Nós por cá, todos bem
sexta-feira, maio 19, 2006
Pedro Mexia, que além do mais, escreve no suplemento 6ª do DN, sendo um dos novos escríticos que mais aprecio, relata nesse suplemento, hoje, as suas impressões sobre um filme em cartaz: "L´ivresse du Pouvoir" que em vez da tradução literal sobre a Embriaguês do Poder, atinou mais para o lado da Comédia do Poder e com esse título se apresenta nas salas, para mostrar que Claude Chabrol ainda impressiona plateias, com actrizes francesas de charme certo.
Escreve Pedro Mexia, sobre o filme:
" Chabrol investiga os meandros do dinheiro ilícito e lava a roupa suja do capitalismo" (...) e "constrói um retrato atento com uma notável leveza" (...) "com uma juiza atraente que se chama Jeanne Charmant-Killman, um advogado que se chama Parlebas, um vigarista sedutor que se chama Silbaud, um vigarista sinuoso que se chama Delombre".
"Os interrogatórios a políticos e empresários são especialmente divertidos, com toda a gente em discursos deliciosamente evasivos, explicando que luvas e comissões são coisa normal, que o sistema funciona assim mesmo, que a culpa é do sistema, que as pessoas sabiam e não sabiam e talvez soubessem."
E conclui: " Menos cruel que outras autópsias do sistema do mesmo Claude Chabrol, A Comédia do Poder é uma ágil e divertida denúncia do mundo do dinheiro e da política, que nos faz pensar demasiadas vezes na situação portuguesa" .
Chegado aqui, a esta leitura final, dei comigo a colocar vários pontos de admiração e interrogação!
"situação portuguesa"?!
Não pode ser! A situação portuguesa não é uma comédia. É mais um drama que se vai transformando em tragédia, com laivos de farsa!
E os farsantes andam entre nós, escrevem por aí em colunas de jornal ou até em blogs e atinam para a opinião pública.
Além disso, em Portugal não há nenhum Chabrol; a maioria das pessoas nem sabe sequer quem é o sujeito e o António Pedro-Vasconcelos já passou o limite da idade da revolta e acomodou-se com os farsantes. O Fernando Lopes, que ainda chegou a dizer que "Nós por cá tudo bem", também deve achar. O António Reis já nem se lembra do Jaime.
Talvez por isso, se possa ler no blog do Estado Civil, textos como este:
Opiniao e mais umas botas
Há nos media um curioso mecanismo de reprodução e repetição: quem aparece umas vezes nos media é logo convidado para dar a sua "opinião" sobre tudo e mais umas botas. Nos últimos tempos convidaram-me a comentar temas como:- o Teatro Nacional - a homossexualidade- a integração europeia- a colecção Berardo- o Código Da VinciDeclinei, explicando que são temas sobre os quais tenho opiniões banalíssimas de leitor de jornais. A sensação com que fiquei é que as pessoas não se importavam muito que as opiniões fossem banais. As opiniões não são validadas pelo conhecimento dos temas. São validadas pela circunstância de os comentadores serem (supostamente) "conhecidos".À atenção dos nossos mediólogos.
Publicado por josé 14:25:00
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