Antes as SCUTS III
quarta-feira, janeiro 04, 2006
O ilustre JCD esquece-se de mencionar duas coisas ou três coisas:
1) Subavaliação quer dizer isso mesmo. O Estado assumiu mais responsabilidades do que declarou na altura, e é por isso que as contas ficam "curtas". O problema é que o Estado tirou menos do bolso esquerdo do que o que lhe falta no direito. Na altura, o PSD em peso batia no peito que a operação não onerava o erário público.
2) Se (devia ser quando, como no caso dos CTT, mas ninguém quer falar disso) a CGD for privatizada, quem ganha é quem a comprar (ao bolso esquerdo), e sem o ónus do fundo de pensões, e escusamos de achar que o Estado consegue fazer reflectir este valor no valor de venda. A experiência vale ouro nesta matéria.
Vou andar a financiar os lucros dos futuros accionistas da CGD (e dos CTT), como andámos e andamos todos a financiar os lucros dos accionistas da PT, EDP,, etc., todas empresas devidamente "limpas" dos seus problemas financeiros (e de excesso de pessoal, através de generosas pré-reformas que todos temos de suportar) antes de serem vendidas, tudo isto à minha custa e à tua, meu caro, porque te tomo por bom pagador dos tributos que deves;
3) Fundos de pensões com rentabilidade de 8,2 por cento em 2005. Os privados, claro, que os públicos ...;
4) O prazo de "amortização" do buraco é de quase 70 anos. A CGD, se tivesse retido a responsabilidade, teria de o fazer em muito menos prazo.
Publicado por irreflexoes 19:19:00
Já leu o relatório?
Suponha que tem 10€ num bolso e que deve 15€ a alguém. Faltam-lhe 5 euros.
Agora passa esses 10€para o outro bolso e diz que os 10€ são para pagar a dívida a esse alguém.
Continuam a faltar-lhe 5 euros. Chamar-lhe subavaliação, défice, buraco, descoberto ou alberto não muda nada. Faltavam 5 euros e continuam a faltar os mesmos 5 euros.
O tribunal de contas agora gritou que faltam 5 euros. Surpresa. Podia também ter dito que já faltavam antes.
Na prática a operação é neutra. Os fundos estavam sub-capitalizados e continuam sub-capitalizados. Fica tudo na mesma, só mudam os nomes das coisas.
2. Se a CGD for privatizada em mercado aberto ao valor justo (por exemplo, em leilão livre ou em IPO na bolsa de valores) o seu valor será maior por já não ter o ónus das pensões que não vai ter que pagar. Claro, se o estado vender a CGD em negociatas privadas à moda do ministro Pinho e de outros que o antecederam, tudo pode acontecer.
De qualquer modo, é absolutamente evidente que o estado ou qualquer vendedor consegue fazer reflecir essa mais valia no valor da venda.
Quando se faz uma avaliação, calcula-se o valor actual dos cash flows esperados. As necessidades esperadas para suprir as faltas nos fundos de pensões entram sempre nas contas, ou porque os cash flows futuros são menores, ou porque, se titularizadas, serão equiparados a dívida. A dívida de uma empresa desconta sempre ao valor da empresa e desconta de um modo absolutamente linear.
O valor da CGD aumentou no montante exacto das estimativas do valor actual das necessidades futuras do fundo de pensões.
3. Não sei. Não vi, mas as diferenças não serão assim tão grandes entre uns e outros porque as regras de gestão dos fundos, tanto quanto sei, aplicam-se tanto a públicos como a privados. Julgo que já lá vai o tempo em que as administrações dos bancos públicos davam ordens aos gestores dos fundos para comprarem acções de 'a' ou de 'b', geralmente para safarem a cara do banco numa operação em vias de default.
4. Para a sociedade é irrelevante os critérios contabilisticos seguidos para estas ou outras manigâncias. O cash conta sempre no momento em que faz falta e o 'buraco' irá sendo tapado na data em que o estado tiver que fazer face às obrigações assumidas.
Está visto que a nomeação de Oliveira Martins foi um erro grave para a credibilidade de uma instituição.
Precisamente! Não será este um motivo suficiente para o alerta do TC?
Um abraço.