Leituras em dia
domingo, novembro 27, 2005
Por estes dias, apanhar uma montra de livraria com novidades em barda, é banal.
Supostamente, com a aproximação do Natal, as pessoas ficam com mais vontade de ler…ficam?!
Não. Recebem o subsídio do mês e os livros são apenas mais uma hipótese para prenda de sapatinho. Por isso, as editoras apostam em lançar novos títulos e repescar outros de fundo de catálogo.
A bem dizer, a maior parte das obras publicadas, ficam nas estantes e armazéns dos livreiros, para enfeitar feiras do livro, em Junho.
E, na verdade, quem é que no seu perfeito juízo, vai querer ler a nova opus magnum de JPP sobre o falecido Cunhal, quando tem mesmo à mão e ao lado, uma outra sobre um codex e mais uns códices secretos?
Quem é que vai escolher a scripta de um Lobo Antunes quando pode ler os escritos intimistas da Filomena Mónica? Por mim, já estou a ler o Bilhete de Identidade desta última, para entender um meio que nos deu valentes cronistas e frustrados escritores.
E o último de Saramago?! Para dizer a verdade, comprei-o. 11 euros e pico. Num intervalo lúcido pensei que tinha feito uma asneira. A escrita tem uma pontuação esquisita e leva o seu tempo a perceber. Foi exactamente por isso que esportulei a nota: para ler. E perceber se deve alguma coisa a uma certa aventura de Martin Milan, da minha adolescência, como li por aí. Se dever, prometo dar conta.
Em Portugal, se quisermos saber o que vai saindo nas edições que devemos fazer? Ouvir o professor Marcelo, ao Domingo? É uma hipótese, porque nem há muitas mais. Mas é muito mais produtivo parar numa montra e espreitar. Pelo menos, temos sempre a possibildiade de acertar em alguma coisa interessante.
Em Espanha,para nos orientarmos nas leituras, sempre poderemos folhear a Leer. Em Itália, podemos consultar a Italia libri.
Na Inglaterra, há muito que se publica o Times Literary Supplement, semanalmente aliás.
Em França, para além da snob Magazine Littéraire, que alimentou a nossa intelectualidade estruturalista e sessentista, temos uma mais popular, a Lire que perfez há pouco 30 anos, publicando um número de antologia e que apetece folhear mesmo sem ler.
E em Portugal, sobre autores portugueses, em particular?!
Para além da LER do Círculo de Leitores, cujo site triste é este que podem ver, sem ler seja o que for, o que podemos procurar para pesquisar o que vai saindo?
As editoras podem estar catalogadas. Até podem trazer as novidades. Mas falta-nos um vade mecum. Falta-nos quem nos diga se o livro presta, depois de nos dizer do que trata e de nos fazer reflectir sobre o tema.
Falta-nos uma Lire, já que nunca chegaremos a ter a Magazine Littéraire e muito menos um arremedo sequer de um Times Literary Supplement.
Não há ninguém que arrisque?!
Publicado por josé 23:42:00
Mas não vale a pena. VPV disse tudo na crónica do Público de ontem, chamada Delírios.
"Cavaco, como toda a gente sabe, ganha á primeira volta. (...)
Cavaco representa bem o silêncio de Estado, como quem engoliu, para impressionar o povo, toda a respeitabilidade e responsabildiade do mundo. Mas, quando desce da altura etérea onde subiu, a pobreza é quase absoluta."
Cavaco anda por aí a espicaçar, e da pior maneira, a esperança dos portugueses. Se depois não mudar o país de ponta a ponta, não o espera a homenagem da pátria agradecida. Ele que repare nas linhas com que se coseu."
Aquilo que li no blog, é exactamente aquilo que me lembro de ter pensado em 1995, quando Guterres ganhou.
Cavaco estava desacreditado. Mesmo assim, que tivemos depois?!
Tivemos pior, em termos económicos.
Agora, vamos repescar um indivíduo que traz na sua cola, precisamente aqueles que o desacreditaram: Dias Loureiro et al.
Estamos bem servidos...
nao se faz uma coisa dessas
Verdade que o tema não é político stricto sensu. Mas é culturalmente político.
COmo diz, o Carlos Pinto Coelho era uma mais valia na tv. Tomava-se um pouco por um Bernard Pivot dos tempos áureos de Apostrophe da Cinq francesa. Tenho saudades do programa que tinha um estilo e um cunho próprios.
Mas falamos de revistas e de papel e nesse sentido, do tacto.
O tacto que temos à disposição, é pouco notório.
Podemos julgar que um Pedro Mexia que lê aparentemente como quem respira, e tem algum sentido de humor desprendido de si mesmo, poderia dirigir uma revista literária de divulgação.
O Independente de Miguel Esteves Cardoso, em tempos fez isso, com um suplemento do jornal, mas esgotou-se a inspiração... ou o dinheiro.
O Independente, aliás, foi um bom viveiro de inovações culturais e populares.
Acabou o espírito. Sobra a politiquice e ficamos mais pobres.
Para além disso, a malta da geração de setenta, alinha mais nas Maxmen e outros sucedâneos da Playboy da minha adolescência.
