Pastelaria Cister
segunda-feira, janeiro 30, 2006
Um acaso feliz levou-me a encontrar José Medeiros Ferreira num famoso café perto de sua casa, ao Príncipe Real. Precisamente no mesmo sítio onde, vai para vinte e sete anos, e por causa do "Manifesto Reformador", nos cruzámos. Nessa altura eu tinha todas as ilusões do mundo sobre o “homem” e o “futuro”. Agora não tenho nenhumas. Fiquei satisfeito por permanecermos ambos “reformadores”, um no registo "optimista", o outro no que se pode ler aqui. Ele, do lado “esquerdo” da vida pública, e eu modestamente mais inclinado à “reforma” do encosto “direito” do regime. Sempre admirei em Medeiros Ferreira e na sua intensa actividade política a capacidade de promover uma subtil e permanente aliança entre a reflexão e a acção. O impulso do “terceiro soarismo”, gorado nas urnas, vem daí, mas a história regista outros cujo acerto é hoje indiscutível. Quem sabe se, mesmo este, com o decurso do tempo, não se revelará interessante. O presidente Cavaco prescindirá de ouvir, em determinados contextos, Mário Soares? Mas adiante. Por causa da “justiça”, Medeiros Ferreira recordou-me um “desafio” não correspondido pela Grande Loja – sítio onde a “justiça” faz correr rios de posts – em que, a propósito do papel do Ministério Público, se falava do “recuo do estado acusador”, considerando as posições de alguns sobre o papel da Procuradoria Geral da República no contexto do Estado democrático de direito. E rematámos a conversa da melhor maneira, com Mitterrand, por causa dos cultores da superficialidade política. Escrevia Mitterrand, em "L’ Abeille et L’Architecte", que existe uma classe de políticos com algumas convicções e com muito métier. Apesar das discordâncias dos últimos tempos, arrumadas com a vitória de Cavaco Silva, eu continuo a preferir os homens com convicções e menos métier, mesmo quando concordo ou não concordo com eles. Homens contraditórios e por isso mais densos, como Medeiros Ferreira.
Publicado por João Gonçalves 18:19:00
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