À atenção de zés pereiras, gigantones e zabumbas

Nem de propósito! A conceituada revista Economist, ( lida até por Cavaco Silva, segundo consta...), desta semana, destaca um suplemento dedicado aos Novos Media!
Por cortesia da própria publicação que disponibiliza ao público leitor interessado certos conteúdos, o extenso artigo, dividido em partes, pode ler-se por aqui.
E por aqui ficam também alguns excertos interessantes, do artigo que exalta uma nova era que se aproxima a passos certos e largos: a da eventual substituição dos meios de comunicação de massa, pelos meios comunicação pessoais e participativos.

This survey will examine the main kinds of new media and their likely long-term effects both on media companies and on society at large. In so doing, it will be careful to heed a warning from Harvard's Mr Weinberger: “The mainstream media are in a good position to get things wrong.” The observer, after all, is part of the observation—a product of institutional media values even if he tries to apply the new rules of conversation. This points to the very heart of the coming era of participatory media. It must be understood, says Mr Weinberger, “not as a publishing phenomenon but a social phenomenon”. This is illustrated perfectly by blogging".
(...)
the essence of blogginess is “the unedited voice of a single person”, preferably an amateur. Blogs, in other words, usually have a raw, unpolished authenticity and individuality. This definition would exclude quite a few of the blogs that firms, public-relations people or newspapers set up nowadays. If an editor vets, softens or otherwise messes about with the writing, Mr Winer would argue, it is no longer a blog.”
(...)
Conversations have a life of their own. They tend to move in unexpected directions and fluctuate unpredictably in volume. It is these unplanned conversational surges that tend to bring the blogosphere to the attention of the older and wider (non-blogging) public and the mainstream media. Germany, for instance, has been a relatively late adopter of blogging—only 1% of blogs are in German, according to Technorati, compared with 41% in Japanese, 28% in English and 14% in Chinese.

Saborosa, é esta pequena história:
Jung von Matt, uma empresa publicitária da Alemanha, surgiu com uma campanha nos velhos media , intitulada “Du bist Deutschland” ( Tu és a Alemanha) .O anúncio destinava-se a combater o comportamento medíocre da estagnada economia do país, conforme revelou o patrão belga da firma, Jean-Remy von Matt.
Bloggers alemães não acharam muita piada á ideia, topando-lhe o aspecto kitsh e foram desenterrar uma fotografia de uma convenção Nazi de 1935 a qual mostrava um inconveniente retrato da cara de Hitler ao lado de um outro slogan similar “Denn Du bist Deutschland” ( Porque tu és a Alemanha).
Na conversa imediata que surgiu e se gerou na net e nos blogs, a campanha de von Matt, “Tu és a Alemanha” foi arrastada pelas ruas das ignomías e das amarguras, da maledicência dos bloggers acostumados a “dizer mal de tudo e de todos”.
Indignado, o próprio von Matt enviou um email a colegas de profissão no qual se queixava do amargo de boca que lhe deixou a maledicência bloguística e desabafou:
“Os blogs são as paredes das retretes da Internet!” E não se ficou por aí!
Exprimindo tudo o que qualquer Zé pereira frustrado pelo bombo de pele furada, gostaria de proclamar, adiantou em proclamação geral, à espera de apoio da velha guarda:
“Mas porque carga de água é que um tipo qualquer que tenha um computador, deverá ter o direito de dar palpites e opiniões gratuitas, na Internet?”
Logo que este e-mail chegou às mãos dos bravos bloggers alemães, as questões colocadas por von Matt tiveram uma resposta tão pronta e esclarecida que o pobre do publicitário, retirou-se da lide e pediu desculpas públicas.
Por cá, como podemos ver, os tempos ainda não estão para tais Zés pereiras e outras zabumbinhas de mau cheiro, fazerem marcha atrás e repensarem estratégias comunicativas.
Conforme refere a revista, a propósito desta pequena história:
Inadvertently, Mr von Matt had put his finger on something big: that, at least in democratic societies, everybody does have the right to hold opinions, and that the urge to connect and converse with others is so basic that it might as well be added to life, liberty and the pursuit of happiness. “It's about democratisation, where people can participate by writing back,” says Sabeer Bhatia, who in March launched a company called BlogEverywhere.com that lets people attach blogs to any web page with a single click. “Just as everybody has an e-mail account today, everybody will have a blog in five years,” says Mr Bhatia, who helped to make e-mail ubiquitous by starting Hotmail, a web-based e-mail service now owned by Microsoft. This means, Mr Bhatia adds, that “journalism won't be a sermon any more, it will be a conversation.
Dos bombos dos pequenos zés pereiras e das zabumbas que os cortejam e que se abespinham com os outros ocupantes do mesmo espaço de liberdade, apontando-lhes baterias despeitadas, procurando abafar o som dos outros, tocando mais alto, pouco mais se poderá dizer senão que a parada está para durar e cada vez entram mais figurantes que lhes retiram o protagonismo de pretensioso mestres de grupo e de banda .
Por enquanto ainda são poucos. Mas o número aumenta e inevitavelmente a democracia ficará melhor, sem estes bonzos de opereta que não se enxergam nas limitações que espelham a cada postal ou mesmo ilustração.
A democracia é mesmo uma chatice, para certos bonzos e bonzesses.

