um manifesto

É verdade, ninguém vai votar neste ou naquele candidato presidencial, por causa do seu manifesto eleitoral. Dito isto, o Manifesto Eleitoral de Cavaco Silva, que podia muito bem ser assinado por Alegre ou Soares, enferma de um vício substantivo grave. Vamos por partes, Cavaco Silva, depois de ter abandonado a chefia do governo, chegou onde chegou, quer nas sondagens, quer na imagem que dele tem os portugueses, não por ser politicamente correcto, ou um a espécie de guardião do regime, mas porque os portugueses se habituaram a ver nele alguém que falando pouco, quando falava, falava de questões importantes, sem paninhos quentes e independentemente destas agradarem ou não ao 'sistema'. É essa a imagem que os portugueses tem mais presente de Cavaco, alguém que, estando na política, não se rege pela lógica rasteira desta, e se limita a ser igual a sí próprio. É pois algo penoso ver agora Cavaco pintado como o maior gardião dos lugares comuns do regime, 'embrulhado' até como mais soarista, na acepção delicodoce da palavra, que o próprio Dr. Soares. No seu manifesto Cavaco só tinha que dizer que respeitava a natureza semi-presidencial do regime mas, que, quanto ao resto, esta precisava de ser aperfeiçoada, comprometendo-se, uma vez eleito, a não só não inviabilizar o debate necessário como a impulsioná-lo, sobre a reforma do sistema politico, a reforma administrativa, etc, à semelhança do que defendeu aliás Gomes Canotilho há 2 semanas atrás. Cavaco não precisava, nem havia necessidade, de aparecer, à imagem e semelhança de Soares, como guardião de todos os axiomas do regime, inclusivé dos mais obtusos. As luminárias, especialistas em 'comunicação', que convenceram Cavaco de que é 'assim' que ele chega a Belém, prestaram-lhe um péssimo serviço. Porque, é antes 'assim' que se dá espaço a Soares, e seus acólitos, quando estes dizem que Cavaco é politico... como 'eles', até usa as mesmas 'agências de comunicação' que 'eles' (a LPM que fez a campanha de Sócrates), com toda a carga que isso implica. A mais valia de Cavaco é nunca, no melhor e no pior, ter sido igual aos outros, pelo que se estranha que o queiram apresentar agora como uma espécie de primeiro entre iguais. A sorte de Cavaco é mesmo os portugueses conhecerem-no.

Publicado por Manuel 18:35:00  

0 Comments:

Post a Comment