A "artilharia pesada"

Esqueçam tudo o que até agora foi dito sobre a "união", a "concórdia" e os "afectos". O verdadeiro candidato Mário Soares está "todo", inteiro, naqueles breves segundos em que, fugindo à banalidade, vergastou Cavaco com a sua "reforma" de "político profissional". Basta ter olhado para as televisões, como previ, ou lido os jornais, para perceber "o que é que interessa". Os "manifestos" e as "declarações de candidatura" vão rapidamente esfumar-se por entre bravatas captadas pelas câmaras e pelos textos. Atrair Cavaco para a "peixeirada" - duvido do sucesso do exercício - é o que importa. É preciso recuar a Agosto para situarmos as coisas no seu devido sítio. No famoso "perídodo de reflexão", Soares deu logo conta ao que vinha. Evitar, a todo o custo, o "passeio pela Avenida", alegadamente preparado para e por Cavaco, é o verdadeiro "programa". Vai, por isso, valer tudo. Soares acha - sempre achou - que Cavaco não possui aquilo a que ele e os seus amigos apelidam de "cultura democrática". Não ter estado escondido da PIDE, nem que por breves instantes, atrás de uma moita, é uma falha curricular grave. Não "praticar" a política, nem tão-pouco "teorizar" sobre ela a partir de uma visão jacobina do mundo e dos outros, é outra. Finalmente ter tido de suportar, durante os dez anos de mandato, a esquálida figura que, na sua concepção sobranceira, emergiu do "nada", terá sido a última das provações. Como se tudo isto não bastasse, Cavaco "ainda" tem o desplante de se candidatar a Belém, e, imagine-se, a veleidade plausível de vencer. Soares, o "real" - e não o das sonolentas apresentações a que temos assistido -, está-se nas tintas para os "afectos" quando a sua sobrevivência está em causa. Fazer dele um "coitadinho", perdido na bruma das sondagens, é uma falácia perigosa. Como ele explicou na Visconde Valbom, numa tarde de domingo solarento de Inverno, a uma plateia de "jovens" que faziam parte do MASP I, em 1985, com Zenha era forçado a recorrer à "artilharia pesada". É essa que ele irá buscar à medida que as coisas forem "aquecendo". A da "reforma" é apenas um "cheirinho" do que aí vem.

Publicado por João Gonçalves 13:25:00  

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