Publicado por josé 16:14:00  

22 Comments:

  1. zazie said...
    "para certos bonzos e bonzesses".

    Serviço público de primeira, José. Parabéns
    maloud said...
    Hoje ouve-se muito José Afonso. "Traz um amigo também" dá uma progressão geometrica, creio eu, apesar de ser filo-troll-românica, com a devida vénia à criadora, a Zazie. Já estive mais céptica.
    AM said...
    “Mas porque carga de água é que um tipo qualquer que tenha um computador, deverá ter o direito de dar palpites e opiniões gratuitas, na Internet?”

    Por estas e por outras é que "faz falta" comemorar o 25 de Abril!
    formiga bargante said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    formiga bargante said...
    Meu caro José

    Lamento, mas a "sua" Economist está atrasada, pelo menos, dois anos.

    Em 2004 Dan Gillmor publicou o livro "We the Media", no qual analisa a importância da net, dos blogues e muito mais, no futuro da informação.

    Existe uma edição portuguesa, de 2005, da Editorial Presença, com o título "Nós os Média".

    Aconselho vivamente a leitura da edição portuguesa, muito bem traduzida por Saul Barata.

    Cumprimentos
    josé said...
    Caro Formiga:

    Se me dispuser a ir ali procurar um pouco na rima das Wired que empacotei por ocuparem espaço a mais, talvez consiga recuar um pouco mais do que isso.
    Em Fevereiro de 1994 (!) o tema era "is advertinsing finally dead?"
    Em Novembro 1995, o sr. Negroponte perorava extensamente sobre Being Digital.
    Em Dezembro de 1997, a capa era sobre "Citizen Digital"!
    Em Janeiro 1999 o assunto era "The future is all about people"!
    Em Março 2005, "The end of radio ( as we know it)".
    Em Setembro 2005, "The all you can eat Tv of Tomorrow"

    Em Agosto de 2005, um número especial sobre "10 years that changed the world" e um artiguinho muito interessante sobre " The blogs of war"...
    Sabe como é que se soube de Abu Grahib?
    O Pentágono não perdeu tempo, neste caso-e ganhou a batalha. Irá ganhar a guerra que desponta, neste domínio?
    Um dos highlight´s do artigo - " Never before has a war been so immediately documented".
    A questão, aqui e agora, não é quem falou e escreveu primeiro.
    A questão é- quando?!
    E neste quando, há uns gaiteiros, zés pereiras e zabumbinhas que ainda vão tentando sapar a concorrência de opiniões, sugerindo a censura, para afastar maledicências e outras excrescências que os incomodam...
    Get it?!


