A verdade a que temos direito

Os jornais diários portugueses estão em crise de vendas. Segundo o Diário Digital:
Em 2005, o Jornal de Notícias, perdeu mais de 14% dos seus leitores compradores, ficando abaixo da fasquia dos 100 mil exemplares diários.
O Correio da Manhã que detém o troféu do jornal diário que mais vende, continuou a vender acima dos 113 mil exemplares, mas perdeu quase 2% dos compradores.
O Diário de Notícias caiu quase 14% e vende agora pouco mais de 33 mil exemplares.
O Público, caindo 4,3%, passou a vender cerca de 48 mil exemplares.
Por fim, o diário dirigido 24 Horas, pelo martirizado Tadeu, apóstolo da sua liberdade de expressão, caiu também nas boas graças dos leitores que procuram afanosamente a “verdade, verdade, verdade” a que têm naturalmente direito. Vende agora um pouco menos que o Público. Parca ração. Nem as capas de letras em forma de garrafa lhe valem.

Que se passa então com os diários?! Crise económica? Descredibilização generalizada?

Aposto mais nesta última.

Publicado por josé 20:19:00  

13 Comments:

  1. Maria said...
    É um bom sinal. Para que os jornalistas aprendam a fazer jornalismo sério em vez de darem opiniões pessoais nas quais ninguém está interessado.
    Maria said...
    Claro que são os jornalistas e a mentalidade tacanha que acha que o público precisa de emoção barata e tagarelice e pessoalidade. Os jornalistas sentem-se à vontade demais com o público, não o respeitam, acham-se eles próprios muito importantes. E qualquer jornal, até o Diário Económico, tem artigos de opinião dos habituais comentadores da praça. É uma invasão do espaço do leitor, como se nós não soubessemos pensar por nós próprios.
    maloud said...
    Gostava de saber quantos jornais desportivos se vendem? Todas as manhãs, no café, quase só vejo O Jogo, A Bola e O Record, por esta ordem decrescente. O café é nas Antas.
    Tonibler said...
    Pois é, camarada José. Era bom que todas as actividades tivessem as consequências económicas que têm os jornais quando a sua credibilidade é afectada. Já que falamos nisso, para quando a redução salarial e os despedimentos na justiça? Pois....
    katrina a gotika said...
    Quem precisa de jornais quando temos a Grande Loja?

    (Isto não é ironia.)
    josé said...
    Humm...jornais caros será a razão para a queda de vendas?!
    Pode ser uma parte da razão, mas ficará, sei lá, a meio da razão toda.

    O problema da credibilidade, ou se entendermos de outro modo, de fiabilidade e interesse na informação que nos é dada a ler, nesses diários, representa para mim, uma boa parte dos motivos das quebras.

    Os jornais diários não informam bem, nem sequer razoavelmente bem, em determinadas áreas, ao que me é dado ler.
    Aquela em que estou mais atento será a da justiça. E neste campo, é mesmo uma lástima o que se pode ler, em quase todos os diários.
    Peguemos num caso ou noutro e vejamos, a ler, se o que foi escrito nos informa devidamente...

    Em jornais de referência, merecem destaque as "fontes".
    No Público, JN e no DN, para não falar no 24 Horas e no Correio da Manhã, as fontes estão algumas vezes inquinadas por saberes parcelares, fragmentados, errados também e frequentemente enviesados num sentido que não é o da verdade material que um jornalista tem sempre possibilidade de perceber e aperceber melhor do que um investigador criminal num processo concreto. Este, fica condicionado pelas provas indiciárias válidas. Aquele, pode estender a investigação a pessoas e testemunhos que o informem convenientemente de modo a fazer um juizo mais perfeito e a escrever com outra perspectiva da realidade. O problema parece ser de tempo, ou melhor de timing.
    De um dia para o outro, as notícias fogem...
    Mas penso que há muito, muito mesmo, a fazer, nas redacções, de modo a que os jornalistas judiciários percebam bem o campo em que se movem e as regras utilizadas pelos diversos actores.
    Uma coisa são os factos concretos da vida e que podem ser relatados de modo "naturalístico" e sem a mediação das instituições judiciárias, como sejam crimes de sangue ou económicos.
    Outra coisa, é o relato do jogo processual e das suas implicações concretas nesses factos naturalísticos.

    Por exemplo, o célebre caso do envelope 9:

    Tudo errado, desde o início da reportagem do martirizado Tadeu!

    Contou a busca, realçando e elevando a píncaros inauditos, o aspecto objectivamente insólito que representa a invasão de uma redacção. Pôs a tónica na violação da protecção do sigilo profissional do jornalista, mas não quis saber se houve violação e se houve, se foi legal ou não. Para o jornal e muitos comentadores de outros jornais, a idiea que passaram foi a de flagrante violação de um direito sagrado ligado à liberdade de informação...
    Bastaria porém, uma conversa profícua com responsáveis pela investigação para ficarem a saber que a eventual violação de sigilos profissionais obedece a leis e princípios.
    Ainda hoje estou para ler nos jornais, a informação que esclareça duas ou três coisas simples de entender:

    1. Se os discos rígidos dos computadores foram apreendidos,chegaram ou não a ser bisbilhotados pelos investigadores. Tudo indica que não, mas essa informação foi subtraída, e trocada por outra mais conveniente e insinuada, e que é a de que terão sido...

