os violinos de ingres
domingo, maio 21, 2006
Recebi uma carta assinada por três ministros (a sra. Ministra da Cultura, a sra. Ministra da Educação e o sr. ministro Santos Silva), que me convidava para ser membro de uma Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura. Com a carta vinha uma síntese do dito Plano. O papel da Comissão de Honra seria dar o seu "prestígio e aconselhamento à execução do Plano". Por outras palavras, fazer alguma propaganda à coisa, como de resto o dr. Graça Moura, "muito penhorado", já começou a fazer. Propaganda por propaganda, resolvi responder em público que não aceito. Por várias razões. Em primeiro lugar, porque a carta e a "síntese do Plano" estão escritas num português macarrónico e analfabeto (frases sem sentido, erros de sintaxe, impropriedades, redundâncias, por aí fora). Quem escreve assim precisa de ler, e de ler muito, antes de meter o bedelho no que o próximo lê ou não lê.
Em segundo lugar, não aceito por causa do próprio Plano. O fim "essencial" do Plano é "mobilizar toda a sociedade portuguesa para a importância da leitura" (a propósito: como se "mobiliza" alguém "para a importância"?). Parece que as criancinhas do básico e do secundário não lêem, apesar do dinheiro já despem diçado no ensino e em bibliotecas. Claro que se o Estado proibisse a televisão e o uso do computador (do "Messenger") e do telemóvel, as criancinhas leriam ou pelo menos, leriam mais. Na impossibilidade de tomar uma medida tão drástica, o Estado pretende "criar um ambiente social favorável à leitura", com uma espécie de missionação especializada. A extraordinária estupidez diste não merece comentário.
Em terceiro lugar, não aceito por que o Plano é inútil. Nunca se leu tanto em Portugal. Dan Brown, por exemplo, vendeu 470 000 exemplares, Miguel Sousa Tavares, 240 000, Margarida Rebelo Pinto vende entre 100 e 150 000 e Saramago, mesmo hoje, lá se consegue aguentar. O Estado não gosta da escolha? Uma pena, mas não cabe ao Estado orientar o gosto do bom povo. No interior, não há livrarias? Verdade. Só que a escola e a biblioteca, ainda por cima “orientadas”, não substituem a livraria. E um hiper-mercado, se me permitem a blasfémia, promove a leitura mais do que qualquer imaginável intervenção do Estado.
O Plano Nacional da Leitura não passa de uma fantasia para uns tantos funcionários justificarem a sua injustificável existência e espatifarem milhões, que o Estado extraiu esforçadamente ao contribuinte. Quem não percebe como o país chegou ao que chegou, não precisa de ir mais longe: foi com um número infinito de “causas nobres” como esta.
“Causas nobres” , na opinião dos srs ministros, convém acrescentar.
Vasco Pulido Valente, no Público, hoje.
Como de costume, VPV parte a loiça das redomas ministeriais e escaqueira estilos de pomposidade culturística.
Aqui há uns anos, em meados da década de oitenta, VPV elaborou uma espécie de plano pessoal de leitura, numa coluna intitulada Os livros da minha vida, numa revista semanal que se chamava Grande Reportagem, diriga por José Manuel Barata-Feyo e que mantinha em colunas regulares, Filomena Mónica, António Pedro Vasconcelos e António Barreto, além do próprio VPV.Um luxo.
Aquele António Pedro-Vasconcelos escrevia, no número 7 de 18 a 24 de Janeiro de 1985:
“O mundo, eu sei, não está propenso a grandes esperanças, quanto mais a nobres atitudes. Mas partilho com alguma gente o sentimento incómodo de ver proliferar uma nova raça de seres, de sexo e idade indefinida, mas de grande vocação reprodutora: não parece terem sido alguma vez adolescentes nem são hoje maduros, não se revoltam nem são cépticos: são criaturas sem paixão nem seriedade, na política e nas artes, na profissão e no convívio; capazes de mentir ou de trair para conservar o lugar ou manter o poder de compra. São mais dignos de piedade que desprezo: estão dispostos a envelhecer de qualquer modo para garantir um pequeno privilégio ou uma modesta influência. O grave é que o poder os favorece, precisa deles: funcionários zelosos, empregados servis, gente sem alma e sem carácter. Profissionais da sobrevivência no jogo dos favores, são eles hoje a nova raça, boçal e corrupta, contagiante, capaz de tudo e candidata a lugares proeminentes.
