Sim, Cavaco!

Agora que Cavaco é candidato presidencial, vão voltar em força exercícios revisionistas e demagógicos sobre o seu consulado enquanto Primeiro-Ministro. Não se discutem projectos, não se discute a obra nem o legado, não se discute sequer ideologia. Perora-se, de forma avulsa, para não dizer intelectualmente desonesta, sobre o passado tentando reescrever a história, e à mingua de ideias para o futuro.

Atente-se pois na prosa de um certo Jumento, já aqui referenciada, que até costuma ter piada, quando a fidelidade ideológica não lhe tolda de todo o discernimento.

Cavaco o ministro das finanças competente que encaixa no imaginário ruralista da direita portuguesa? Mas não foi um Cavaco que quando foi ministro das finanças que revalorizou o escudo com objectivos eleitorais, obrigando o país a ir mais uma vez mendigar para a porta do FMI?

Esta é boa. Tão boa que foram precisos passar mais de trinta anos para que alguém viesse com esta curiosa teoria, sobre o legado de Sá Carneiro como Primeiro-Ministro. Não dá para levar a sério.
Cavaco o presidente que velaria pelo bom desempenho do governo? Mas não foi Cavaco que teve ministros com uma Manuela Ferreira Leite na Educação, Braga de Macedo (o do oásis) nas Finanças, o Borrego das anedotas de mau gosto no Ambiente, e muitos outros que só o tempo levou a que já não façam parte do anedotário?
Argumento curioso. Poderia ser ponderado fosse Cavaco candidato a chefe do governo. É verdade que teve algumas escolhas menos felizes mas, é bom que se diga, no balanço teve dos governos mais equilibrados e ponderados de que há memória. Por muito 'azar' que tenha tido no avaliar de algumas pessoas nunca teve a infelicidade de ter, e a título de exemplo,... um Pina Moura.

Cavaco o homem que vela pelos interesses da Nação? Mas não foi Cavaco que governou em função das sondagens eleitorais, que inventou as corridas às inaugurações e os aumentos da pensões no fim dos mandatos?

Tese curiosa
. Também aumentou a gasolina antes de eleições. Eleitoralismo refinado ? Quanto aos aumentos de pensões (nomeadamente a convergência das mais baixas com o salário mínimo), é demagogia barata falar neles quando agora se promove o rendimento mínimo. Este arrazoado cheira aliás a quem nunca se conformou em ter sofrido duas maiorias absolutas de 'direita', nunca admitiu que os portugueses podiam de facto e estar satisfeitos, e se prefer iludir com desculpas baratas.


Cavaco o candidato não partidário? Mas não foi com Cavaco que todos os que eram nomeados para cargos dirigentes na administração Pública era “convidados” a inscreverem-se no PSD, para depois participarem em mega-cerimónias de boas-vindas ao partido?

Foi o autor da frase acima que
, num momento de maior lucidez, reconheceu, no seu próprio blog, que no tempo de Cavaco, se priviligiava a competência, em deterimento do amiguismo puro que o próprio Jumento reconhecia ser apanágio do PS, e do PSD, pós Cavaco, onde se priviligiou a fidelidade estrita à competência. Se o governo era laranja, era natural que se escolhessem pessoas dessa área, não ? Mesmo assim, Elisa Ferreira e muitos outros quadros válidos da área não social democrata não tiveram problemas nessa época, porquê ?


Cavaco está preocupado com a situação difícil do país? Mas quando abandono(u) o governo não deixou as finanças públicas num estado bem pior do que o actual, muito devido à nomeação do pior director-geral que passou pela DGCI? Mas a crise profunda que o país atravessa não resulta do seu modelo económico?


Este Jumento, sobre determinadas matérias devia pedir escusa
. Tem demasiados 'interesses' no ramo para ser objectivo a falar sobre a DGCI. Ponto. Quanto à questão do modelo económico, passo. Não há pachora, que vá para os copos com o Dr. Louçã.

