A França vista de cá
terça-feira, novembro 08, 2005
Para se perceber melhor o sentimento que os acontecimentos de França despertam por cá, talvez valha a pena ler alguns blogs. Mais do que os jornais e media em geral, aí se escreve a opinião diversa do politicamente correcto que por vezes advém da pressa em escreve qualquer coisa.
Por exemplo, aqui, no 4R-Quarta República, pode ler-se a opinião de um sociólogo:
(...)"Como é natural, o que há de comum é a condenação da violência e da intolerância. Mas logo de seguida vêm as teses da integração e da inclusão social pelas palavras de Sampaio e Soares. Aquele fala da necessária “capacidade de integração”, este das políticas de “inclusão”. Nos dois a mesma raiz ideológica que atribui à desigualdade e à exclusão a legitimidade social da violência, transformando os réus em vítimas e passando um pano desculpabilizante sobre as acções dos amotinados. Nem sempre o conflito decorre da lógica estritamente social, das desigualdades e da exclusão, e este parece-me ser um dos casos mais evidentes."
Aqui, no Blasfémias, reaviva-se o fantasma de Maio de 68 , para alimentar obsessões:
"Há uma geração que cresceu politicamente embalada nas lendas gloriosas dos lutadores pela liberdade (!?) dos anos 60 do século passado. Que apreendeu a sua realidade nas letras das músicas de vanguarda, nos relatos mistificados do Maio de 68, em visões deturpadas da história e nas recordações das ocupações selvagens das Universidades onde alguns foram revolucionariamente recompensados com passagens administrativas.Muitos deles petrificaram para sempre o seu cérebro nesses míticos lugares. Ainda que se tenham tornado burgueses barrigudos e contagiosamente bocejantes, julgam-se cavaleiros andantes (sem Antero) sempre prontos a afrontar a autoridade e a desafiar o status quo.
Nunca o fazem, porém. Até porque eles são o actual status quo. Mas gostam de fingir para si próprios que não."
Aqui, no causa nossa, prima o simplismo da ideia feita, eventualmente correcta mas com correcção essencialmente política e que vai ser retomada pelo socialismo partidário:
É evidente que a prioridade é acabar rapidamente com a onda de violência e restabelecer a ordem e a segurança pública nas cidades francesas. Mas seria ilusório pensar que depois tudo pode ficar na mesma, com a prisão e condenação de algumas dezenas de responsáveis pelas destruições ocorridas. A situação de crise que os gravíssimos desacatos em Paris e noutras cidades francesas vieram evidenciar carece de respostas políticas de fundo que proporcionem uma esperança de vida decente e digna para todos os que habitam os subúrbios degradados por essa Europa fora. Quando Paris está a arder, convém lembrar que nem só ela é combustível...
Aqui, Do Portugal Profundo, contextualiza-se politicamente e descreve-se o fenómeno aculturado:
Racaille em verlan, a língua contraditória e sincrética da zone, dos jovens voyous. A escumalha dos vagabundos a limpar com o Kärcher de Sarko. Keufs contra keums. CRS brancos contra rebeus maghrebinos. A palavra república gasta de tanto ser usada para significar França em oposição ao Islão africano. Xenofobia de um lado e racismo do outro.Em rigor, é uma política que arde: o socialismo. O socialismo do Estado Social e o socialismo do politicamente correcto de François ex-Vichy Mitterrand e outros.
São estes os que me são dados ler, em estereofonia de vozes de opinião livre.
Há outros sítios, porventura mais interessantes e especulativos, mas este panorama acima exposto, chega para reflexão.
Ah! E a minha opinião, para quem interessar, é esta:
"A realidade da emigração dos anos sessenta em Portugal.
