Irreflexões Reflectidas
terça-feira, outubro 25, 2005
O cidadão "João Gonçalves" (nóvel forma de tratamento que adoptarei por esta vez, sem exemplo, mas também sem remorso) decidiu interromper o seu anunciado distanciamento higiénico dos anónimos em geral, e desta Grande Loja em particular, para malhar forte e feio num meu texto. Em primeiro lugar, há que saudar a frontalidade e o atirar das luvinhas para onde elas pertencem, o baú das recordações. Escrever sem pejo é sempre uma virtude. Nunca me verão falhar em reconhecer isso mesmo.
Como não me verão falhar em recusar ad limine paternalismos do tipo "o autor nasceu tarde para as suas "irreflexões" políticas". Tarde, cedo, eu lá saberei. Acho que foi na altura certa. Fui mesmo a tempo de não ter participado no MASP, como o "João Gonçalves" participou. E tenho, porventura, uma ideia do que é nascer para a política diversa. Não considero que isso aconteça quando um jovem se inscreve na Jota lá do sítio, por exemplo. Além do mais, se os argumentos de autoridade já são pobrezinhos, fazer equivaler antiguidade a autoridade é ainda mais franciscano. A irmos por aí devia o "João Gonçalves" defender que se votasse em Soares; afinal, quando Cavaco "nasceu" para a política, já o velho leão levava umas décadas de luta. E quanto a isto, estamos conversados.
Quanto a aprender não escolho mestres, mas escolho ensinamentos. Sou homem para ouvir todo e mais algum, do latim mais refinado ao português mais vernáculo (esta resposta é disso bom exemplo) mas guardo apenas aquilo que me é útil. Caso não raro na blogosfera lusa, embora já tenha sido mais verdade. Não foi, contudo, o caso. Tirando a constatação do óbvio "dizendo-se da "área socialista"", coisa que efectivamente sou obrigado a reconhecer que disse, e de umas considerações que me abstenho de comentar, ao nível daquela "algaraviada básica" que para ali pontua algures (o insulto ou menoração do objecto da crítica vem logo a seguir aos argumentos de autoridade na minha lista de inutilidades retórico-argumentativas) não aprendi nada de novo.
Gostava honestamente que alguém me tivesse convencido, com factos, que Cavaco era um democrata de gema, que sempre respeitou a oposição na Assembleia da República, e os demais órgãos de soberania, que as cenas com polícia de choque em frente à Assembleia da República nos idos de 90 e os agentes de autoridade armados de máquinas de filmar foram uma alucinação colectiva de uns putos que tinha fumado charros a mais. Mas sobre tudo isto nem uma palavra. Silêncios que são reveladores. Ou que alguém me tivesse explicado as reais motivações da candidatura do Dr. Mário Soares, condescendendo que pode haver quem não acredite naquela conversa da falta de um candidato ganhador à esquerda. Quando falo de "um certo toque de desespero ou alienação cujas origens se desconhecem" parece que não me terei feito compreender. É verdade que as palavras só imperfeitamente podem expressar pensamentos, mas tinha para mim que estava a ser razoavelmente escorreito. Erro meu. Remédio pronto.
Só percebo psicologicamente o impulso do Dr. Mário Soares em candidatar-se ou no desespero da perda de protagonismo pessoal e familiar, num contexto em que percebe que já está remetido aos compêndios da história, e que não lhe caberá nem mais uma linha, ao contrário do que acontece com o seu velho rival, que pode abrir todo um novo capítulo só para si e/ou (proposição dicotómica que pretende expressar a ideia de cumulação ou alternativa) numa certa alienação da realidade, que o faz efectivamente acreditar na sua qualidade de reserva moral da República, e que existe na sociedade um qualquer sentimento colectivo de orfandade fruto do seu afastamento de 10 anos da política activa.
Divago? Divago sim. Deixarei de o fazer quando morrer. Só é o meu labirinto privado enquanto não o partilho em público. O Pedro Lomba está cansado de explicar o quão dificil é este tipo de exercício mas também o quão recompensador pode ser. Não foi, infelizmente, o caso. Quanto a uma qualquer tentativa de "achincalhar" quem quer que seja e ao respeito que, aparentemente, se tem de ter pelas "biografias", repudio a primeira e desconhecia, felizmente, a segunda. Vantagens, porventura, da frescura intelectual dos jovens.
Publicado por irreflexoes 17:25:00