Com eles a paz está garantida, mas por desalento; a democracia está viva, mas por indiferença; o Estado manda, mas por apatia. Não estamos num país de leste, garantem-nos, nem Portugal será a América Latina. E curto. Se é que uma verdade tão consoladora, não pode tornar-se, a breve prazo, uma vantagem sem proveito e uma vaidade de pouca serventia. “
Entre os livros da vida de VPV, elencados na revista, nessa altura, estavam títulos como “Céu Aberto” de Virgínia de Castro e Almeida; Campanha Alegre de Eça de Queiroz; A Morgadinha dos Canaviais e Os fidalgos da Casa Mourisca, de Júlio Dinis( a crítica a estas duas obras merecia um postal por inteiro); A Encruzilhadas de Deus, de José Régio; Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes; S. João subiu ao Trono, de Carlos Amaro; Soluções Positivas de Política Portuguesa, de Teófilo Braga; Calendário Privado, de Fernanda Botelho e , claro, Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins.
Seria interessante, perguntar especificamente aos promotores do Plano Nacional de Leitura, quais são os livros das vidas deles. Só para sabermos- e a sério, claro. E esperar que não venham respostas do género das que um determinado indivíduo, culturalmente evoluído a ponto de pontificar na respectiva secretaria de Estado, deu, quando há uns anos lhe perguntaram algo a propósito das suas preferências musicais.
Falou então, desenvoltamente, nos célebres concertos para violino de…Chopin! Podia ser pior: se tivesse acrescentado o nº kershel, por exemplo.
Publicado por josé 23:43:00
1.º Não consigo dissociar VPV de Maria Velho da Costa e do que esta escreveu no post intitulado "25 de Abril. Querela" (Bombyx-mori):"O ar da nação, quando não empesta, também dá em irritar as mucosas do espírito, já de si pesado. Tenho diante de mim um textinho dos que o VPV costuma perpetrar no Público. Oiçamos o som de cana rachada que a outra senhora na auto-biografia de saias arregaçadas confirmou como tal:
O 25 de Abril devia ser um dia de festa para o patriotismo português. Mas não pode ser. Primeiro, por causa das divisões do PREC e, depois, porque de facto não existe um verdadeiro patriotismo português.
Seguem-se algumas considerações sobre o patriotismo inglês, carregadas daquela anglofilia bacoca e folclórica que eles apanharam todos a roçar os selins das bicicletas de Oxford. Há pouca gente tão ignara e arrogante como estes oxfordinhos de segunda. Cheios do mofo daqueles departamentos que fenecem, aqueles parques infantis para adultos, que consentem, salvo raras excepções entrincheiradas na excentricidade, dar diplomas a medíocres que seriam, na Sorbonne ou no MIT, mandados de volta à instrução primária.
Ainda me lembro deste, a perorar diante de um ASN atónito que depois da Ada do Nabokov não é possível escrever mais nada. Peremptório, como Adorno depois de Auschwitz.
Ainda me lembro deste, a demitir-me em duas linhas de papel timbrado, do destacamento da Secretaria de Estado da Cultura, de que estava Secretário, após o Governo Pintassilgo. Não é da demissão, estava nos modos do poder. É das duas linhas a quem o recebeu em casa, arruaceiro e bronco, espojado no sofá.
E remata assim.
O PREC transformou a libertação final numa querela rancorosa e a democracia que dali saiu andou até agora, indecentemente, aos trambolhões.
Apela a Cavaco, deferente, roupa-de-baixo na mão e
O patriotismo português continuará melancólico e suspenso".
2.º Será que APV está referir-se a toda uma geração rasca?.
3.º O Plano Nacional de Leitura que difere do Plano Nacional de Inclusão?
4.º Saber sobre os livros das vidas deles? Mas a Ministra Isabel Pires de Lima não tem um doutoramento em Românicas?
5.º Sobre o n.º kershel dos Violinos de Chopin (ouvidos no Festival de "Beirute"), pergunte-se na FNAC.....
Muita ambivalência para esta hora da noite....
Ludwig von Köchel publicou em 1862 o catálogo das composições de Mozart.
