Maçã dentada
terça-feira, maio 09, 2006
Em meados de 1967, todo o mundo ocidental ouvia San Francisco( Be sure to wear flowers in your hair), na voz de Scott Mackenzie, no pico do chamado Flower Power de inspiração Hippie. Paz e amor, generosidade e altruísmo eram os valores recomendados e a sinalética digital do V de vitória, reunia consenso com os cabelos compridos, as roupas coloridas e a pose fumarenta e deletéria que durou dois anos, se tanto.
Nessa altura, os Beatles publicaram uma das suas obras primas: Sergeant Pepper´s lonely hearts club band, disco charneira da música pop. A Day in the Life, deu inspiração a muitos outros que se lançaram na aventura da música e formaram grupos, criando tendências.
Em 1968, ainda no refluxo da vaga de “paz e amor” que invadiu a costa oeste e particularmente a California dos States e se espalhou a outras paragens, também em plena explosão criativa, surgiram, na cena musical anglo- saxónica, dezenas de grupos , cujos membros sabiam arpejar pelo menos três acordes de guitarra distorcida, em consonância com uma secção rítmica. A imitação dos Kinks, dos Rolling Stones, dos Beach Boys e também dos Moody Blues, Procol Harum ou Bob Dylan , sugeriu aos maiores deles todos – os Beatles – a ideia de criação de uma etiqueta própria, para apoio da sua produção exclusiva, então no pico da excelência, e das experiências criativas de muitos anónimos em busca de lugar ao sol, na música pop.
Foi assim que surgiu a etiqueta Apple, em Abril de 1968, por iniciativa dos Beatles, algo filantrópica no começo e algo subsidiária do espírito hippie da época prestes a terminar.
A Apple foi “mais uma manifestação da ingenuidade de Beatle”, disse John Lennon, em meados dos 70. “ Queríamos ajudar toda a gente, mas fomos apanhados pela leva de todos os que se aproximavam e que não eram de modo nenhum, os melhores artistas. Rapidamente, tivemos de mudar de estratégia e fechar a porta aos que chegavam até nós, porque se tornou um trabalho demasiado insano.”
E assim a Apple virou rapidamente para a corporação Apple Corps Ltd e para Apple Records Ltd, produtora dos discos dos Beatles e de uns poucos mais que ficaram esquecidos pelo tempo, como foi o caso dos Badfinger ou Mary “Those were the days” Hopkin, ou ainda Jackie Lomax. Para a memória dos Elephant Memory, ficam os primeiros Lp´s de James Taylor, Billy Preston ou o Christmas Álbum, do grande Phil Spector.
A Apple, depressa se tornou uma empresa de tomo no universo que gira à volta da música dos Beatles, gerando milhões de dólares que interessam a muitas pessoas da indústria musical.
Uma década depois, na mesma área onde os Hippies surgiram, apareceu também, em 1976, uma dupla de Steves, saídos da adolescência e curiosos da electrónica florescente- Steve Jobs e Steve Wozniak- que numa garagem montaram um computador a que deram o nome de Apple I.
Na altura, mesmo durante alguns anos, até ao início dos anos oitenta, não houve qualquer problema no nome da maçã nem sequer no logotipo que sugeria e mostrava um byte numa maçã estilizada e bem distinta da mação beatleiana.
Mais dez anos depois, a dupla e a empresa Apple Computer Corp. já facturavam milhões de dólares e tinham 4000 empregados e o primeiro Macintosh, surgido em 1983, fazia furor.
Nesta máquina original, já se notavam facilidades ímpares no domínio da criação artística. De tal modo que hoje em dia, quase toda a música industrializada e comercializada, passa pelos Mac, já na geração G5, a dos Power Mac, depois dos iMac. A música que se vende em cd´s é também gravada e misturada em PowerMac e o trabalho gráfico e artístico produzido em PowerMacs.
No início do séc. XXI, a Apple, lançou outro pequeno objecto destinado a reprodução musical: o iPod, actualmente em 5º geração e declina-se em modelos Shuffle, Nano e outros mini, capazes de reproduzir iTunes, captados por via etérea, na net global e reproduzidos em sonoridades próximas da original.
Esta capacidade ubíqua dos iPod que se vendem aos milhões, cativou também a atenção da velhinha Apple dos Beatles que accionou em tribunal a novíssima Apple Computer, pela quarta vez e pelos mesmo motivos de sempre: cópia ilegal do nome de marca!
A questão parecia arrumada desde 1991, em que ficou definida a compatibilidade na partilha do nome da Maçã e do logotipo da tentação.
A Apple Corps Ltd dos Beatles, detinha o direito de uso do nome em trabalhos criativos cujo principal conteúdo fosse a música. A Apple Computer Corps, restringia-se ao uso do nome em bens ou serviços que utilizasse para reprodução desses conteúdos, ficando excluído o direito de distribuição desses conteúdos em “physical media”, o que significava a proibição de venda ou distribuição de material musical em suporte físico, para além da metafísica do iPod…
Ora aconteceu que o sistema de distribuição iTunes, da Apple Computer,no entender da Apple Corps dos Beatles, infringia o acordo de vários milhões de dólares e vai daí, no início deste ano, a produtora dos Beatles, accionou judicialmente a companhia de Steve Jobs.
Ontem, 8 de Maio de 2006, um tribunal de Londres, pronunciou o veredicto: Não houve quebra de acordo e a Apple Computer, via iTunes, pode usar o logo da Maçã, à vontade.
“You say you want a revolution”?!
Publicado por josé 00:18:00
Creio que foi por influência da Aple dos Beatles que a Ana Salazar quando criou a primeira loja decididiu chamar-lhe Maçã. Ali na Av de Roma e com roupa pop importada de Londres, a trazer design mais sofisticado, a que os Profírios não chegavam
POuco mais de um mês depois, já há decisão!
Pelo contrário, por cá, uma providência cautelar que é suposto demorar poucos dias, arrasta-se penosamente ao ritmo das couves e alforrecas...
E é um procedimento cautelar! Que faria se fosse a acção que se deve seguir!
Triste...