É sempre assim
domingo, maio 21, 2006
Com uma semana de atraso (as minhas desculpas ao autor) publicou-se abaixo um texto do Dr. Medina Carreira, também publicado, faz hoje precisamente uma semana, no Público. O texto atroz e cruel não interessou quem quer que fosse, não foi, em suma, "agenda", não motivou o mais leve murmúrio que fosse aos comentadores da praça. Em alternativa, falou-se de tudo, menos daquilo que deveria ser o mais absoluto essencial - as bases que garantam sobrevivência do próprio regime e do País.
Prefere-se discutir o efémero, o imediato, o fácil. O costume. O artigo de Medina Carreira nunca existiu. O país de que ele fala também não existe para uma boa parte dos que se deviam ocupar a tratar dele. O que existe é algo de diferente, esquizofrénico, onde o que conta é a bola, as touradas, o envelope 9, o Dr. Carrilho e os decotes... da Alexanda Lencastre. É verdadeiramente um país à imagem dos Morangos com Açúcar. Um país onde até a esquerda, do PS ao BE, passando pelo PCP, defende os 'privilegiados'. Um país onde a única coisa que conta é o momento, o imediato, um país onde não há uma voz que defenda quem nada tem, quem tem pensões de absoluta miséria e nem dinheiro para comprar comida, quanto mais medicamentos. Um país egoísta incapaz de repartir, de redistribuir, de racionalizar e de se reformar. Um país incapaz de compreender que para ter hipóteses de sobrevivência tem (ou tinha) que mudar. Reformas ? Serão boas certamente, desde que só afectem os outros, Poupanças ? Idem. Cortes, contenções ? Evidentemente, também.
Para muitos Medina Carreira é um incómodo, um fardo, um chato. Não cede à tentação das verdades fáceis, dos discursos rectilineos, das receitas demagógicas. Obriga a pensar, pior - a pensar no futuro, quando para muitos a única coisa que interessa é o dia, a semana seguinte. Faz-nos falta quem diga que o nossos reizinhos vão nús, que o diga recorrendo a factos quantificáveis, e com argumentos verificáveis, e não a qualquer cartilha ideológica, aximoática, seja de esquerda, de direita, ou liberal. Vai-nos restando Medina Carreira. Um dia dar-lhe-ão todos razão. Provavelmente, já será tarde demais. É sempre assim.
Publicado por Manuel 19:13:00
1 Comment:
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- Politikos said...
8:34 da tarde, maio 21, 2006Essa última frase é quase profética... Não exageremos, MC é um pessimista nato, será disso que Portugal precisa?