Cavaco quer ajudar o país? Mas não teve uma excelente oportunidade de o fazer apostando no ensino ou outros sectores como a investigação em vez de estoirar os fundos comunitários em cimento, alcatrão e automóveis de luxo para os que enriqueceram à sombra do seu poder?


À distância é fácil dar palpites
, muito fácil. Só que na época aquele modelo político era consensual da direita à esquerda. Onde andava o Jumento nessa altura? E depois isto mais do que uma crítica a Cavaco, 20 anos depois, é antes uma crítica ao actual governo - que com a Ota e o TGV mantém a mesma linha de raciocínio...

Cavaco o homem honesto? Mas não foi com Cavaco que gente que nunca foi nada na vida se transformaram rapidamente em banqueiros? Não foi com o cavaquismo que a corrupção, fuga ao fisco e o enriquecimento rápido se tornaram fenómenos asfixiantes do desenvolvimento do país?

Não dá para levar a sério
. Os problemas, e hábitos, que existiam vinham de trás (Macau, por exemplo..) e se o crime de Cavaco foi confiar, e algumas vezes confiou mal, então quem não tiver cometido esse crime que atire a primeira pedra. Não se confunda Cavaco com o cavaquismo.


Cavaco o respeitador da democracia e da Constituição? Mas não era ele que designava todas as instituições por forças de bloqueio? Desde a Presidência da República ao Tribunal de Contas não eram todas forças de bloqueio?

Soares
, como PR, foi objectivamente no segundo mandato uma força de bloqueio. Recomenda-se ao autor que leia um livrinho de Estrela Serrano, ex assessora de Comunicação da Presidência da República no tempo de Soares, onde esta explica muito bem a tropelias de Soares. Quanto ao Tribunal de Contas Cavaco nomeou um independente, da área não social democrata, que veio aliás, a ser ministro das finanças do PS com Guterres. Chamava-se Sousa Franco. Sócrates nomeou um vice presidente da sua bancada parlamentar.QED.


Cavaco o estadista com conhecimento internacional? Mas alguém, além de Durão Barroso, o conhece depois de passar a IP5? Que se saiba na Europa só deverá ter uma leve ideia do ex primeiro-ministro português a pensionista Margareth Teatcher

Má Fé. Passo.

Cavaco o candidato por imperativo de consciência? Também foi por imperativo de consciência que ajudou à derrota eleitoral de Fernando Nogueira e que derrubou o governo de Santana Lopes, para que não houvessem impecilhos no caminho da sua ambição presidencial?

Esta é boa. Algum PS, e alguma esquerda, detesta tanto Guterres que culpa Cavaco pela vitória deste, também preferiam Santana a Sócrates, mas enfim. Num caso e noutro Cavaco, provou - mais uma vez - que discernia entre o interesse nacional e o interesse partidário. Preferiu o interesse nacional. Daqueles casos em que seria preso por ter cão e por não ter - que diriam se - por absurdo - tivesse estado com o Dr. Lopes ?...

Cavaco? Quem não o conhece que o compre…

Há que ser democrata, e respeitar a inteligência e o discernimento dos eleitores
... Fica mal esta pretensa superioridade intelectual, que insinua que só um néscio, cego surdo e mudo pode votar, em plena consciência, em Cavaco...

Publicado por Manuel 13:28:00  

9 Comments:

  1. Anónimo said...
    o jumento é um dos meus blogs de referência (para além da grande loja) mas o facciosismo notório torna-o inteiramente merecedor deste post.
    Manuel
    Anónimo said...
    "Este Jumento, sobre determinadas matérias devia pedir escusa. Tem demasiados 'interesses' no ramo para ser objectivo a falar sobre a DGCI."

    Meu caro amigo,

    Seguindo o seu raciocínio, uma boa parte dos veneráveis desta Loja, nem deveriam sequer abrir a boca, pois todos eles têm os seus "interesses" de estimação, tal como o Jumento.

    Não é verdade?
    Anónimo said...
    Recentemente Cavaco Silva disse para as TV's que estava estupefacto pelo que aconteceu com o regresso de Fátima Felgueiras. Que a justiça não estaria bem nesta fotografia...
    ESTOU ESTUPEFACTO!, disse ele, impante ao estilo do Superman.

