Estágios, precisam-se
quinta-feira, maio 18, 2006
Cem mil chamadas de telemóvel , efectuadas e recebidas por Luciano Moggi, ex director geral da Juventus, foram interceptadas e escutadas pelos investigadores do escândalo de futebol que rebentou, com estrondo, em Itália.
Os investigadores, neste caso, são 10 polícias ( carabinieri) de Roma, que colaboram no Inquérito conduzido pelo Ministério Público, por 3 procuradores da procuradoria de Nápoles- Filippo Beatrice, Giuseppe Narducci e Franco Roberti. Outros Inquéritos correm nas procuradorias de Roma e Turim, havendo colaboração e diligências conjuntas. Já há prisões, domiciliárias. Já há demissões e colaborações e as provas indiciárias já se discutem abertamente nos jornais e em blogs, de um modo inaudito por cá, nesta santa terrinha de brandos costumes em que as montanhas costumam parir ratos, por condicionamentos severos dos blocos de partos das investigações.
Segundo o La Repubblica de ontem, 17 de Maio, as gravações efectuadas entre Novembro de 2004 e Junho de 2005,( com uma pequena mas elucidativa transcrição publicada) ainda não foram todas ouvidas nem transcritas e precisam ainda de análise dos magistrados para serem validadas em termos legais e penalmente relevantes.
O jornal, no entanto, adianta já ser seguro que das escutas emerge uma rede extraordinária de ligações e amizades entretecidas neste ano, pelo suspeito principal, Luciano Moggi e que envolvem pessoas de várias actividades- ministros (dois), magistrados ( pelo menos quatro) altos expoentes das forças da ordem, dirigentes desportivos, treinadores, jogadores e intermediários e...jornalistas.
O jornal adianta ainda que nem todas as conversas são relevantes para o Inquérito e muitas foram já postas de lado para esse efeito, nomeadamente as relativas a "questões privadas".
O suspeito foi já interrogado, pelos investigadores, durante seis horas resultando daí, cerca de 250 páginas de transcrições das declarações verbais.
As suspeitas incidem sobre um conluio entre o Milão e a Juventus, no sentido de repartirem benefícios...e até o árbitro Pierluigi Collina já foi ouvido durante seis horas, bem como o treinador do Milão, Carlo Ancelotti.
Hoje, segundo relata o jornal, fizeram-se buscas na sede da Juventus e noutros lugares.
Os desenvolvimentos deste escândalo, afiguram-se interessantes, a vários níveis:
O do modo como a imprensa lida com este assunto e escreve com objectividade e conhecimento de causa dos procedimentos; o do modo como a investigação criminal decorre, sem estrondo especial que não aquele que resulta naturalmente do próprio escândalo em si e o modo como os supeitos reagem aos acontecimentos.
Ainda não se noticiou a intervenção de grupos de grunhos das claques do Milão ou da Juventus a proteger os dirigentes. Estes demitem-se logo, sem esperar pela certificação da inocência presumida e os procedimentos judiciários e policiais não são postos em causa pelos visados, contestando a legitimidade e a constitucionalidade dos mesmos.
Seria interessante, por isso, mandar a Roma ou Milão, urgentemente, representantes de duas ou três classes profissionais para um breve estágio de três meses, se tanto:
-um grupo de magistrados do DCIAP, para ver como se faz e estudar métodos e adaptação à nossa lei processual penal que aliás foi inspirada na deles.
- um grupo de jornalistas do DN, Público e JN, para o La Repubblica ou o COrriere della Sera, para verem como se conseguem redigir notícias objectivas e factualmente correctas, informando o público leitor como rigor, interesse e objectividade.
- um grupo de sociólogos que comentam em jornais sobre tudo e mais alguma coisa. Por mim, escolhia António Barreto...que tem defendido a abolição de todas as escutas telefónicas.
Publicado por josé 14:08:00
Quanto ao António Barreto, eu desde que o li, na cena dos "colos", a defender que tínhamos direito de conhecer em detalhe a vida privada dos políticos, deixei de o levar a sério.