o nacional-croniquismo

Atente-se nesta crónica de João Paulo Guerra no Semanário Económico e que começa assim:
"Aconteceu em Beja. Um inquérito judicial relativo a uma queixa por assédio andou cinco anos em bolandas no tribunal. "

"Um inquérito judicial" ,o que é?
"Uma queixa por assédio", o que é?
"cinco anos em bolandas no tribunal", o que significa exactamente?

Toda agente sabe o que é um "inquérito judicial"; uma "queixa por assédio" e o que é andar "cinco anos em bolandas no tribunal". Por isso, toda a gente já ficou a saber do que se trata.
Assim, o rigor nessa informação, mesmo numa crónica, é bem escusado. Se virmos bem, nem é isso que interessa- sabermos que os inquéritos judiciais não se chamam assim; que o assédio não é crime enquanto tal e como tal( excepto em telenovelas brasileiras) e que cinco anos em bolandas, significa zero em termos de rigor informativo.

O que interessa ficar a saber e assim se passar a mensagem, é apenas isto:

"O Governo francês apresentou desculpas em nome da instituição judiciária, o Ministério Público reconheceu com humildade que errou. Ora isto seria impensável em Portugal onde a justiça é exercida em nome do povo mas - salvo honrosas excepções - com um espírito corporativo que, julgando-se em causa própria, se proclama competente, imparcial, instruído, erudito, sábio, douto e meritíssimo. Apenas o sistema é que não ajuda."

Está percebido, o recado?! É que ficou dado...
Não foi exactamente João Paulo Guerra quem crismou a antiga canção portuguesa pimba, de nacional-cançonetismo?!

Publicado por josé 18:25:00  

5 Comments:

  1. zazie said...
    mais outro KO ao primeiro round!

    ":O)))
    Tonibler said...
    Bem josé, continuo a fazer a figura de andar a defender jornaleiros, mas tem que ser.
    5 anos em bolandas quer dizer 5 anos para resolver algo. São 5 anos, em que habitualmente é o josé aqui a pedir em 4 que o governo lhe resolva o país. Alguém pedir que lhe resolva o problema em 5 é pedir muito? Claro que não.
    Se o problema se chama inquérito, ou se chama antónio, é irrelevante para o cidadão pagante, ou não?
    josé said...
    tonibler:

    Eu não peço nada em quatro anos, a não ser humildade para perceber o que é preciso resolver.

    Mas conheço quem pediu em 1987 meios materiais e apontou deficiências evidentes e profetizou catástrofes evidentes que aconteceram, como é o caso das prescrições penais!
    Conheço e bem: foi o SMMP, por exemplo! E está documentado.

    18 anos depois disso, o poder político/legislativo ainda não resolveu esses problemas...

    COmo já escrevi, o conhecimento dos fenómenos sociais, particularmente os da Justiça , enfrentam muitas vezes paradoxos.
    Para os perceber, é expressamente necessário entender as regras e as leis que os regem.
    Não se podem compreender esses fenómenos utilizando uma epistemologia das ciências económicas ou menos ainda da gestão, como me parece que o tonibler faz.

    Mas talvez essas ciências possam apresentar modelos de organização válidos para lidar com a gestão de pessoal ou até de organismos.

    Comece-se pelos do Ministério da Justiça que já apontei em postal anterior. Há milhares de pessoas a trabalharem em organismos que ninguém conhece e de cuja eficiência depende a de muitos outros.
    antonio romao said...
    Caro José:
    O problema do JPGuerra, que foi radialista de qualidades impares,e de tantos outros com acesso aos meios de comunicação seja falada seja escrita, é que não conseguiu refrear os ímpetos. A moda de alguns anitos para cá é bater na ceguinha (ainda por cima vendada e com balança não aferida ).Primeiro timidamente, só ao alcance de alguns ignorantes em leis mas atrevidos qb, e agora à fartazana e despudoradamente, até por quem deveria ser mais contido. Que importa o rigor? Opina-se porque no momento é o que está a dar apesar de muitos se sentirem desconfortáveis por terem de falar do que não sabem.No caso do texto do JPGuerra então não é evidente que deveria explicar aos leitores as razões do atraso? Quais os "apeadeiros" e o tempo de paragem? Não seria assim tudo mais à séria? Mas será que isso interessa? Primeiro bate-se e depois...já não vale a pena perguntar porquê!Uma apagada e vil tristeza.
    valmoster said...
    Ó José, por falta de meios para resolver este e outros problemas nunca fizeram greve.

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