'como um charro'

Parece que o governo tem a intenção de criar uma cadeira de "Educação Cívica" nas escolas. A ideia, segundo Jorge Lacão, é "despertar" os meninos e as meninas, mas principalmente os primeiros, para questões "profundas" e "sérias" como a igualdade entre os homens e as mulheres. Salvo o devido respeito, se o cerne da cadeirinha é esta matéria, não vale a pena. Aos púberes em idade escolar basta-lhes olhar para o lado e intuem imediatamente o mundo em que vivem. Da "primária" aos mestrados, existe hoje uma avassaladora preeminência do sexo feminino e, nas empresas e no Estado, o gineceu é igualmente confortável. , claro, excepções que as contingências sociais e a iliteracia confirmam. Não é o mesmo "ser mulher" na Lapa ou em Fornos de Algodres, ou adolescente na escola primária do Corvo ou na Universidade Católica em Lisboa. Por outro lado, os meninos e as meninas há muito que perceberam as "diferenças" sexuais entre ambos, coisa que, desde cedo, se dedicam a explorar mutuamente sem necessidade nenhuma de "educação". O Estado sempre teve esta mania de pastorear "civicamente" as suas ovelhas. Com Salazar, havia a "organização política e administrativa da nação", ginástica para os meninos e "lavores femininos" para as garotas. O 25 de Abril acabou com a noção "doméstica" das criaturas do sexo feminino, deu ginástica e "actividades circum-escolares " a todos e meteu-lhes na cabeça uma "introdução à política" marxizante. Mais valia que a "educação cívica" "ensinasse" a não escarrar ou a deitar papéis para o chão, a não dizer palavrões a torto e a direito no meio da rua e aos berros, a não mexer ostensivamente nas partes pudibundas, a cultivar hábitos de leitura geral, a desenvolver o "sentimento estético da existência", a não ver televisão, a não ser "formatado", a não ser frívolo, etc, etc. Quanto ao resto, às chamadas questões "profundas", dos costumes e da democracia, é perda de tempo e pura demagogia. O Estado "finge" que lhes "ensina" e eles apenas "fingem" que absorvem. Como se fosse um charro.

João Gonçalves (jg)

Publicado por Manuel 13:18:00  

3 Comments:

  1. Dr. Assur said...
    Caro Manuel.

    Conforme dissemos lá no nosso sítio, os alunos do ensino básico já têm 45 minutos semanais de Formação Cívica?

    Prova: http://www.iie.min-edu.pt/curriculo/Programas/programas_3ciclo.asp
    Anónimo said...
    Muito bom post.
    Concordo praticamente com tudo.

    A única ressalva é esta: exactamente para resolver os problemas enormes de falta de civismo de que esta sociedade obviamente padece não podemos contar com (a maior parte d)as famílias.
    É evidente que não é "o Estado" que tem de resolver tudo, e aliás já se mete em coisas demais com recursos demais, mas... algum palpite sobre como é que, depois de educar os meus filhos numa base diária para os princípios mais elementares, depois de voltarem à noite para casa com dezenas de exemplos contrários ainda consigo dizer-lhes que vale a pena ser diferente?
    Anónimo said...
    QUE ESTRANHA NOÇÃO DE CIDADANIA QUE SE TEM POR AQUI: se eu não cuspir para o chão, se me não coçar em público, se tapar sempre a boca quando bocejo e quando espirro, se nunca me exaltar em público... e se nunca votar, não souber a diferença ideológica entre BE e CDS, não souber o mínimo do enquadramento legal português, se não conhecer regras básicas de utilização da via pública, se continuar a achar que enquanto rapaz não tenho de aprender a cozinhar ou a lavar a roupa....

    Serei um bom jovem cidadão? O post parece indiciar que sim. Eu estranho...

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