"O envelope 9"
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
À pala" do "envelope 9" - aquela espécie de lista telefónica elaborada à volta do processo "Casa Pia" da qual constava, entre outros, o número da cabeleireira da Sra. de Souto Moura e o telefone fixo do dr. Sampaio -, agentes da PJ, "comandados" por um juíz de instrução criminal e por magistrados do MP, irromperam pela instalações do tablóide 24 Horas, mandaram parar os computadores, fizeram cópias de discos rígidos e, fatalmente, constituiram arguidos alguns jornalistas. Foi por causa deste "envelope 9" que o dr. Sampaio falou ao país, indignado, há cerca de um mês, prometendo levar a coisa até às últimas "consequências". Foi igualmente por causa do "envelope 9" que o sr. PGR estimou "inquirir" tudo rapidamente e, por o não ter feito, apareceu a "dar explicações" no Parlamento em que o titubeante contraditório político permitiu que "brilhasse". É, pois, aparentemente no âmbito do tal processo de investigação "rápida" que esta investida contra o 24 Horas se insere. Eu detesto o 24 Horas, naturalmente. Todavia não posso deixar de relevar como "extraordinária" a "reacção" dos órgãos de investigação criminal, "apenas" quase um mês depois dos factos consumados. Se o tablóide publicou aquilo, alguém lho fez chegar. Nunca mais me hei-de esquecer de uma tarde, há uns anos, em que encontrei numa esplanada um então famoso jornalista especializado em "detectar" processos judiciais em "segredo de justiça" a ler tranquilamente uma cópia de uns autos quaisquer. Se eu quisesse, também a tinha lido. Tudo o que "rodeia" o caso Casa Pia normalmente fede. O "envelope 9" é apenas mais uma peripécia e é bem provável que as "buscas" incluam ainda os escritórios de alguns advogados de defesa. De acordo com as autoridades criminais, houve "acesso indevido a dados pessoais". Pois houve. Resta saber a quem é que esses "dados pessoais" estavam confiados e quem é que promoveu o tal "acesso indevido". Os jornais, tablóides ou não, precisam de sangue, suor e lágrimas como de pão para a boca. A questão é achar o dador. Será que é isso que procuram? A sério?
Publicado por João Gonçalves 18:20:00
10 Comments:
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tinham começado pelo juíz justiceiro do pº Casa Pia.
Devia ter sido o primeiro a ser averiguado.
E no mínimo, tê-lo transferido para Bragança.
É para estas coisas que o engenheiro técnico José de Sousa nos vai ser muito útil com o seu milagroso choque tecnológico...
Toda a gente reclama o facto de o segredo de justiça estar a ser sistemáticamente violado e agora que alguém põe os pés a caminho para tentar decifrar a situação todo o mundo reclama contra o facto.
È melhor voltarem aos livros antigos da Primária e lerem a estória do Velho do Burro e do Rapaz!
Além disso, estamos a falar de uma busca judicialmente autorizada, no âmbito de um processo criminal, e não de um acto pidesco.
Já não era sem tempo de alguns "lugares sagrados" serem "profanados", porque NINGUÉM se deve julgar acima da lei. Especialmente alguém com o dever de informar a população em geral.
Com todas as buscas e apreensões feitas dentro da mais estrita legalidade, foi interessante ver o Sindicato dos Jornalistas mostrar tanta preocupação. É que não vejo o Sindicato preocupado com as constantes violações de segredo de justiça, nem a punir jornalistas ou sanear redacções...
Na minha opinião as questões a apurar são: quem pediu aquelas informações (parece mais ou menos claro que foi o MP); que tipo de informações eram (parece mais ou menos claro que eram as chamadas efectuadas pelo arguido PP); quem remeteu as informações ao processo (parece mais ou menos claro que foi a PT através de um seu funcionário);
que informações vieram (parece claro que além das chamadas efectuadas pelo arguido PP, vieram as chamadas de outras figuras do Estado, incluindo o próprio PGR); alguém, antes do 24 horas, deu conta disso? se deu, porque tais informações não foram eliminadas? quem passou as informações ao 24 horas? o 24 horas podia ter publicado aquelas informações? se não podia, quais são as consequências legais?