Margarida Rebelo Pinto posta a nu

Nunca por nunca me passaria pela cabeça ler Margarida Rebelo Pinto. Pertence a um "mundo" sub-literário que me escapa por completo e suponho que discorre sobre "vidas" que eu normalmente tendo a desprezar. Rebelo Pinto tem sucesso aparentemente - e recorro ao lugar comum - porque escreve para um público que se acha "retratado" naquelas linhas. Logo, ela é o que eles são e eles acham-se subtis naquilo que ela escreve. Este comércio pequeno-burguês entre a "escritora" e o seu "público" não nos deve espantar, nem tão pouco o que se alarga a outras criaturas femininas que produzem prosa semelhante. João Pedro George é irregular na sua "postagem", mas acerta sempre. Andou, explica, a ler "as obras completas" desta nossa amiguinha e foi minucioso e rigoroso na análise. É, naturalmente, imperdível, sobretudo quando a nossa "crítica literária" dos jornais é quase sempre tão esquecível e irrelevante.

Um aviso, desde logo: o texto que se segue é embaraço para a escritora e penoso para os leitores em geral. Margarida Rebelo Pinto repete-se imoderadamente, copia frases de uns para outros livros, utiliza por vezes citações de escritores sem lhes atribuir a origem, tem deslizes de ortografia e comete erros gramaticais, as personagens, as situações, os temas e a estrutura narrativa são sempre os mesmos, as vidas que relata são homogéneas e monótonas, há incongruências catastróficas no vocabulário dos narradores, retirando-lhes toda a credibilidade, as representações dos homens e das mulheres são padronizadas, estereotipadas e simplistas, a escrita toca as raias do mau gosto e do anedótico, o estilo é uniforme e preguiçoso. Tudo considerado, livros deploráveis, falhados e vulgares. Não é fácil afirmar estas coisas, no início senti-me inclusivamente desapontado. É que o fenómeno Margarida Rebelo Pinto era-me simpático. Quando a comecei a ler até estava predisposto a gostar dela.(...) A originalidade em literatura, segundo David Lodge, não consiste em inventar coisas absolutamente novas mas sim em apresentar as coisas familiares de formas não familiares, ou seja, “desviando-nos das formas convencionais e habituais de representar a realidade” (The Art of Fiction, p. 55). Não é isso que acontece, manifestamente, nestes livros. O estilo de Margarida Rebelo Pinto é previsível e insípido, o vocabulário, a sintaxe, as metáforas e as comparações são sempre os mesmos, os ambientes que narra são estáticos, as ideias não passam de clichés, não há o mínimo esforço no sentido de encontrar formas alternativas de descrever as personagens, quer nas suas características físicas quer na sua psicologia, o que explica a superficialidade e a reduzida densidade humana desta literatura, ou melhor, desta sub-literatura. Pela minha parte, desisto. Desisto de Margarida Rebelo Pinto. Mas dou-lhe, ainda assim, um conselho: dê-se por muito feliz pela indiferença com que a crítica até hoje a tem tratado.

Publicado por João Gonçalves 21:37:00  

8 Comments:

  1. Anónimo said...
    Papagaio nonó = Solicitador de execuçao de Mato-zinhos.
    Anónimo said...
    A propósito de escrita, é linda a última frase, sobre esses estranhos seres, as «criaturas femininas que produzem prosa semelhante». Deve ser de serem femininas. Ou será por serem criaturas? Fico na dúvida.

    LF
    Anónimo said...
    Papagaio nono = Abutre maceleiro
    Arrebenta said...
    Eu sou fã dela e de Inóz Pobreza
    (Ambas já nos representaram no estrangeiro)
    Arrebenta said...
    Ambas as duas,
    queria eu de que
    dizer
    André Carvalho said...
    O João Pedro George fez algum mal a alguém para se ter de penitenciar desta forma tão violenta? Ler as obras completas da Margarida? Todas? Que auto- flagelo mais macabro. O homem deve ser completamente doido!

    Só estou a pensar ler a "obra" da Margarida quando a Porto Editora a publicar em leves resumos comentados.

    http://geracao-rasca.blogspot.com
    zazie said...
    «O João Pedro George fez algum mal a alguém para se ter de penitenciar desta forma tão violenta?»

    ahahha também pensei o mesmo ":O)))
    Anónimo said...
    E o elegio aos panascas no Diário Digital?

    Já o retirei dos favoritos. Não vou com panascas1

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