    Como diria o outro, "that´s not the point"! Em
    e-ko said...
    Está na net um projecto de livro quase acabado, que se propõe ´`a crítica, muito interessante, sobre o tema do poder alternativo dos internautas. Tinha este texto, para traduzir, na manga, quando rebentou a abrupta polémica da fauna das caixas. Fica para os próximos dias la na minha chafarica.
    maloud said...
    Já imaginaram o Salazar a lidar com este fenómeno da net? Não haveria PIDE que chegasse para as encomendas.
    zazie said...
    mas vão vingar como?

    não percebi.
    Então se um blogue é uma publicação pessoal em que medida é que tem de depender de conceitos de mercado para "vingar".

    Não percebi de todo essa lógica. Basta existirem seres humanos ao cimo da terra que queiram escrever online para essa escrita existir e comunicar.

    Como também não percebi de onde vem o maniqueísmo obrigatório de posicionamentos políticos.

    Isso parece-me ser um mero decalque do passado a ser transformado em futurologia com o mesmo esquema mental e mercantil.

    A GL, por exemplo. Não tem "linha editorial" ou posicionamento político específico.

    Este até é o grande constrangimento que às vezes parece fazer. Nunca se consegue arrumar a GL nos tais esquemas. E depois chamam-lhes "justicialistas" e outras coisas assim a dar para o prole e libertário.
    zazie said...
    o sniper também levou à letra censura na blogosfera que não está escrito em lado nenhum. O que o texto fala é de barulho que se sobrepõe. De ruído e baterias apontadas a descridibilizar. E isso tem sido feito. A GL foi comparada ao Muito Mentiroso em programa de televisão.
    O JPP também já os difamou. E o Muito Mentiroso perdeu mesmo o pio, depois de ele o referir em programa televisivo.

    Creio que só isto bastava para não se dizer que há aqui empolamento.
    Até porque o texto refere blogues, nem vai atrás deste último disparate de observação de trolls, à National Geographic virtual
    josé said...
    Tomemos o caso específico de um acontecimento mediatizado pelos media tradicionais ( tv, rádio e jornais).
    Pode ser, por exemplo, o caso Apito Dourado...

    HOje as notícias davam conta de que os processos que envolviam Pinto da Costa e Valentim Loureiro foram arquivados.

    Pois bem. Falta saber muita coisa a este propósito e...quem é que sabe, de facto para poder responder com toda a propriedade?

    Algumas pessoas sabem.
    Sabem por exemplo, os magistrados que trabalharam nesses processos no DIAP do Porto.
    Sabem os advogados que leram e consultaram os processos.
    Sabem os funcionários, incluindo os agentes da polícia que invstigaram os factos denunciados. Sabe a direcção respectiva da PJ.
    Sabem os próprios envolvidos.
    Há muita gente a saber e há pouca gente do público em geral que esteja bem informada.
    Aparecem um ou dois jornalistas que conseguem falar com algum ou alguns desses que sabem e escrevem sobre o assunto.
    Ficamos a saber melhor?
    Não ficamos porque esses jornalistas mediatizam o assunto e tratam a notícia com base em critérios que não são os mais correctos e muitas vezes não são os mais adequados a uma boa informação. Porque não dominam todo o assunto, o que é natural e porque não tem tempo nem oportunidade para o dominar, o que também o é.

    O que pode então acontecer numa sociedade em que os media de massa passem a ser outros que náo estes?

    Podem os próprios intervenientes esclarecer o assunto!

    E isso já sucedeu num caso ou noutro, em assuntos similares.