    Também recentemente o economista Miguel Beleza, do PSD e natural apoiante de Cavaco Siva, glosou o mesmo tema no programa "Prós e Contras" da RTP, com brejeirices de mau gosto sobre Fátima Felgueiras, a fugitiva da justiça portuguesa. Tão mau gosto que uma participante nesse debate, politóloga conhecida, lhe deu uma ripeirada bem dada.

    Mas esta gente tem fraca memória e vergonha nenhuma na cara.

    Leonor Beleza, a ex-ministra da saúde de Cavaco Silva, foi acusada pelo sistema judicial de homicídio (não voluntário) por negligência de 23 hemofílicos - formalmente ACUSADA, não suspeita - no famoso processo dos hemofílicos. Pois bem, esta senhora continuou a candidatar-se em eleições e a exercer funções políticas como deputada e até como Vice-Presidente da AR, enquanto o processo judicial corria o seu curso, com sucessivos recursos, alguns para o tribunal Constitucional, até que o processo prescreveu. Muitas vítimas hemofílicas ficaram sem direito a que se apurasse a verdade e se fizesse justiça.

    Manifestou Cavaco Silva publicamente alguma estupefacção com este escândalo da Justiça? É evidente e todos sabemos que não, bem antes pelo contrário, sempre deu apoio político e pessoal a Leonor Beleza.

    E Miguel Beleza, irmão de Leonor Beleza, gozou com o assunto na TV e mandou dichotes brejeiros sobre a sua irmã? Evidentemente que não, caladinho que nem um rato.

    E Zezé Beleza, irmão destes dois, lembram-se? Lembram-se de ele ter fugido da Justiça, lá pela Ásia, no âmbito do processo Costa Freire?

    Mostrou Cavaco Silva alguma estupefacção por Zezé Beleza, irmão da sua ex-ministra Leonor, andar fugido da Justiça? Evidentemente que não, pois a sua estupefacção é só para alturas politicamente oportunas, desde que atinjam os adversários políticos.

    E o irmão Miguel beleza, também gozou com a situação como gozou com o caso Fátima Felgueiras na TV? Claro que não, não convinha nada.

    E o filho de Leonor Beleza, apanhado pela PSP num grupo de traficantes de droga? Causou alguma hilariedade na TV ao tio Miguel Beleza?

    Alguma vez Cavaco Silva retirou a sua confiança política a Leonor Beleza, uma ACUSADA judicialmente que chegou a ser eleita deputada e Vice-Presidente da AR, estando ela acusada de 23 homicídios?
    Marques Mendes alguma vez propôs para que o PSD retirasse a confiança política a esta ex-ministra de Cavaco Silva?

    É caso para todos nós ficarmos estupefactos com este descaramento de Cavaco Silva e de Miguel Beleza.

    Não que Leonor Beleza não fosse presumida inocente por toda a gente sensata, assim como o seu irmão Zézé, mas porque há gente política como Cavaco Silva, Miguel Beleza e Marques Mendes que tem uma lata do caraças! É mesmo de se ficar estupefacto com tal lata e descaramento!
    ...............................

    Para os curiosos deixo aqui uma página do website da APH, Associação Portuguesa de Hemofílicos.

    Os Ecos da Verdade II
    Data: 23 - 9 - 2003


    Comentários elaborados pela Associação Portuguesa dos Hemofílicos, em 23 de Setembro de 2003, face aos novos desenvolvimentos ocorridos no processo dos hemofílicos:

    Os arguidos são os únicos culpados da morte de 23 hemofílicos, dos 35 identificados na acusação e associados ao lote 81 05 36.

    Os outros 12 têm morte anunciada! Que triste verdade!

    Leonor Beleza enganou a opinião pública. Chegou a hora de se repor a verdade dos factos e do processo:

    Em 1998 a Relação de Lisboa proferiu um acórdão enviando estes arguidos para o Tribunal de Julgamento, com severas críticas sobre o teor do recurso e comportamento de Leonor Beleza.

