Maçã dentada













Em meados de 1967, todo o mundo ocidental ouvia San Francisco( Be sure to wear flowers in your hair), na voz de Scott Mackenzie, no pico do chamado Flower Power de inspiração Hippie. Paz e amor, generosidade e altruísmo eram os valores recomendados e a sinalética digital do V de vitória, reunia consenso com os cabelos compridos, as roupas coloridas e a pose fumarenta e deletéria que durou dois anos, se tanto.
Nessa altura, os Beatles publicaram uma das suas obras primas: Sergeant Pepper´s lonely hearts club band, disco charneira da música pop. A Day in the Life, deu inspiração a muitos outros que se lançaram na aventura da música e formaram grupos, criando tendências.
Em 1968, ainda no refluxo da vaga de “paz e amor” que invadiu a costa oeste e particularmente a California dos States e se espalhou a outras paragens, também em plena explosão criativa, surgiram, na cena musical anglo- saxónica, dezenas de grupos , cujos membros sabiam arpejar pelo menos três acordes de guitarra distorcida, em consonância com uma secção rítmica. A imitação dos Kinks, dos Rolling Stones, dos Beach Boys e também dos Moody Blues, Procol Harum ou Bob Dylan , sugeriu aos maiores deles todos – os Beatles – a ideia de criação de uma etiqueta própria, para apoio da sua produção exclusiva, então no pico da excelência, e das experiências criativas de muitos anónimos em busca de lugar ao sol, na música pop.
Foi assim que surgiu a etiqueta Apple, em Abril de 1968, por iniciativa dos Beatles, algo filantrópica no começo e algo subsidiária do espírito hippie da época prestes a terminar.
A Apple foi “mais uma manifestação da ingenuidade de Beatle”, disse John Lennon, em meados dos 70. “ Queríamos ajudar toda a gente, mas fomos apanhados pela leva de todos os que se aproximavam e que não eram de modo nenhum, os melhores artistas. Rapidamente, tivemos de mudar de estratégia e fechar a porta aos que chegavam até nós, porque se tornou um trabalho demasiado insano.”
E assim a Apple virou rapidamente para a corporação Apple Corps Ltd e para Apple Records Ltd, produtora dos discos dos Beatles e de uns poucos mais que ficaram esquecidos pelo tempo, como foi o caso dos Badfinger ou Mary “Those were the days” Hopkin, ou ainda Jackie Lomax. Para a memória dos Elephant Memory, ficam os primeiros Lp´s de James Taylor, Billy Preston ou o Christmas Álbum, do grande Phil Spector.
A Apple, depressa se tornou uma empresa de tomo no universo que gira à volta da música dos Beatles, gerando milhões de dólares que interessam a muitas pessoas da indústria musical.
Uma década depois, na mesma área onde os Hippies surgiram, apareceu também, em 1976, uma dupla de Steves, saídos da adolescência e curiosos da electrónica florescente- Steve Jobs e Steve Wozniak- que numa garagem montaram um computador a que deram o nome de Apple I.
Na altura, mesmo durante alguns anos, até ao início dos anos oitenta, não houve qualquer problema no nome da maçã nem sequer no logotipo que sugeria e mostrava um byte numa maçã estilizada e bem distinta da mação beatleiana.
Mais dez anos depois, a dupla e a empresa Apple Computer Corp. já facturavam milhões de dólares e tinham 4000 empregados e o primeiro Macintosh, surgido em 1983, fazia furor.
Nesta máquina original, já se notavam facilidades ímpares no domínio da criação artística. De tal modo que hoje em dia, quase toda a música industrializada e comercializada, passa pelos Mac, já na geração G5, a dos Power Mac, depois dos iMac. A música que se vende em cd´s é também gravada e misturada em PowerMac e o trabalho gráfico e artístico produzido em PowerMacs.
No início do séc. XXI, a Apple, lançou outro pequeno objecto destinado a reprodução musical: o iPod, actualmente em 5º geração e declina-se em modelos Shuffle, Nano e outros mini, capazes de reproduzir iTunes, captados por via etérea, na net global e reproduzidos em sonoridades próximas da original.
Esta capacidade ubíqua dos iPod que se vendem aos milhões, cativou também a atenção da velhinha Apple dos Beatles que accionou em tribunal a novíssima Apple Computer, pela quarta vez e pelos mesmo motivos de sempre: cópia ilegal do nome de marca!
A questão parecia arrumada desde 1991, em que ficou definida a compatibilidade na partilha do nome da Maçã e do logotipo da tentação.
A Apple Corps Ltd dos Beatles, detinha o direito de uso do nome em trabalhos criativos cujo principal conteúdo fosse a música. A Apple Computer Corps, restringia-se ao uso do nome em bens ou serviços que utilizasse para reprodução desses conteúdos, ficando excluído o direito de distribuição desses conteúdos em “physical media”, o que significava a proibição de venda ou distribuição de material musical em suporte físico, para além da metafísica do iPod…
Ora aconteceu que o sistema de distribuição iTunes, da Apple Computer,no entender da Apple Corps dos Beatles, infringia o acordo de vários milhões de dólares e vai daí, no início deste ano, a produtora dos Beatles, accionou judicialmente a companhia de Steve Jobs.
Ontem, 8 de Maio de 2006, um tribunal de Londres, pronunciou o veredicto: Não houve quebra de acordo e a Apple Computer, via iTunes, pode usar o logo da Maçã, à vontade.

“You say you want a revolution”?!

Publicado por josé 00:18:00  

4 Comments:

  1. zazie said...
    estes são os grandes postes do José!

    Creio que foi por influência da Aple dos Beatles que a Ana Salazar quando criou a primeira loja decididiu chamar-lhe Maçã. Ali na Av de Roma e com roupa pop importada de Londres, a trazer design mais sofisticado, a que os Profírios não chegavam
    maloud said...
    O final do post é lapidar. Quão distantes estamos desses tempos!
    josé said...
    De facto...a acção foi proposta no High Court de Londres, em finais de Março.
    POuco mais de um mês depois, já há decisão!

    Pelo contrário, por cá, uma providência cautelar que é suposto demorar poucos dias, arrasta-se penosamente ao ritmo das couves e alforrecas...
    E é um procedimento cautelar! Que faria se fosse a acção que se deve seguir!

    Triste...
    maloud said...
    O José é capaz de me explicar a razão desse arrastamento lusitano. É que o comum dos mortais não o percebe.

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