Sendo Köchel, também é Kershel...
O segredo ortofónico, reside nas particularidades anglo-saxónicas, o que nos levaria a uma discussão do tipo daquelas que o Manuel Pina por cá encetou.
Mas, de facto, tembém prefiro o rigorismo de Köchel...quero dizer, Kershel, eh, eh, eh.
Por acaso, em relação à actuação de VPV como Secretário de Estado, até tenho uma opinião positiva. Baseada apenas num facto conhecido: tentou gastar o pouco dinheiro disponível em obras de restauro.
Li na altura e achei bem. A única opção inteligente, parece-me.
Um amigo meu diz que ele só lá esteve a «limpar o pó»...
Bem tirada. Mas...detenhamo-nos um pouco mais no campo refocilante da análise diletante e empírica, porque também não se vê onde pode andar por aqui a ciência, na arte das tretas...
Que vê para trás, para aquém e além desses que elencou?
Vamos ao Eça, ao Ramalho e até, mais longe no tempo, ao Gil Vicente?
Que nos disseram esses que não possamos dizer também, soletrando e aprendendo com indivíduos da estranja, saxões, francos, romanos e gregos?
Todos tentaram escalpelizar o que está por dentro do córtex e que lhes fazia uma bendita comichão de vez em quando.
Quem lê os clássicos defronta-se com os dilemas clássicos da natureza humana. São sempre os mesmos, parece-me a mim que sou um simples diletante.
Paixões( Vamos a eles, por Santiago ou S. Jorge!), serenidades poéticas a enganar os sentidos( o fogo que arde sem se ver), retumbantes épicos para afrontar Mostrengos vários
"Porém já cinco sóis eram passados(...),ua nuvem que os ares escurece,sobre nossas cabeças aparece.(...) Não acabava, quando ua figura se nos mostra no ar, robusta e válida,de disforme e grandíssima estatura;o rosto carregado, a barba esquálida,os olhos encovados, e a postura
medonha e má e a cor terrena e pálida;cheios de terra e crespos os cabelos,a boca negra, os dentes amarelos. Tão grande era de membros, que bem posso
certificar-te que este era o segundo de Rodes estranhíssimo Colosso,que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
a mim e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo! "
Destes épicos já não há- a não ser no cinema estrangeiro.
Assim, resta-nos a filigrana entretecida da escrita sobre defeitos variados e qualidades minguadas, em romances e escritos breves sobre costumes.
O que eu busco com maior intensidade é a SUBSTÂNCIA dos escritos. A forma é um adereço, um bónus que por vezes me chega, mas não aquece.
Quem é que escreve com substância, nos escritos de hoje em dia, em Portugal?
Um deles, seguramente, é o Vasco que V. apoda de asco, num mau gosto enviesado.
E isso me basta. Há mais, mas não escrevem tanto assim.
E há outros que decantam e sublimam a SUBSTÂNCIA em escritos alquímicos. Lobo Antunes é o maior deles todos, sem qualquer dúvida para mim.
MEC?! Só forma e repetida, já há muito tempo.
Rogeiro? That´s a joke.
O tal da Judiaria? Give me a break, please.
A Maria Velho da Costa? Não gosto.
Arranje mais!
O essencial da SUBSTÂNCIA é a qualidade do produto.
Um produto de merda, como é a produção em série de música de batida certa ou livros de escrita certinha para contar histórias banais e sem interesse algum, também tem substância. Mas presta pouco.
O que é que entendo por substância?
O que me acresenta algo de novo ao que já sabia ou que me lembra algo esquecido ou ainda que me delicia no comprazimento do jogo de palavras com sentido.
Assim, execra a banalidade. Pois bem. Embora a não execre tanto assim quando aparece bem vestida e com profumo di donna, apetece-me dizer que não há por aí muito quem se exceda a suplantar a banalidade, precisamente por causa daquilo que escrevi e que parece não ter lido: NÃO HÀ MUITO MAIS A DIZER, senão repetir o que já foi dito pelos clássicos!
COnteste lá esta e depois venha para cá dizer que não percebi nada...
Além disso, não acrescentou nada de novo: nem um nome, nem um autor português digno de referência.
Só palavras. Parole, parole, parole...
Parece banal, um retrato de um indivíduo a passar da idade média para o sol posto.
