. Pois é. Olhei para o lado, e vi o que escreveu o Jornal de Notícias sobre o mesmo episódio: Van Krieken acusou o Ministério Público de ocultar provas durante a investigação do processo e garantiu ter em seu poder documentos que se tivessem sido juntos ao processo inocentariam os arguidos. Instado pelo tribunal a trazê-los ao processo, o jornalista acabou por dizer que não são documentos, mas "informações". Esta testemunha, que assina um blogue na Internet no qual se empenha em fazer a defesa dos arguidos e, nomeadamente, de Carlos Cruz, garantiu não ser paga pelo apresentador de televisão e não ter qualquer outro interesse no processo, que não o de jornalista. E numa volta pela Agência Lusa: Quase no final da sessão, José António Barreiros requereu que a testemunha junte os documentos que diz provarem a inocência dos arguidos, tendo Van Krieken replicado que não se tratam de “documentos, mas sim de informações”, alegando não dispor de “documentos milagrosos. Afinal, estamos todos, incluindo o depoente, de acordo. - 2. Refere depois que eu ocultei que as tais “informações” resultam de uma análise que fez. E que informações são estas? ”Disse várias vezes no tribunal que mais de 15 milhões de dados telefónicos recolhidos pelo MP no âmbito do processo da Casa Pia foram analisados e cruzados por mim, e daí resulta a informação (comprovada pelos ficheiros informáticos) em como os arguidos não contactaram com as testemunhas, que não contactaram entre si, e que as testemunhas contactaram com outras pessoas”.
Ou seja, depois de um árduo trabalho, JVK concluiu que não existem registos de chamadas telefónicas entre arguidos e entre estes e as testemunhas. Será esta uma grande revelação que foi ocultada aos leitores do DN? Será o facto, reafirmo, o facto tão novo que mereça um amplo destaque? - 3. Uma vez que em tribunal disse, repito, disse que apenas conhece o processo da Casa Pia “provavelmente até ao volume 70”, JVK talvez desconheça que que a ausência de contactos entre arguidos e com testemunhas foi já mencionada por alguns advogados na respectiva contestação apresentada antes do início do julgamento.
Já em 2004, os advogados de Carlos Cruz escreveram no ponto 127 da “contestação à acusação do Ministério Público”: A estas questões, mister é dizer que não existe qualquer prova documental que relacione o Arguido com os pretensos crimes que lhe são imputados na acusação, não existindo qualquer chamada telefónica, qualquer mail, qualquer correspondência, qualquer fotografia, qualquer via verde, qualquer registo que estabeleça qualquer relação entre o arguido e os co-arguidos, bem como entre o arguido e os locais em Elvas ou na Av. das Forças Armadas, em Lisboa, onde teriam decorrido as supostas actividades pedófilas.
Na mesma altura, os advogados de Manuel Abrantes declararam no mesmo tipo de documento (ponto 18): Dos elementos probatórios constantes dos autos, como sejam, entre outros, escutas telefónicas, listagens das chamadas efectuadas e recebidas pelo Arguido, dados relativos a contas bancárias e respectivos movimentos, não resulta qualquer indício que sustente a conclusão de que o Arguido Manuel Abrantes conhecia ou se relacionava com os Arguidos Carlos Cruz, João Ferreira Dinis, Jorge Ritto, Hugo Marçal, Francisco Alves ou Maria Gertrudes Nunes.
Se recuarmos um pouco, também Celso Cruzeiro e João Pedroso (que representaram Paulo Pedroso) tinham já feito alusão ao registos telefónicos do processo. Portanto, JVK chegou atrasado. Outros já tinham feito a mesma análise e concluído o mesmo. Portanto, o tribunal já está ao corrente desta questão. Onde está a novidade? O grande segredo revelado?
Depois diz que ocultei aos leitores este dado: “Todas as provas que podiam contraditar os testemunhos foram ocultadas [bold meu], estando curiosamente dentro dos anexos”. Vamos lá por partes: informação ocultada? Onde está essa informação? Responde o próprio: nos anexos. Onde estão os anexos? No processo. Haaa....esclarecido. Valerá a pena continuar? - 4.A seguir, faz referência a uma passagem no texto em que eu utilizo a palavra “reunião” para descrever um encontro entre JVK e dois directores da PJ. “Pessoas que se encontram reúnem-se. Este é um exemplo de como as palavras podem ser deturpadas com má-fé”. Melhor é impossível.