    Diz o douto acórdão da RL, de 18/11/98, aquele que nunca foi cumprido:

    “A guerra é sem quartel. (...) A arguida (...) culmina as suas alegações com um bota a baixo, um salve-se quem puder descomposto, impensável e de muito baixo nível.

    Esta era uma boa oportunidade para os arguidos se livrarem deste processo “de vez”. Mas a realidade foi outra. Fizeram “marcha a trás”, arranjando à pressa e acompanhados do devido compadrio, um lote de inconstitucionalidades para entrarem no Tribunal Constitucional, ansiosamente esperando empatar o bom andamento do processo. Os Juízes Desembargadores da RL chegaram mesmo a afirmar que consideravam este caminho “impróprio e fora de tempo”. Impróprio porque o que estes arguidos quereriam e mereciam só o poderiam ter no Tribunal de Julgamento e fora de tempo porque só agora, ao fim de 4 anos após a acusação e em desespero de causa, é que se lembraram que, afinal, o processo até tinha algumas inconstitucionalidades...

    A mesma cena repetiu-se em 2001. A RL volta a manter a pronúncia do seu anterior acórdão de 19/11/98, sendo que os arguidos voltam a ignorar a RL, recorrendo, mais uma vez para o Tribunal Constitucional.

    Depois vem o cansaço e a saturação da RL que acolhe a ordem do TC e contrariamente ao que tinha afirmado em 1998 e em 2001, declara, sem convicção, que o processo prescreveu... (mas não de vez! Dizem as vítimas)

    O Supremo Tribunal de Justiça é agora chamado a intervir. O Ministério Público e as assistentes fazem andar o processo. Mas há quem não queira!

    Se os vários magistrados nestes autos têm louvado o trabalho de investigação do Ministério Público (MP), com que direito uma Senhora Magistrada do MP no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) vem derrubar o trabalho do MP, desacompanhando as vítimas como se estas se reduzissem a um qualquer preceito do Código do Processo Penal (CPP) comentado com duas ou três notas de trazer por casa.

    É este tipo de actuação da magistratura, felizmente isolada, que provoca a crítica destrutiva da comunidade à Justiça, certo sendo que esta Senhora Magistrada não pugnou por uma resposta à altura da posição que ocupa.

    E tanto assim é que o próprio acórdão do STJ nem sequer considerou a resposta daquela no relatório da sua decisão.

    As assistentes clamam:

    “Não compreendemos como é que os nossos maridos, filhos e pais são ignorados pelo TC e agora outra vez ignorados pelo STJ, uma vez que este também se recusa a conhecer do recurso, ou seja mataram-os duas vezes: a primeira vez 1986 e agora...”

    O TC só considerou relevante a 1ª morte ignorando as restantes (22). Assim, é como se os outros que morreram depois não fossem cidadãos com hemofilia.Para o TC estes 22 nunca existiram, era como se fosse só 1 doente com hemofilia tratado com este lote e não os 35 identificados na Acusação.

    Porque só a 1ª morte é que conta? Será porque era um ex-presidente da Direcção da APH??

    Mais recentemente, o STJ ao não querer conhecer o recurso das vítimas é como se os restantes doentes com hemofilia contaminados com o vírus da SIDA através do lote 81 05 36 nunca tivessem existido.

    Presentemente, este processo só anda ao emporrão das assistentes porque não será o TC ou o STJ que lhes vai calar a boca.

    E não nos venham dizer e escrever que são “dezoito anos de calvário” (Jornal Expresso de 26 de Julho de 2003)! Calvário só para alguns: as vítimas, que são obrigadas a esperar que seja feita Justiça, sem nada poder fazer. Os outros, os arguidos, já em 1998, podiam ter acabado o processo, acatando o acórdão da RL que os enviava para o Tribunal de Julgamento. Porque não foram? Afinal, quem tem medo deste Julgamento?

    Veja-se a resposta (abaixo) que este artigo mereceu por parte da APH e enviada por mail (fmadrinha@mail.expresso.pt) em 23 de Setembro de 2003.