    É essa a grande mudança. E vai fazer-se porque isso é do interesse do público que quer ser informado correctamente.
    COmo disse, é uma questão de tempo, de quando.
    Por cá, isto ainda está verde.
    Se dou atenção ao despautério do Zé pereira e outras zabumbas, é apenas porque isso é um epifenómeno interessante e revelador do atraso e do reaccionarismo dessas pessoas.
    Só isso...
    António Viriato said...
    Muito a propósito, o artigo da Economist e o seu comentário. Para alguns, a opinião alheia é uma chatice, ainda mais, se sobrevinda para os criticar. Julgam ter o monopólio da razão, do bom senso, esquecendo a caridosa advertência do velho Descartes, que, há mais de 300 anos, o dava, ao bom senso, como a coisa mais bem distribuída do Mundo.Ele há filósofos modernos que deveriam atentar mais nos conselhos dos seus distantes confrades. O nosso azedo JPP decerto concordará...
    maloud said...
    Fui eu que percebi mal, ou o post do José, apesar de ter sido "motivado" pelo episódio canalha, é muito mais abrangente e toca no cerne da questão?
    josé said...
    Maloud:

    Percebeu bem! E há mais, já a seguir...
    maloud said...
    José
    Se me permite a sugestão vá aos comentários do último post do MURCON e leia a Angie sobre isto. Acho que vale a pena.
    josé said...
    maloud:

    Fui ao tal blog do murcon e li o comentário. Não queria fazer muitos comentários porque o blog, que aliás não leio habitualmente, é de uma pessoa que acho simpática e assim, mas não me desperta qualquer tipo de interesse especial.
    Olhe! É daqueles blogs pessoais que surgem na net e devem surgir cada vez mais, para que a rede se torne um espaço virtualmente global em que qualquer pessoa tem voz activa. Têm os seus leitores, os seus comentadores e parece-me que não subscreveriam o despautério do Zé pereira. Mas nunca se sabe...

    Quanto à tese da comentarista Angie, também não a subscreveria por inteiro.
    A personalidade do Zé pereira em causa parece-me mais complexa do que isso.
    E afinal, até acho que o Murcon a poderia bem analisar...embora me pareça que seja bom-serás demais, para tal.
    É mesmo um Murcon, quoi!
    zazie said...
    já estou um tanto farta desta treta mas ainda assim escrevi ao Director do Público.

    Na verdade, a coisa não se tem mostrado tão anódina quanto isso. Há colegas de trabalho que sabem do meu nick e não só. Tenho recebido sms e mails de quem já está a par, até porque são leitores do Cocanha e outros já o eram da Janela Indiscreta. Nem todas essas pessoas me conhecem bem, algumas têm relações em que a coisa pode tornar-se impertinente não só para mim.

    Retirei do texto as considerações pessoais mas salientei as expressões que considero difamatórias.
    «ataques pessoais,
    insinuações,
    injúrias,
    boatos,
    citações falsas e truncadas,
    denúncias»
    zazie said...
    queria dizer que retirei as apreciações subjectivas, é claro.

    Essas cada um as pode tecer, agora dizer-se que eu lanço boatos ou difamo alguém e denuncio pessoas é pura difamação que até já deu o pé para a levarem mais longe.

    Só lamento que essa pessoa apenas o tenha feito no blogue e não publique também o texto no jornal ou "na revista".
    maloud said...
    Zazie e José
    Eu estou farta do JPP, dos trolls e, principalmente do "diz que se diz" internauta. Para mim novata nisto e fazendo da boa-fé um código de vida, foi uma lição. Encontrei de tudo. Solidariedade que não me era devida, mas que existiu, mas, também muita canalhice, não ostentosa como a dos anónimos que "atacaram" a Cocanha e o E-konoklasta, mas dissimulada, subreptícia, de falinhas mansas. Desde há dois dias, dei comigo a comunicar por e-mail, sendo possível, o que não me atrevo a deixar na caixa de comentários, porque temo ser objecto de estudo, e cobaia só sou da Fac de Medicina do Porto, que me agradece e não me insulta.
    Questiono-me, se o defeito não estará em mim. Serei uma inadaptada, como disse o Sniper?
    maloud said...
    José
    Ao início da tarde esqueci isto. Pelos vistos conhecem-se desde pequeninos.
    josé said...
    maloud:

    Já experimentou dar menos importância pessoal ao assunto, embora mantendo a importância geral que assunto merece?!

    Vai ver que se assim fizer, verá as coisas de modo diferente e melhor.
    maloud said...
    José
    Tem razão. Vou tentar.

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