A captura do Estado
sexta-feira, novembro 18, 2005
Um postal de mangadalpaca©...
O inflamado discurso governamental sobre a “captura” do Estado por certos interesses corporativos tem feito carreira. Foi apresentado como um troféu contra os «privilégios» das magistraturas e dos farmacêuticos. Foi anunciado como parte do processo de reconversão das Forças Armadas. Foi invocado contra (a pretensa falta de eficiência d) os professores. Foi pretexto contra os subsistemas médico-sociais e de aposentação e regimes contratuais do funcionalismo público. Foi esgrimido contra os movimentos sindicais em geral.
Enfim, trata-se da remendada cartilha leninista – de que o seu doméstico Vital ideólogo-mor dá mostras de não ter esquecido – de virar uma parte da população (“os facínoras do funcionalismo público, que se banqueteiam à mesa do orçamento”) contra a outra (a “dinâmica e injustiçada sociedade civil”), como forma de levar por diante propósitos que não são do interesse de nenhuma (mas serão de alguém ou de alguns). Está por saber se o Estado não estará a ser realmente “capturado” por algum grupo cujos interesses são mais nebulosos e ambíguos.
Agora, chegou a vez dos médicos. A demagogia começou desastrada, com o ministro a «enganar-se» num número (que era suposto saber melhor do que ninguém) de médicos oftalmologistas num Hospital de Lisboa, que afinal era o número total do quadro de três hospitais. Foi só o início, os médicos que se preparem para a ofensiva que aí vem contra eles. Porque, ninguém pode acreditar que tenha sido um equívoco (ou, então, o ministro não devia ser ministro). Foi uma provocação deliberada – como muitas outras já desencadeadas por este executivo – para «apalpar terreno» e tentar «ganhar o apoio da população» com mais uma medida «impopular, mas necessária», de, eventualmente, redimensionar os quadros hospitalares.
Hoje, mais do que nunca, os sectores profissionais que seria necessário e fundamental motivar, estão não só descontentes (por se sentirem desrespeitados), mas também pouco receptivos a colaborar e aderir a um (crucial) esforço nacional para melhorar a produtividade, inverter o défice orçamental, introduzir novos métodos e tecnologias de trabalho e resgatar o destino das futuras gerações.
Definitivamente, o governo parece não ter percebido ainda que de nada lhe adianta «fugir para a frente» ignorando e afrontando os sectores onde pretende (e é realmente necessário) fazer reformas. Se não conquistar a sua adesão e a sua motivação, estas nunca se conseguirão concretizar.
Para mal de todos nós, acho que já não vai a tempo de emendar a mão. O que significa(rá) (mais) quatro anos perdidos. É isso que custa mais.
mangadalpaca©
Publicado por josé 19:58:00
3 Comments:
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Quando um democrata de fresca data me vem dizer que os meus direitos são privilégios, fulminando-me do alto das suas ideias feitas, lembro-me logo dos fascistas que decretavam aquilo que as pessoas deviam pensar.
Essa gente do PS, se tivesse alguma vergonha no frontispício, também se devia lembrar.
É dialéctica marxista pura e dura - luta de classes - em que o proletáriado é o não-funcionário público e este último é o explorador... Mas o que são os Juizes - a classe é todo igual, tem todos os mesmos vícios e ganham todos de mais...? E, aproveite, subsitua "Juizes" por Professores, Médicos, Enfermeiros, Agentes da PSP ou outros e veja a alarvidade em que caímos - uma classe toda nivelada pela mediocridade que impede o país de avançar...
Nem os tovarich Estalinee ou Vital, nos períodos áureos, diriam melhor...
Obrigado mangadalpaca...