Um estudo em cor desmaiada

Num dos últimos programas Prós & COntras, da RTP1, a propósito da liberdade de expressão e a busca em redacções de jornais, participou Artur Rodrigues Costa, apresentado como juiz Conselheiro e que apesar de aí não poder exercer funções jurisdicionais, mesmo assim emprestou a beca da pose, na participação que outros julgaram um pouco apagada.
Não obstante, uma crónica bem mais atrevida, mas ainda assim muito contida, publicada hoje no blog Sine Die, vem redimir de alguma forma a aludida prestação, colocando alguns pontos em ii que ficaram por conta da edição do Expresso de há duas semanas atrás.
Recorde-se que o semanário recolheu a vol d´oiseau a impressão de um professor universitário de Coimbra, precisamente Jónatas Machado, com tese pronta e que defendeu a sacralidade da redacção de um jornal como um lugar de culto divino e por isso inviolável.
Aqui fica a transcrição do blog Sine Die, adiantando que logo a seguir, há outro postal digno de ser lido, assinado por Paulo Dá Mesquita ( que também recentemente foi à TV, mas que assumiu a condição de jurista, mesmo depois de o jornalista do CLube de Jornalistas lhe estender o tapete da rasteira ao querer tratá-lo como magistrado do MP, profissão do mesmo).

Um «case study»
Afinal, o jornal «24 Horas», ao aceder aos registos de chamadas telefónicas de numerosas personalidades públicas, descodificando os respectivos dados informáticos e tornando-os públicos, praticou uma acção patriótica digna de todo o aplauso e provavelmente merecedora de uma medalha, talvez a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Essa parece ser a conclusão a extrair das palavras do Professor Jónatas Machado, que enalteceu essa heroicidade jornalística enquadrando-a na meritória categoria de «jornalismo de investigação» e exortando o jornalismo nacional, tão pobre de exemplos desse género, a seguir esse audacioso exemplo. Esse rasgado elogio do Professor, que escreveu uma tese sobre «Liberdade de Expressão» com cerca de 900 páginas, ficou-me atravessado, e depois de sair do programa «Prós e Contras» vim a pensar nesse curioso tipo de «jornalismo de investigação» inaugurado pelo jornal «24 Horas». «Jornalismo de investigação?» - questionava-me eu com inquietação, enquanto me conduziam da Casa do Artista, onde o programa tivera lugar, para o hotel. Respondia absortamente às observações do simpático motorista sobre o tempo, a paisagem urbana envolvente, as ruas desertas àquela hora nocturna. «Jornalismo de investigação?», ia eu matutando. Bem! uma pessoa está sempre a aprender, não é? Mas a verdade é que isso me baralhava os conceitos, e de que maneira! E dizia para comigo que, nestes tempos que estamos a viver, não há nada que se possa ter por assente. Se alguma coisa há que se possa ter por assente, ela é a confusão. Cá para mim, aquilo que o jornal «24 Horas» tinha feito não passava da exploração sensacionalista de um incidente, muito adequado a proporcionar ao jornal o seu momento de glória e a fazer acrescer o rol de incidentes com que certa imprensa vai, interessadamente, lançando o descrédito sobre um processo em curso. Mas, pelos vistos, se um conceituado académico nos assevera que se trata de uma genuína investigação jornalística, então talvez tenhamos de ver nessa acção um enriquecimento do género. E talvez isso seja digno de um aprofundamento teorético à altura, como verdadeiro «case study».
Publicado por Artur Costa


Comentário ao texto:

Artur Costa não refere, mas o tipo de jornalismo de investigação de que fala o professor Jónatas, constituiu um crime indiciado de divulgação de dados pessoais. Foi por isso que se fez a busca à redacção do jornal, segundo o comunicado da PGR. A maioria dos comentadores encartados refere-se à busca no jornal como meio de investigação do crime de violação de segredo de jurtiça...esquecendo ou nem sabendo sequer distinguir esse facto anódino, do outro verdadeiramente relevante e que se referia ao tal "jornalismo de investigação" que passou por notícias tão relevantes para o interesse público como foi a dos males urinários de um conhecido ex ministro socialista e outras curiosidades relevantes, como foram a de saber quem são os cabeleireiros de certas figuras do Estado ou os estabelecimentos comerciais que fornecem alguns desses clientes que foram identificados como nome.
Faltou ainda referir a este propósito- e não consta que no programa de tv tivesse sido referido-, que os elementos indiciários que eventualmente residam no disco rígido dos computadores apreendidos, ainda não terão sido analisados, por força da lei que obriga a que seja um tribunal superior a autorizar essa devassa.
Logo, cai por terra o argumento da classe jornalistas mais corporativa que vir nessa busca um atentado ao direito e liberdade de informar.
Mas estes pormenores que valem , se o que conta é a confusão lançada deliberadamente em crónicas avulsas e o pedido insistente da demissão do PGR e o aviltamento constante do MP e do poder judicial por arrastamento?
A quem serve esta estratégia de aranha?!
Ao poder político, for sure.
Quem perde com isso?
Todos nós, vulgares cidadãos, pela certa.
Sendo assim, percebe-se muito bem a posição de certos comentadores de jornal muito entendidos em desentendimentos. A vidinha tem constragimentos estranhos.

Publicado por josé 14:36:00  

1 Comment:

  1. Cavalo Marinho said...
    http://desfechaclavinas.blogspot.com/2006/03/porqu-tanto-chinfrim.html#links

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