A meu ver, que conheci essa realidade pois nasci numa aldeia em que o fenómeno também se verificou e julgo poder tornar extensível de modo a formar uma petite téorie, a mon insu, quem emigrou de Portugal para a Paris da década de sessenta, por cá trabalhava por conta de outrém, nas mais diversas atividades: pedreiros ( que não eram livres, eram mesmo só pedreiros); carpinteiros; mecânicos; electricistas; empregados fabris. Essencialmente, actividades dedicadas à construção civil ou outras indiferenciadas, incluindo pequenos "caixeiros" como dantes se chamavam aos empregados de comércio.Foram sózinhos, ou em grupo. A "salto", e isto quer dizer, sem passaporte e com riscos de prisão, reais e palpáveis.Floresciam então os "engajadores" e os "passadores" que se reciclaram depois no contrabando raiano ou viraram taxistas refastelados.Por cá, em Portugal, cada notícia de abalo em grupo dava inquérito da Pide, com indagação directa e imediata junto do presidente da Junta de freguesia, para saber como foi possível e quem ajudou.Isto era real e foi presenciado por mim.Assim, os portugueses que abalavam estavm habituados por cá a uma vida de muito poucos privilégios.Trabalhavam num horário das 8 às 18, com uma hora e meia para almoço; trabalho ao Sábado ( a semana inglesa só surgiu nos anos setenta). Regalias sociais mínimas, se tanto. Assistência social reduzida e sem SMN ou vislumbre de apoio social digno desse nome.Havia Casas do Povo, que se foram construindo, com médico e enfermagem para atender os casos da aldeia. Funcionava bem. Os médicos ainda eram Joões Semana e as pessoas adoeciam menos e morriam mais.O salário era de miséria porque o PIB começava só então a crescer nas casas dos 5, 6%, mas a distribuição começava primeiro pela meia dúzia de famílias que agora mandam outra vez.O SOusa Tavares era da oposição e o filho, agora, é da família dos Salgados, Ricardos e Manuéis por ligações de casamentos e que então eram os tenentes das tais famílias.Os emigrantes, na Paris dos anos sessenta, não iam experimentar condições de vida concretas, mais duras do que já aqui experimentavam no dia a dia.As casas deles, por cá, eram tugúrios sem aquecimento que não o das lareiras a lenha; não tinham luz eléctrica numa boa parte dos casos e se tinham poupavam na conta; água corrente era uma miragem, pois vinha dos poços particulares e das fontes públicas. Os motores Rabor e Efacec qie tiravam a água dos poços, só se massificaram na produção anos mais tarde e foi por isso que um Narciso Miranda que experimentou bem este modo de viver e sabe muito bem como é, foi para a fábrica da Via Norte, trabalhar como operário qualificado.A comida também era pobre de variedades, mas rica em proteínas e sabores. Aí, provavelmente, os emigrantes perderam umas coisas e ganharam outras. Em vez do caldo de couves pela manhã, acompanhado a tijela de vinho, começaram a ganhar outros hábitos mais refinados, como o gosto pelo brie e pela baguette.O que encontraram em França, não foram residências HLM, pois era isso que eles iam para lá construir.Não encontraram quase nada e tiveram que se desenrascar em bidonvilles e em apartamentos baratos de de subúrbio, aos montes, como agora acontece com os imigrantes de leste, numa escala mais suave.Assim, o que tinham de útil e podiam dar e vender, era a força de trabalho. E nisso, foram melhores do que muitos. Tinham vontade, pois por cá também trabalhavam e por isso não viram novidade alguma, a não ser nos melhores salários e nas melhores condições de vida nos locais de trabalho.E tinham algo que era comum a todos: vinham de uma mesma civilização que ia à missa ao Domingo e obedecia a valores comuns pregados em comunidade.Franceses e portugueses, nisso, entendiam-se e só os separava a pobreza de uns em contraste com a afluência dos outros.Mas isso não é novidade, pois há disso em todo o lado e por cá também havia- como continua a haver.Assim, o paralelo a fazer entre a emigração portuguesa dos anos sessenta e os problemas actuais, têm um enquadramento e permitem perceber todo um mundo de diferença e também porque é que os portugueses se integraram e prosperaram e estes desgraçados árabes vegetam no isolamento social.Não há milagres na sociedade e tudo tem explicação."
Publicado por josé 12:18:00
Não esquecer que também os Portugueses foram para a França viver nesses "bairros de lata". Simplesmente foram para lá trabalhar e nem uma só caroça incendiaram, quanto mais carros. E na altura os franceses eram mais racistas porque não estavam habituados à imigração. Agora são dignos da vida que têm e ninguém os exclui.
A realidade é bem outra. Estamos perante um universo de cultura específica e totalitarista, aonde as populações desintegradas (muitos por vontade própria) e desenraizadas não têm qualquer vontade de pertencerem ao mundo aonde vivem. Nessas condições são objecto fácil de aproveitamento por parte de grupos criminosos.
Efectivamente a União Europeia e abertura das fronteiras é um total fracasso. Há que ser realista: os "bárbaros" estão dentro do "império".
Mas vi agora e até citas o Miquelanxo Prado. Só por isso merecias uma agradecimento em forma de postal!
Tal como na economia selvagem se conseguem resultados pela aplicação de impulsos de capital em pontos fulcrais, também na manipulação de massas e de grupos sociais a técnica é idêntica – Usa-se hábilmente o vandalismo e a violência para atingir a prossecução de interesses ocultos. No imediato os dividendos vão direitinhos para Sarkozi e para a extrema-direita que pretende retirar “Direitos Humanos” adquiridos a vastas camadas das classes médias, naquilo que é actualmente a politica assumida da Direita Europeia pela tentação autoritária. As próprias populações sentindo-se inseguras virão pedir a ditadura. É dos livros