    2.Logo que o processo ficou classificado no âmbito de um Inquérito criminal, alguém se preocupou em saber qual o prazo máximo desse processo e se o presidente da República tem efectivamente o poder de mandar acelerar um processo dessa ordem, ou até mesmo ordenar urgência na sua conclusão?! Alguém se interrogou seriamente sobre este aspecto e o informou convenientemente?

    3. A partir do momento em que a entidade que investiga, através de um representante máximo, como é o PGR, disse publicamente tudo aquilo que era exigido também publicamente, pela opinião veiculada pelos referidos jornais, porque é que se continuou a insistir noa chincalhamento da instituição e no gozo apontando a displicência putativa dos investigadores, sem compreender integralmente o que se passava?!!

    É desta informação que vamos consumindo e que nos consome.

    Este é só um exemplo, mas que é suficiente para aquilatar da credibilidade e fiabilidade da informação neste campo.
    josé said...
    Outro exemplo concreto, do Público de hoje:

    "Tribunal de Paredes anula acusação por falta de interrogatório de arguido", é o título!
    A gente lê e fica a perceber alguma coisa, mas algo de essencial escapa ao jornalista, porque ficam perguntas sem resposta que facilmente poderia ser dada, caso houvesse mais cuidado na notícia.

    No caso, cita-se um "acórdão para fixação de jurisprudência" em que o STJ "estabeleceu que a ausência de interrogatório de arguido configurava uma irregularidade insanável susceptível de implicar a anulação da diligência."

    Nesta pequena frase, vão imprecisões, irregularidades e desinformação, no fim de contas.
    Será preciso?!
    É credível, fiável, uma informação deste género?!

    O acórdão referido diz, singela e resumidamente, o seguinte:

    "A falta de interrogatório como arguido, no inquérito, de pessoa determinada contra quem o mesmo corre, sendo possível a notificação, constitui a nulidde prevista no artº 120, nº 2, al. d) do CPP".

    Não é uma "irregularidade insanável "(?!!) como o jornalista escreve e isso tem um significado preciso em termos técnicos que não pode ser ignorado.
    Também não é qualquer ausência de interrogatório que conduz à nulidade que não é absoluta, mas relativa. Explicar a diferença entre estas duas coisas do direito processual penal, não é difícil.

    Bastaria ler por exemplo aqui

    Porque é que não se lê?!!
    josé said...
    Outra coisa ainda:

    Quem é que "deu" a notícia ao Público?! Quem será a fonte, neste caso?!

    O jornalista esteve presente?! Não parece...então, como é que soube? Alguém pode saber, lendo a notícia?!
    Diz-se que " O despacho judicial foi proferido ontem"...logo, foi ontem mesmo que o jornalista soube, porque o Público não é um blog onde se escreve em cima da hora e em cima do minuto se publica.

    Logo, ficam as suspeitas sobre a fonte.

    Será advogado?! Se for, há um conhecido, nesse processo ( outra incorrecção pois não se diz qual é , mas deixa-se a menção suficiente para se saber) que já disse publicamente que se quisesse emperraria todos os actos processuais, porque a lei processual penal assim o permite em teoria...

    Enfim, numa pequena notícia, motivos de sobra para exemplificar o que escrevi sobre fiabilidade e credibilidade.
    josé said...
    Atento:

    Essa é a teoria do Pacheco Pereira, hoje no Público.

    Mas não me parece tanto assim.

    Assim que tiver um pouco de tempo, vou escrever mais um pouco a ver se também fico a perceber algo mais.

    Duvido que alguém saiba exactamente as razões todas. Mas mesmo sendo essa uma delas, parece-me que nem será a mais importante.
    A net potencia a leitura- não o contrário, quanto a mim.
    opatrao said...
    Partilhei algumas aulas com futuros jornalistas...
    Logo aí, na universidade, encontramos a principal causa da falta de qualidade dos jornalistas que se reflectirá nas notícias e nos jornais.
    Muito má má formação pessoal (da maioria) e académica. Mas muito fraquinha mesmo. Espíritos fechados com a mania que já são grandes conhecedores de todas as matérias e que, tal como o maioria dos blogers que aqui leio, têm sempre uma opinião e uma teoria "acertada" sobre todos os assuntos... Não há paciência.
    josé said...
    COm uma diferença, Patrão:

    Aqui, as opiniões são grátis e valem o que valem.

    Porque é que passa por cá?! Para ler opiniões fraquinhas?!
    josé said...
    Ou será antes para ler algo que lhe faça pensar mais um pouco, para além da opinião em si mesma que até pode ser fraca?!
    josé said...
    A opinião de Pacheco Pereira, hoje no Público é que me parece fraquinha de todo. Unidimensional e com um único ponto de apoio: o umbigo.

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