    Num país onde todos falam de justiça, onde todos apontam o dedo à justiça, onde todos falam de processos mediáticos, da legislação, não haverá ninguém que queira falar do (bendito/maldito) processo dos hemofílicos que é vítima de uma das senhoras que tem poiso numa casa onde fazem leis? Será que ninguém vê isso?

    APH
    ................................

    Exmo. Senhor

    Fernando Madrinha

    V. Exa. assinou o artigo “Calvário” no jornal “Expresso” de 24/07/03, onde comenta sobre a actuação da Justiça no processo dos hemofílicos, em que Leonor Beleza, actual Vice-Presidente da Assembleia da República e Cabeça de Lista pelo Distrito de Portalegre, é arguida. A falta de informação de V. Exa. na matéria é óbvia e incompreensível, ressaltando a sua solidariedade num tema, que certamente não seria exposta se a informação, a existir, fosse fidedigna e correctamente analisada.

    O seu artigo parte do erro e comummente ataca o alvo mais fácil, o que não tem rosto, qual seja o sistema judicial português, esquecendo, como muitos esquecem, que nem sempre os magistrados são os reais responsáveis pelo tramitado moroso de um processo, culpas cabendo a outros operadores da Justiça que encharcam aquele de recursos, quantas vezes sem base que os sustente.

    Assim, o “Calvário” que V. Exa. menciona refere-se ao quê e a quem? À Sra. Arguida Leonor Beleza ou as vítimas desta?

    Os “dezoitos anos de espera” e “vida em suspenso” que V. Exa. menciona, referem-se a que processo, a quem e ao quê? É que a acusação no processo dos hemofílicos remonta a Dezembro de 1994, há ainda hemofílicos que têm a vida em suspenso e quase todos os que foram identificados na acusação já morreram (23 de 35).

    O Sr. jornalista desconhece a acusação e as várias pronúncias que a Justiça fez recair sobre Leonor Beleza, certo sendo ainda, que o tratamento jornalístico de uma decisão judicial não é jurídico. Como pode, assim, o Sr. jornalista propor-se lembrar o que não sabe ou não entende e, não obstante isso, pretender informar o público?

    O Sr. jornalista parte de premissas erradas e ignora o conceito de dolo eventual, sendo certo que se o conhecesse nunca afirmaria que Leonor Beleza foi acusada de agir com consciência e intenção deliberada e muito menos afirmaria que aquela foi acusada por uma questão formal. O tipo de culpa que é imputado a Leonor Beleza – dolo eventual – está longe de ser a consciência e intenção que o Sr. jornalista invoca, não lhe ficando nada bem escrever sobre o que não sabe, criticando a Justiça talqualmente o comum português que se compraz no escárnio e maldizer..

    Contrariamente ao que o Sr. jornalista escreveu no seu artigo, as delongas processuais no processo dos hemofílicos, ocorreram por exclusiva culpa da arguida Leonor Beleza, mãe e outros arguidos, que invadiram o processo com recursos – alguns duvidosos -, aos quais a Acusação teve obrigatoriamente que responder.
    Efectivamente não foi o Ministério Público nem as assistentes que recorreram inicialmente para a Relação de Lisboa ou que pediram aclarações de acórdãos ou que, em virtude do decidido por aquela instância superior, obrigaram o Tribunal de Instrução Criminal (TIC) a ouvir cerca de oitenta testemunhas abonatórias em fase de Instrução e a juntar aos autos o processo crime austríaco. O TIC prescindiria da audição daquelas e da junção deste porque considerando a informação que já possuía era irrelevante perder tempo com semelhantes diligências. Verificou-se que o TIC tinha razão porque não só as testemunhas referiram que nada sabiam do caso, algumas como o Presidente do Futebol Clube do Porto afirmaram mesmo não conhecer Leonor Beleza, como o processo austríaco acabou por não ser sequer trabalhado por Leonor Beleza dado conter análises positivas ao vírus da Sida, relativas ao produto que matou os hemofílicos, as quais tinham sido feitas antes da exportação do mesmo para o nosso País, mais se encontrando ali um certificado de exportação com data anterior às mesmas análises.

