a negação da política

Na sua luta titânica para evitar ter menos sobras que na semana anterior o SoL desta semana tinha uma capa que motivou algum surúrú - uma das empresas encarregues de estudar/justificar o fim de certas SCUTs tem, ou teve, como sócio um dos ajudantes de um dos secretários de estado da tutela. Lá vieram as virgens ofendidas do costume rasgar as túnicas, exigir esclarecimentos e clamar por esclarecimentos. Palha, pura palha. Por duas razões, em primeiro lugar, porque o modelo, o do recurso a estudos e pareceres externos, não é novo, muito menos exclusivo deste Governo PS, e em segundo lugar porque as irregularidades a existirem o são, antes como agora, muito mais profundas e sérias, do que as alegadas pela notícia do semanário fundado pelo ex-futuro prémio Nobel da literatura, José António Saraiva. O facto é que - extravasado o limite da mera banalidade - poucos tem coragem de assumir o que quer que seja como opção verdadeiramente política, daí o recurso a torto, e a direito, a estudos e mais estudos, e a carradas de pareceres. Analisassem-se os mesmos, nos últimos anos e descobrir-se-iam estranhos ecossistemas e curiosas interligações. Mas disso não se fala. Pessoalmente eu não estranho (da legalidade não comento) que um secretário de estado peça a uma empresa que é ou já foi de um seu ajudante que faça isto ou aquilo, o que eu estranho - mas devo ser só eu - é a necessidade de no caso concreto das SCUTs - uma opção iminentemente política, ser preciso um estudo, e logo pelos valores de que se fala. Particularmente porque o que vem nesse estudo é ululantemente óbvio e manifestamente nada original. Bastava por exemplo consultar os arquivos deste blog, ler algumas prosas do António Duarte (publicadas cá e no DN) e estava lá tudo. O drama não é sequer a alegada pequena ou média vigarice - o grande drama é que aquela gente se demite de pensar. Nem sequer o absolutamente óbvio tem coragem de assumir. Precisaram de estudos. Demitem-se eles, e demite-se o Estado. Demitimo-nos muitos de nós. É a negação da política.

P.S. Já agora - e a propósito de estudos - as universidades em Portugal servem para quê ?

Publicado por Manuel 18:36:00  

1 Comment:

  1. Manuel said...
    Sem discordar nem criticar o que disse o Arid Monk, acima, vou parafraseá-lo:

    "O facto é que - extravasado o limite da mera canelada - poucos têm habilidade para criticar sucintamente, naquilo em que consistem as suas opiniões/opções verdadeiramente políticas, daí a confusão a torto, e a direito, entre o que são opções (discutiveis) estritamente estéticas, como é o caso do "negrito" no texto, e a substância, qualquer que ela seja.

    É mais fácil, e custa menos. Discute-se o fato, mas não quem o veste.

    P.S. De qualquer modo e de modo a ver se (!) até aparece alguma 'crítica' digna desse nome, os tais negritos foram apanhar ar.

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