Mesmo que estas tivessem que ser lidas( e compradas) às escondidas ( e sempre, sempre, por causa dos artigos...), não substituiam a presença de outras revistas dedicadas ao tema de ler/ouvir escritores; de ler críticas e crónicas; de ver ilustrações.
Temos por isso um défice cultural importante nesta área.
Teremos neste momento, porventura, pessoas capazes de o suprir?!
Não sei.
Sei que apesar do tema ser livros e leituras através de revistas, a questão cavaquiana tem muito a ver com este estado de coisas.
Aposto o qeu quiserem que Cavaco nunca deu, muito menos leu a Lire. Ou, se calhar o TLS.
Se leu, terá sido por causa da mulher. Mas mesmo assim...duvido.
Não quero ser injusto para com a Ler do CL.
Graficamente, parece-me uma maravilha. Comprei uma vez um número por causa do arrumo gráfico.
Mas ainda não é o que gostaria que fosse.
A última Magazine Littéraire traz um artigo sobre Platão com ilustrações sobre a alegoria da caverna. Quem se atreveria a tal no nosso meio, sem medo de ser ridicularizado?
O suplemento Actual do Expresso faz alguma coisa para colmatar o vazio. Talvez seja por isso que ainda compro o Expresso.
Mas, para mim, uma revista deste género, tem de ser multicultural, no sentido de não se enfeudar a capelinhas, sejam elas universitárias ou de tertúlia amiguista.
Escrever sobre o Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica exige um conhecimento de época e uma abordagem "multidisciplinar".
Se houvesse um único crítico capaz de o fazer, já me dava por satisfeito.
Não pode ser um Mexia. Não deveria ser um Pulido Valente, já que a escrita seria sobre ele próprio.
Mas para entender o que quero dizer, lembra-se do artigo do mesmo Vasco Pulido Valente sobre o Cunhal, publicado no Público quando aquele ícone comunista morreu?
É disso que falta.
Escritos sobre assuntos que se percebam e tenham relação com a vida. Mesmo que sejam ficção...
Conhece um livro de Tom Wolfe chamado Hooking up?
Tem um pequeno texto sobre os "Three Stooges"
O NYTRB fez assim a recensão, nessa parte:
"''Hooking Up'' has only one previously unpublished essay, ''My Three Stooges.'' Not since Mary McCarthy and Lillian Hellman have we had such an amusing literary catfight as the one that began when John Updike, Norman Mailer and John Irving trashed ''A Man in Full.'' Wolfe bites back, calling Updike and Mailer ''two old piles of bones,'' ''two old codgers'' and ''exhausted carcasses.'' ''I was 68,'' he writes, venomously, recalling the Grumpy Old Men spleenfest that his book sparked. ''I knew how it must have drained them. . . . In interviews Updike was already complaining about his aging bladder. Mailer, I noticed, was appearing in newspaper photographs supporting himself with two canes, one for each rusted-out hip.''
He says his three attackers were ''encapsulated in their neurasthenia,'' and had ''wasted their careers by not engaging the life around them,'' by ''turning their backs on the rich material of an amazing country at a fabulous moment in history.''
IN defending his own brand of reported novels, which he says are in the tradition of Dickens, Theodore Dreiser, Sinclair Lewis, Balzac and Zola, Wolfe -- who probably could have predicted the new rage for ''Survivor''-style reality programming -- offers this polemic: ''Instead of striding out with a Dionysian yea-saying, as Nietzsche would have put it, into the raw, raucous, lust-soaked rout that throbs with amped-up octophonic tympanum all around them, our old lions had withdrawn, retreated, shielding their eyes against the light, and turned inward to such subject matter as their own little crevice, i.e., 'the literary world,' or such wholly ghostly stuff as the presumed thoughts of Jesus.''
''The American novel is dying, not of obsolescence but of anorexia,'' he declares. ''It needs . . . food. . . . It needs novelists with the energy and the verve to approach America the way her moviemakers do, which is to say, with a ravenous curiosity and an urge to go out among her 270 million souls and talk to them and look them in the eye.'' I'm not sure we should be aiming to achieve the artistry of moviemakers, since Hollywood can barely seem to turn out any movies anyone wants to see. But I agree with the general pulse-of-the-beast idea. And any time Tom Wolfe wants to take a fresh bite of our lurid carnival, I'll be there. "
Alguém seria capaz de escrever por cá, deste modo e sobre, por exemplo Saramago?!
Sem dó nem piedade?!
Vamos falar da Atlântico?
Quando saiu, ocorreu-me que poderia ser uma revista de largo espectro para combater a ignorância.
É nada. Já comprei uns tantos números, sempre ao engano de tentar descobrir artigos de luxo, originais no conceito e nas ideias.
Até agora, é só material de segunda escolha.
No outro número dei em ler um artigo sobre a descolonização. Perda de tempo.
A Atlântico não ultrapassa o diletantismo de um João Miranda ( do Blasfémias).
Para mim, é uma espécie de revista blog. Escreve-se por lá n´importe quoi. COmo por aqui, aliás.
Mas no que me diz respeito, a opinião é grátis e tem o valor efémero de um postal.
E por aqui não há patrocínios de bancos e seguradoras ou empresas públicas prósperas...