Dito isto

Também não vejo grandes razões para o PSD clamar uma vitória esmagadora.

É preciso ver que o PS arrecadou, sozinho, 35,85% dos votos e que o PSD chegou aos 39,81%, mas apenas mercê de inúmeras coligações. Ainda assim, trata-se de uma diferença ligeiramente inferior a 4%, nada de propriamente esmagador. Mais, descontando-se ao PSD os votos putativamente obtidos pelos parceiros de coligação (CDS, e os residuais PPM e MPT) a diferença de votações globais deve ser bem inferior a 1%.

É certo que é impossível fazer a repartição de votos dentro de cada coligação (razão pela qual ninguém sabe qual o peso eleitoral dos Verdes, por exemplo) mas presuma-se, com toda a margem de erro que isso implica, que o CDS vale nas coligações o mesmo que vale sózinho e idem para os outros, e temos um peso combinado de 3,11%. E uma diferença de votações PS-PSD de apenas 0,85%. Ou, como parece ser mais correcto (obrigado ao Homem das Neves pelo comentário), subtrai-se apenas o peso na percentagem de concelhos em que houve coligações. A diferença PSD-PS é de uns meros 3%.

O mesmo se passa com o número de mandatatos. O PS arrecada 788 mandatos e o PSD 836, 152 dos quais em coligações. A diferença de 48 mandatos deverá ser substancialmente atenuada tendo em conta os obtidos por força do peso dos parceiros de coligação, seguindo um racíocinio idêntico ao já feito para as votações. Ou seja, se para o PS foi um desaire, para o PSD as coisas também não correram tão bem quanto isso, e se neste país os comentadores não fossem tão fraquinhos já desde ontem que toda a gente andava a perguntar ao Dr. Marques Mendes o que é que falhou na capitalização do descontentamento com o Governo e com o PS.

P.S. - Faça as suas próprias contas (aqui)

Publicado por irreflexoes 11:48:00  

9 Comments:

  1. Anónimo said...
    essas contas foram feitas detrás da orelha: não se subtrai 3,11% (o que vale o PP) ao resultado total do PSD ' coligações, antes ao score do psd em coligações - o que deverá dar um valor bastante mais baixo, pelo que percebi, o partido coligou-se numa fracção dos concelhos.
    Anónimo said...
    há quatro anos o tonecas bazou pq o resultado tinha sido mau. ontem ainda foi pior do que há quatro anos ou seja essa sua análise de percentagens é boa para o "recycle bin".
    bc
    irreflexoes said...
    Homem das Neves,

    Tem alguma razão, mas estas contas partem necessariamente de pressupostos irrealistas.

    O nível de desagregação que propõe até merece a minha concordância lógica mas é impossível de "computar".

    Suponhamos que presumimos agora que só contamos os 3,11% nos concelhos em que houve coligação, como sugere.

    Como são 3,11 dos 9,28% obtidos pelas coligações PSD-PP (depois há ainda as outras, com mais partidos, o que complicaria ainda mais as coisas) o PP vale o quê? Vale 3,11/ dos 9.28%? Isso dá mais ou menos 0,3%? Mas não é isso que vale pois não?

    Se quiser ajudar a fazer melhor as contas, isto é, a reduzir a parte em que se arredonda e pressupõe, venha de lá essa folha de excel.
    irreflexoes said...
    Caro Homem das Neves,

    O PSD concorreu coligado em 60 concelhos, contra 300 em que concorreu sózinho.

    Tentando aplicar o que propõe eu diria que em um sexto das situações tenho de deduzir os tais 3.11%.

    Isso significaria, contas por alto, que a diferença entre ambos os partidos ficaria na casa dos 3%.

    Mesma conclusão: o PSD está a embandeirar em arco uma vitória nacional por meros 3% face a um partido de governo, fortemente desgastado?
    Anónimo said...
    foi o caro irreflexões que se meteu por esse caminho, não me queira agora meter ao barulho das contas:)

    O raciocinio que apresenta no ultimo comentario já está mais aproximado do que se terá passado, embora seja impossivel de quantificar a realidade, tal como diz no outro comentário.

    Comentario politico nao faz a minha especialidade mas se vai fazser comparações nesses termos o PSD é que estava em má situação há menos de 8 meses. E se apos esse espaço de tempo o PS já está fortemente desgastado, não sei o que lhe diga...
    Anónimo said...
    Por mais contas que façam, uma realidade não vão conseguir mudar: gostem ou não gostem, a esquerda continua a ser a maior força política em Portugal.
    Portanto, para infelicidade de "alguns", a tão apregoada "viragem á direita", ainda não foi desta!!!
    Quanto a mim, congratulo-me por ter contríbuído ontem para a mudança ocorrida em Faro, onde o PS com José Apolinário, derrotou o PSD de José Vitorino, recuperando assim uma Câmara injustamente perdida em 2001.
    Anónimo said...
    Jorge Coelho, o PS e Sócrates perderam onde havia grande concentração de funcionários públicos, e ganharam posições onde essa concentração não existe.

    Se Carmona Rodrigues fosse apoiado pelo PS, perdia na mesma como perdeu Carrilho. Se Rui Rio fosse o candidato do PS no Porto, perdia na mesma como perdeu Francisco Assis. Se o Seara fosse o candidato do PS em Sintra perdia como perdeu João Soares. São concelhos onde residem muitos funcionários públicos dos regimes especiais e que foram penalizados pelas reformas de fundo do Sócrates.
    O PS, ainda que o partido mais votado nestas eleições, perdeu centenas de milhares de votos relativamente às legislativas de Fevereiro. A maioria dessas perdas foi no funcionalismo público. Isto é sinal de que agora as reformas de Sócrates são mesmo para valer.

    Nada de estranho aconteceu. Apenas o previsível para quem sabe o peso que o FP tem no país.

    Isso quer dizer que Sócrates vai no caminho da recuperação do país.
    Anónimo said...
    Caro "anónimo", excelente comentário. Nada a acrescentar.
    Cumprimentos. Fica o convite pra que visitem o «Liblog» - http://planetamercuryii.blogs.sapo.pt
    António Duarte said...
    "Jorge Coelho, o PS e Sócrates perderam onde havia grande concentração de funcionários públicos, e ganharam posições onde essa concentração não existe."


    "Se Rui Rio fosse o candidato do PS no Porto, perdia na mesma como perdeu Francisco Assis."

    O problema desta teoria é que no Porto o PS até teve mais votos que em 2001.

    Ou o Porto não tem funcionários públicos abrangidos pelo regime especial ou a teoria maquiavelica de conspiração morre á nascença.

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