    O que está, portanto, em causa é a intervenção processual dos arguidos encabeçados por Leonor Beleza.

    Por outro lado, o Sr. jornalista desconhece que a defesa só invocou a prescrição três anos após a data em que segundo aquela esta ocorrera. Igualmente desconhece que, segundo o que foi publicado, foi Leonor Beleza quem inflamou os seus co-arguidos com a prescrição, pedindo-lhes que fossem eles a invocar a prescrição, considerando que ela – Leonor Beleza – não podia fazê-lo por ser uma figura pública.

    Todavia, não precisava o Sr. jornalista de se maçar com tanta análise sobre o que a prescrição causa sobre os arguidos, pois é ou não verdade que quem se diz inocente e alegadamente não teme o julgamento, se apresenta ao tribunal para ser julgado, depois de ser acusado e pronunciado? Mas não foi isso que Leonor Beleza fez, pois escondeu-se no Tribunal Constitucional, tribunal político, cujas decisões segundo os juízes que votaram vencidos, provocaram brechas no edifício jurídico-penal.

    Por conseguinte,

    Se a arguida em causa não quisesse a prescrição pura e simplesmente não se escondia nela, não recorria para o Tribunal Constitucional e submetia-se a julgamento. Ou seja, após a decisão de pronúncia apresentava-se a julgamento, o que não teve a coragem de fazer.

    O Sr. jornalista desconhece que esses recursos que atrasaram o processo são justamente aqueles que Leonor Beleza fez para o Tribunal Constitucional, a este requerendo interpretações normativas que, depois de aplicadas pelos tribunais judiciais, conduzissem à prescrição.

    Finalmente o Sr. jornalista desconhece que o processo ainda não transitou em julgado e nessa medida, pelo menos, formalmente, não pode falar de um processo como se este estivesse arquivado. Manda a ética que o Sr. jornalista se informe fidedignamente, o que neste caso implicava também ter consultado a Associação Portuguesa dos Hemofílicos. Isso não fez o Sr. jornalista, o que é de lamentar, pois como convirá, aquela Associação tem em sua posse documentação e saber tão vasto que fazem tremer de indignação qualquer jornalista, depois de investigar a verdade dos factos.

    Por conseguinte, decida o Sr. jornalista o que quer fazer: pretende manter o artigo que escreveu, que é errado e injusto ou investigar imparcialmente a verdade material da situação para posteriormente se render ao meã culpa, com que indubitavelmente se confrontará?

    Verá, para além disso, quão falsa, hipócrita e manipuladora é Leonor Beleza, perfil, de resto, que não será desconhecido de certos notáveis que preferem manter-se no silêncio e pactuar com o seu actual cargo de Vice-Presidente da Assembleia da República e até a aceitam a fazer apelos –pasme-se – à Justiça, por causa de prisões preventivas e escutas telefónicas, deixando de lado o comportamento processual e moral de pessoas como ela, fugitiva da Justiça de forma não escandalosamente óbvia.

    Será que a Justiça é ainda culpada de tudo ou será que há outros bem mais culpados que aquela, pelo silêncio com que se pronunciam sobre a situação ou pelo discurso viciado na versão da culpada?

    Para já uma coisa é certa: tivesse Leonor Beleza sido posta em prisão preventiva e a mesma não teria brincado aos recursos no Tribunal Constitucional.

    Assim, queira o Sr. jornalista esclarecer-se e esclarecer quem o lê, que a Associação Portuguesa dos Hemofílicos o apoiará com toda a documentação e saber que infelizmente o público está longe de conhecer. Caso persista na sua solidariedade sui generis, saiba o Sr. jornalista que os hemofílicos não foram infectados com sangue contaminado mas com derivados plasmáticos que dão pelo nome de Concentrados de Factor VIII. Apenas um pormenor. Mais um em que o Sr. jornalista falhou.