- 5.Então, parte para a referência à procuradora Fernanda Pêgo e a uma conversa que diz ter tido com a senhora magistrada. Tudo para salientar a coragem da senhora procuradora. Fica-lhe bem a gratidão! Até pelo que vim a apurar a magistrada em questão arquivou uma queixa que foi movida pelo inspector Dias André a JVK.
- 6.Inspirado, JVK passa para o “momento de exaltação” de Carlos Silvino, partindo deste facto para uma teoria de ocultação de dados que eu, enquanto jornalista do PortugalDiário, teria realizado. A ocultação foi de tal forma grave que até publiquei uma declarção de uma das alegadas vítimas que, em 2003, me disse que o “Carlos Cruz não tem nada a ver com estas coisas”. Em tribunal, confirmei a autoria da notícia e a respectiva declaração. Ou seja, ainda vai dizer que eu ocultei algo que escrevi, à semlhança do raciocínio de que há ocultação de provas que estão no processo.
- 7.Eis que se chega à lista dos mais de 100. “Durante a inquirição tentei várias vezes (umas 5, pelo menos) referir o tal documento que contém uma listagem, até que no final de uma inquirição lá consegui denunciar a sua existência na posse de Catalina Pestana. Este documento, que poderá estar na base de muitas notícias publicadas, integra nomes de mais de uma centena de pessoas, (entre elas, alguns verdadeiros icons da Nação)”, escreveu. Quem elaborou tal listagem? O SIS? O SIED? A PJ? Ou ainda é dos tempos da DINFO ou da PIDE? Se é apenas um documento sem pai nem mãe, até agora (porque ainda não se lhe conhece a cara) vale o que vale: ZERO.
”Provavelmente até ao volume 70”
Durante algum tempo, JVK arvorou-se no grande conhecedor do processo da Casa Pia, quer dos autos quer do que se passava em julgamento, lançando a desconfiança sobre todos os jornalistas que acompanhavam as sessões. Chegou a escrever, num artigo narcisicamente intitulado “Repórter X em tribunal, brevemente”, o seguinte: “Uma certeza: aquilo que está a ser noticiado sobre o julgamento da Casa Pia é totalmente diferente do que se passa, de facto, dentro da sala de tribunal. Basta ler as transcrições para constatar isso”. Noutro artigo, “Jornalismo de Bancada”, atira: “O comportamento do DN ao longo deste processo foi e é deplorável. Bastará analisar o que ali foi publicado e o que de facto se passou no processo e na sala do tribunal”
No segundo dia de depoimento em tribunal, JVK disse, repito novamente, disse que apenas conhece o processo “provavelmente até ao volume 70”. O volume 70 foi “aberto” (isto é, iniciado) a 3 de Fevereiro de 2004 e encerrado a 10 de Fevereiro de 2004. Daqui para a frente, o processo já deve contar com mais 100 volumes. Sinceramente, valerá a pena continuar?
E para finalizar mais uma pérola. No texto “Os jornalistas da bófia”, JVK revelou ao mundo a sua humildade: “Desde o início deste processo que me recusei a aparecer publicamente, seja em entrevistas, seja em debates. Fui convidado para inúmeras entrevistas, debates na TV, etc. Sempre recusei, por duas razões: primeiro, o jornalista conta o que se passa, não deve ser ele a notícia. Segundo, porque o anonimato permite-me mover à vontade em todo o lado, sem ser reconhecido, o que é importante para um jornalista de investigação, ao mesmo tempo que dá mais confiança de confidencialidade às minhas fontes, que sabem que não procuro protagonismos nem show-offs”. Isto comove-me.
Mas, o mundo pula e avança e agora a conversa é outra: “Parece ser claro que os advogados de Bibi e da Casa Pia apostaram numa estratégia de «soprarem» aos jornalistas presentes a necessidade de descredibilizar o «louco» do jornalista Van Krieken. O resultado da estratégia sentiu-se logo a seguir, quando à saída da segunda sessão, nenhum jornalista me colocou uma única questão”. Penso que toda a gente ficou esclarecida.
P.S. – Em tribunal, JVK disse que apenas se interessou pelo caso após as primeiras detenções (Carlos Cruz, Ferreira Diniz e Hugo Marçal, na noite de 31 de Janeiro de 2003). E, já que diz que eu não lhe fiz nenhuma pergunta, faço uma agora: quando é que falou pela primeira vez com a jornalista Felícia Cabrita sobre o caso da Casa Pia e quem lhe forneceu o contacto?
É tudo.
Carlos Rodrigues Lima
Publicado por Carlos 12:37:00
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