Antes as SCUTS II
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Sempre disse de Manuela Ferreira Leite que não concordava em nada com ela mas que a considerava uma profissional competente (isto é, sabia bem a asneira que estava a fazer) e uma pessoa séria.
Essa imagem fica fortemente abalada com as declarações alegadamente prestadas há pouco à TSF, por estas singelas razões:
1) A história de "não se arrepender de qualquer acção feita durante o tempo em que foi ministra das Finanças para respeitar os limites do Pacto de Estabilidade e Crescimento" (cito a TSF, não a própria) é intelectualmente pobre.
Primeiro porque lembra aquela do "Nunca me engano e raramente tenho dúvidas".
Segundo, porque não se sabendo ainda o resultado de muitas das operações em causa, nomeadamente a titularização de dívidas fiscais e à segurança social, é prematuro dizer seja o que for.
2) A desconversa a propósito da natureza da transferência operada dos CTT para a CGA não tem razão de ser e não lhe fica bem. A ser como diz aquela empresa teria dito alguma coisa quando ouvida, e não disse (p. 89 dos Anexos). Ou a CGA. E também não disse (p. 85 e ss. dos Anexos).
3) O envolvimento do nome de Sousa Franco (e estou à vontade porque lhe tinha - tenho - o maior dos respeitos e carinho, mas critiquei a operação há muito tempo) e de uma operação em escala bem menor feita há quase 10 anos, é chicana política da pior espécie.
Nota adicional ali para os comentários ao post anterior:
a) Se citar relatórios do Tribunal de Contas publicados na Internet e já hoje de manhã citados em metade da imprensa é promover "fugas de informação" vou ali já venho.
b) Criticas ao actual Governo não têm faltado por aqui. Contra a Ota, com reservas ao TGV.
c) A diferença entre as SCUTS, o TGV ou whatever é que estamos a pagar, é certo, mas em troca de um activo. Nos casos dos fundos de pensões e da titularização de dívida pública estamos a pagar (ou a não receber) a troco de nada. Capisce?
Em adenda, as minhas desculpas ao V. André por andar aqui a estragar uma paisagem tão bem escolhida.
Publicado por irreflexoes 12:04:00
Mais afirma Manuela Ferreira Leite afirmou "que a operação relacionada com os CTT não foi uma transferência de um fundo de pensões.
"Se nesses cálculos estão metidos no mesmo saco os CTT, a Caixa Geral de Depósitos e todos os outros que foram feitos então há um erro técnico lastimável".
O que, convínhamos, dá outro sentido ao título " Ferreira Leite afirma que não se arrepende das medidas tomadas enquanto ministra".
a) A expressão 'fugas de informaçã' estava entre aspas, tentando ressalvar apenas a forma cuidada como as informações chegam ao público. Ou seja, tal como as fugas de informação (verdadeiras) não há inocência na sua divulgação;
b) Pelo menos da minha parte não houve nenhum intenção de critica ao governo (este ou anteriores). Sobre este tema parece-me que todos trabalham com base na mesma sebenta;
c) E finalmente, para responder à sua dúvida, na TSF creio que foi explicado que a principal contrapartida foi a de ganhar TEMPO. O facto de não se ter rentabilizado esse tempo adicional, efectuando reformas de despesas pública, é que deverá ser confrontado. Para além disso a contrapartida mais imediata foi a dos activos que transitaram para o estado, bem como os rendimentos futuros que deles advêm.
Mas para terminar, e sem querer repetir o comentário anterior, reforço a ideia de que se trata duma questão de bolsos. O que, a mim, chateia é o facto disto ser notícia, quando de facto não é.
A nós, ao público e ao povo tocam-nos como qualquer guitarra velha... um acorde aqui e aplausos, outro acorde acolá e indignação. Isso sim, é que chato, mesmo muito chato.