Desnorte
quarta-feira, novembro 23, 2005
A prestação de Miguel Sousa Tavares, ontem, da TVI, particularmente sobre assuntos de Justiça, esteve ao nível da banda desenhada mais rasca: ligeira; superficial, fantasiosa e trash.
Merece um cartoon, por isso.
Publicado por josé 18:41:00
8 Comments:
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Ressalva: gosto das suas pegas com a Manuela.
com cartoonistas com este talento mais valia terem ficado quietos,,,
o boneco parece o Dias Loureiro,,,
Estava á espera de quê?!
De um David Levine?
Ou até de um Cid?!
Vá lá...clique duas vezes no desenho...
ehehe
Acho que tem a noção das limitações...
beijocas
(Continuação)
K.R.A – Do seu ponto de vista, Professor, quando se inicia o período da “Economia Medíocre”?...
C.S. -- … bom… vejamos (bebe um copo de água)
K.R.A. – Posso ajudá-lo? Com o Eng. Sócrates, não foi, de certeza, porque só leva 9 meses de governação. A verdade é que, quando Durão Barroso diz que o país “está de tanga”, certamente já se estava a referir a algo parecido com economia medíocre, porque um país de sólida economia, rapidamente recuperaria do ponto de vista financeiro público...
C.S. -- … sim… é uma evidência.
K.R.A. – Poderá dizer-me que a culpa foi do período em que António Guterres ocupou o cargo de Primeiro-Ministro
C.S. – Minha senhora, eu sou candidato presidencial, não sou um político profissional, e um dos meus compromissos para com os Portugueses foi, justamente, o de não vir aqui dizer mal de ninguém, portanto, também não virei aqui dizer mal do período do Eng. António Guterres…
K.R.A. – Então, compete-me a mim dizer-lhe que só sobram os dez anos em que o Professor foi Primeiro-Ministro de Portugal para situar, cronologicamente, o começo da Economia Medíocre!...
C.S. – A senhora, sabe, por acaso, quanto crescíamos ao ano, durante o período em que governei Portugal?... Mais de 4%, minha senhora, mais de 4%!...
K.R.A. – … com “deficits” e taxas de desemprego de 9%, com um agravamento brutal do fosso entre ricos e pobres, com o aumento da exclusão, com a generalização de fenómenos sociais, como os salários em atraso, as chamadas “greves patronais”, as falências fraudulentas, e sem punição, a multiplicação dos processos sub-reptícios, que permitiam a uma empresa fechar portas hoje, colocando no Desemprego centenas de trabalhadores, para logo no dia seguinte, reabrir ao lado, onde a mancha de miséria do Vale do Ave e da Península de Setúbal chegou ao extremo, onde mães de família eram lançadas para a berma da estrada, para se prostituírem, como única fuga possível à miséria, onde encerraram empresas emblemáticas, como a Fábrica de Cristais Irmãos Stephens, que durava desde o tempo do Marquês de Pombal, a célebre C.U.F., que datava do mais longo período de estabilidade política português, o do Dr. Salazar, e mais dezenas e dezenas de outras que não poderíamos enumerar aqui…
C.S. -- … minha senhora…
K.R.A -- … e tudo isto, com uma permanente injecção financeira, propiciada pelos Orçamento folgado do Estado, pelo dinheiro proveniente das privatizações, e, acima de tudo, dos Fundos Estruturais, que, em grande parte desapareceram, sem deixar rasto, ou deixando rastos duvidosos, como a proliferação de carros topo de gama, de barcos e aviões de recreio, de casas de gosto duvidoso, de moradias com piscina, de contas abertas no estrangeiro, de circulações de capitais por tudo o que era “off-shore”, por um escândalo tal, na Bolsa de Valores, que o próprio Professor foi chamado a intervir, de modo a que não se tornasse pública a operação de branqueamento que ali diariamente se processava, e não chegássemos a uma situação de colapso próxima do Grande “Crash” de 1929. E tudo isto, muito alegremente, com os Portugueses a presenciarem, a cada dia passado, que os dinheiros enviados pela União Europeia eram esbanjados e espalhados por todo o tipo de canais de circulação. Deixe-me dizer-lhe, Professor, que quem analisasse seriamente este período, lhe poderia dizer que a sua especialidade doutoral não seriam as Finanças Públicas, mas, sim, as Finanças Privadas…
