Etiópia ?

Via Blog do Noblat...


Tem um livro imperdível na praça para quem gosta de Política, História e tudo mais que tenha a ver com o exercício do poder: "O Imperador", escrito pelo jornalista polonês Ryszard Kapuscinski, e publicado pela editora Companhia de Letras. Conta "os bastidores do palácio de Hailé Selassié I, o tirano que governou a Etiópia por 44 anos".


Alguns extractos...

O Imperador - Como manter o emprego

"Como lacaio da terceira porta, eu era o mais importante dos lacaios destacados para o Salão de Audiências. A sala tinha três portas duplas e três lacaios para abrir e fechar cada uma. Mas eu estava cima dos demais porque era pela minha porta que o imperador passava. Quando o ilustríssimo amo deixava o salão, era eu que lhe abria a porta. Minha destreza residia na capacidade de abri-la no momento certo, no instante exato. Caso eu a abrisse cedo demais, poderia dar a impressão de que estava apressando o imperador a deixar o salão. Por outro lado, se eu abrisse a porta demasiadamente tarde, o sublime senhor seria obrigado a dimninuir o passo ou até mesmo a parar, o que seria uma afronta à sua dignidade, a qual pressupõe movimentos livres de quaisquer obstáculos".

O Imperador - Do contraste que favorece

"Para ser bastante sincero, devo admitir que o bondoso amo apreciava mais os maus ministros. Tudo porque ele gostava de se destacar pelo contraste. Como poderia se destacar de maneira positiva se estivesse cercado de ministros competentes? A população ficaria confusa, sem saber a quem recorrer e de quem esperar conselhos inteligentes e ajuda".

O Imperador - Da corrupção tolerada

Às vezes, o digníssimo amo passava uma leve descompustura nos que demonstravam excesso de ganância, mas nunca se zangava, pois sabia que graças àquele cofre aberto é que as pessoas lhe eram mais leais e se dedicavam a ele com mais disposição. Nosso amo sabia que alguém satisfeito vai sempre querer defender a fonte de sua satisfação, e onde alguém poderia ser mais satisfeito no que no palácio? (...) Saquear o cofre tornou-se uma atitude digna, enquanto não fazê-lo era desenroso, um indício de fragilidade, uma forma de letargia, uma impotência digna de comiseração.

Publicado por Manuel 23:06:00  

2 Comments:

  1. av said...
    Adis Abeba e Paris, parcem nestes dias a tomada da Bastilha em reprise :/
    Luís Bonifácio said...
    Depois veio o Mengistu, mas o Hailé permaneceu tal como as políticas.
    Pena é que ainda hoje em dia a crise de fome etiope de 1982 nunca tenha sido atribuída a Mengistu, enquanto que a de 1972 foi atribuída ao Rás Tafari

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