Mas não é. E porque é que não é?
Pela expressão do rosto? Claro que não.
Pela figura artística em si, revelada na técnica da pintura a óleo? Também não.
Pela mistura das cores em tons meio quentes e já arrefecidos?
Também parece que não será.
Então, onde reside o génio desta pintura?
Nos olhos de quem vê e lhe descobre algo de importante que dantes não vira.
Não há muitos pintores a pintar assim. E a técnica nem será o mais importante.
A diferença entre a banalidade e o génio, reside por vezes nos olhos que vêem e descobrem a arte do novo.
Se os olhos estiverem fechados, não há música de Stevie Wonder que lhe valha.
Que teríamos?
A mesma coisa, embora com menos ditirambos. Quem não conseguir ver, nem com música de Ray Charles o conseguirá.
Já com Frotas, devemos ter mais cuidado. Dêmos-lhe então o nome de Lúcio.
Além do mais somos poucos na blogosfera, e parece que já nos vamos conhecendo.
Refiro-me, claro, aos que aparecem a escrever.
Os espreitas sejam bem vindos também- e percam o medo de mostrar quem são e ao que vêm!
Arranjem um nick.
Mais fácil será excluir o que nem anda perto e aí, pelos exemplos dados, o José arrumou a coisa em 3 tempos. No que ainda estou a matutar foi nessa exemplo da épica pessoana que hoje em dia só terá continuação no cinema. Que ideia mais iconoclasta, José. Fiquei com vontade de lhe perguntar o mesmo em relação à tragédia. Problema com todos andam às voltas e que em tempos o Jarry e o Queneau ainda acharam possível uma “reaparição” pelo nonsense e pela ironia.
Independentemente do ressabiamento subjacente ao seu "despedimento" da Secretaria de Estado da Cultura, é inequívoco ter a mesma conseguido desmitificar a aura etérica do visado, quer se goste ou não.
No que me toca, não acho piada alguma a "oxorfdinhos de segunda"...
Além do mais, hoje em dia há tanta gente em Oxford e Cambridge ou nos EUA que esse rótulo nem faz sentido.
Oxford é uma terra linda e simpática onde não me importava nadinha de viver.
Em troca ainda temos Guimarães que também tem uma boa boa biblioteca e alguns edifícios medievais
ehehhe
Falando por mim, a admiração fica sempre à porta da relativização.
O que admiro é quase sempre efémero. Neste caso, admiro uma frase,um texto ou outro, uma ideia que vem ou outra que vai; um estilo; uma prosápia até e quase sempre uma iconoclastia.
E é muito, já. Muitíssimo, porque não há muitos a quem possa capturar um ou outro motivo de admiração, por pequeno que seja.
Precisaremos de heróis? Não sei, talvez.
Mas o Vasco não é herói. É apenas um tipo que me parece assente na terra com os pés presos a sentidos que deveriam ser comuns.
E isto é dizer muito, mesmo que não contenha admiração especial.
Como disse, esperava que isto fosse do senso comum.
O que me interessa é que escreva bem, como escreve; que bote ideias sobre as coisas para que se possa pensar nelas e que relacione factos passados e presentes e mostre um quadro plausível sobre a realidade envolvente.
É o máximo que poderá fazer, acho eu. E é muitíssimo.
Não me interessa ler os lacaios de comendadores da situação, nem os atolados no interesse próprio ou no alheio que lhes convém.
A esses, passo.
Pegue-se nesta frase da senhora:
"É das duas linhas a quem o recebeu em casa, arruaceiro e bronco, espojado no sofá."
Como é? ele mandou duas linhas por correio e depois foi espjoar-se no sofá, arruaceiro e bronco para assistir à leitura?
Foi recebido em sua casa, por motivos que não fariam prever que mais tarde viria a demiti-la- como ela diz, para cumprir ofício e aí passou a "espojar-se no sofá arruaceiro e bronco"?
Se tivesse mandado 10 linhas ou ido lá pessoalmente para a avisar da demissão já não se "espojava no sofá, arruaceiro e bronco"?
é nestas pequenas coisas que também se apanha a falta de "estilo" de muita gente.
Tenho sérias dúvidas que assim seja.
A mim parece-me ser altamente delirante e profético.