C.S. –- Minha senhora, deixe que lhe diga que agora, passados dez anos, eu próprio não terei dificuldade em me pronunciar, dizendo que terá havido alguns excessos nesse período... Todavia, e como acho que devo serenar os Portugueses, e fazê-los voltar a acreditar, porque os Portugeses devem acreditar, e devem voltar a ter confiança no futuro, e devem estar certos que, comigo na Presidência, voltará a haver um rumo e uma expectativa nacionais, devo dizer-lhe, como em tempos respondi a um seu outro colega da Comunicação Social, que me interrogava sobre o hipotético desvio de Fundos, que eu nada sabia disso, mas que de uma coisa estava certo: é que continuavam em Portugal. É fácil criticar a melhor ou pior aplicação dos Fundos Estruturais, eu poderia mesmo dar uma aula, ou escrever um livro sobre isso, agora, do ponto de vista da minha análise positiva, uma coisa é certa, esses Fundos, uma vez vindos para Portugal, ficaram mesmo nas mãos de Portugueses, e eu nunca poderei ser acusado de os ter distribuído, de alguma forma, mesmo que inconscientemente, por outros povos, sei lá, minha senhora, sei lá, pelas mãos de Espanhóis, de Franceses, ou de Ingleses, por exemplo…
K.R.A. –- Acabou por o fazer a seguir, quando, não renovado, não preparado para a competitividade, ou, simplesmente, destruído, o tecido empresarial, obrigou os Portugueses a importar a maior parte do que consomem. O desequilíbrio da Balança Comercial mostra como hoje, dez, ou vinte anos passados, grande parte do dinheiro que deveria ser investido para desenvolver o nosso país, se some imediatamente, no fluxo de pagamento das importações. É um facto que o período em que o Professor foi Primeiro-Ministro se caracterizou, justamente, por uma concentração desse Fundos em mãos portuguesas, mas nalgumas, poucas mãos…
C.S. – Minha senhora, objectivamente, costuma dizer-se que, no meu tempo, entrava em Portugal um milhão de contos por dia. Um milhão de contos, dividido por dez milhões de Portugueses, dava, por alto, cem escudos, dos antigos, a cada um... Ora..., a senhora tem consciência de que ninguém poderia viver, mesmo naquele tempo, com cem escudos por dia... Julgo que foi uma opção inteligente, e deixe-me dizer-lhe que não me arrependo, aliás… digo-lhe mesmo que o voltaria a repetir, hoje em dia… julgo que foi uma opção inteligente ter dado um pouco mais a quem manifestava alguma iniciativa, optando por dar, digamos…, um pouco menos… a quem não manifestava qualquer tipo de dinâmica, e acabaria por esbanjar esses recursos precisos em operações sem qualquer impacto na Economia ou no Mercado Financeiro, como seria o de um cego consumir, que, infelizmente, nos continua a caracterizar…
K.R.A. – Explica assim o aparecimento súbito, e do nada, de instituições bancárias, que vieram alterar por completo o panorama financeiro português?...
C.S. – Alterar, e bem, na minha óptica… Atente-se, por exemplo, no Banco Comercial Português, minha senhora, seja de que ponto de vista o observe, ele é um exemplo positivíssimo, o exemplo de uma iniciativa privada, que, em menos de duas décadas, se transformou na instituição financeira mais sólida de Portugal…
K.R.A. -- … e recentemente, como deve estar recordado, ligada a uma suspeita de branqueamento de capitais… Como encara, Professor, a suspeita de generalizado branqueamento de capitais que paira sobre grande parte dos fluxos financeiros portugueses?...
C.S. –- Posso dizer-lhe que discordo profundamente da expressão “branqueamento de capitais”… aliás… (faz uma careta e bebe um copo de água) posso adiantar-lhe, em primeira mão, que, quando, como espero, for eleito Presidente da República, uma das primeiras coisas que farei será endereçar ao Governo de então…
K.R.A -- … ao Governo do Eng. Sócrates, portanto…
C.S. -- … esse, ou qualquer outro, que possa estar em funções, o pedido para a elaboração de um Livro Branco sobre o… enfim, chamado “branqueamento de capitais”, com o pedido expresso, e urgente, de que essa expressão alarmista seja retirada do léxico corrente da Comunicação Social. Não entenda isto como uma lição, veja simplesmente como fica mais bonito, e eu prometo aqui isso aos Portugueses: erradicar a expressão “branqueamento de capitais” e substituí-la por uma outra, muito mais dentro da nossa linguagem de Finanças Públicas, que é a de Circulação de Capitais de Origem Difusa, ou Indeterminada. Vê como fica imediatamente mais bonito?...
(continua)