    APH
    Anónimo said...
    Aí estão eles. Já começam a sentir-se picados pelas moscas. Sirvam-se do seu rabo e sacudam-nas
    A sugestão de acompanhar o Louçã nos copos, pode ser estendida ao propagandista. Esses copos a regarem um bom fardo de palha, como petisco, que tal?
    Olhem que, segundo as noticias, há palha fresquinha; acabadinha de chegar de França.
    AM said...
    "Fica mal esta pretensa superioridade intelectual, que insinua que só um néscio, cego surdo e mudo pode votar, em plena consciência, em Cavaco..."

    Ficará mal ao "Jumento" como decerto a mim não ficará melhor, mas...

    Antes isso que ser "néscio, cego surdo e mudo" (para me limitar apenas aos referidos)

    AMNM
    Teófilo M. said...
    Caro Manuel,

    tenho de louvar o esforço que fez em tentar retirar ao intrépido Jumento algimas das afirmações mais interessantes que há muito não me lembrava de ouvir.

    Dizer que Cavaco não é culpado em muito do que agora se está a passar, nomeadamente na abertura do clientelismo partidário, no engordamento do estado com funcionários a contrato e a recibo verde, para além das benesses concedidas, negar a política do asfalto em detrimento de uma rede de transporte ferroviário eficiente, clamar que Cavaco confiou em quem não devia confuar e acusar os socialistas de criminosos por fazerem o mesmo, desculpar-lhe o assassinato político de Fernando Nogueira ou a condenação de Santana por motivos a que poderão não ser alheios outros interesses, não será a ponderação que eu esperava ouvir, mas enfim, nem todos temos os mesmos gostos, nem sequer as mesmas prioridades.
    Arrebenta said...
    Então,
    professor Aníbal, qual o maior desgosto diccional da sua vida,
    olhe,
    Glória de Matos,
    o meu maior desgosto é não conseguir pronunciar correctamente o nome da minha senhora...,
    da sua Maria,
    perguntou a Glória,
    mas isso é tão fácil:
    faça como eu,
    estenda a queixada para a frente e diga:
    "Maria-------------------------------------ni",
    e ele,
    "Mari---a...-....ni...",
    não,
    não,
    professor,
    "Maria----------------------------------------ni"
    (silêncio)
    (era triste ver uma tão ilustre cátedra incapaz de entoar aquele lindíssimo e simples ditongo)
    e foi então que a Glória de Matos se lembrou do Ovo de Colombo, sacou de uma fatia de bolo-rei, e disse-lhe:
    "tente apanhá-la com a queixada,
    professor,
    ao mesmo tempo que diz
    MARIA--------------------------------------NI!"
    .
    Bons tempos.
    Já muita água correu, desde então, no IP5 e na Ponte de Entre-os-Rios,
    mas aqui fica este testemunho:
    sempre que o ridículo "sketch" da retro-escavadora a mascar frutas cristalizadas vos for posto à frente,
    pensai bem,
    antes de ridicularizar:
    naquele NHAM, NHAM, NHAM,
    está mais metafísica do que em todas as Pirâmides do Egipto,
    pois não é mais do que o esforço hercúleo de um homo faber a tentar pronunciar as suas primeiras palavras,
    e as suas primeiras palavras já eram as palavras de um maravilhoso amor.
    Ámen.
    E said...
    Já não há pachorra para educar as criancinhas.

    Dá-lhe, Manuel. Grande artigo.
    ManUel said...
    "o cavaco" isto, "o cavaco" aquilo... toda a gente opina, toda a gente sabe muito sobre aquilo que se passou e todos os escândalos que envolveram "o cavaco".... Só tenho lido disparates! Também deverão saber a que horas é que "o cavaco" vai à casa de banho. Meus caros "anti-cavaco", todos os governos tiveram os seus escândalos, e nunca na vida por mérito próprio algum partido conseguirá atingir DUAS MAIORIAS ABSOLUTAS como "o cavaco" conseguiu! E esta foi a prova de que realmente foi um mau chefe de governo (ironia)... Não estejam a tentar ir buscar o mínimo pormenor só para falar mal.

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