Sons de estimação

Ladies and gentlemen! From Southern California: The Beach Boys!

A apresentação em altifalantes portentosos e no escuro, já tem barbas, de certo. Não as de um Mike Love , nem as de um Bruce Johnston que as cortaram, antes do grupo se ter reduzido a eles, acompanhados por uma banda de ocasião, sem nome nem mérito, mesmo com as violas vermelhas reluzentes nos acordes de Chuck Berry, pouco inspirados e mal tocados.

Mas são estes dois músicos originais que dão a cara e o cartaz a anunciar o nome de marca - Beach Boys. E será por esse nome mítico e pela nostalgia serôdia e já de algumas dezenas de anos que as pessoas vão aos concertos. Para recordar sons e ver gestos em camisas hawaianas, soltas nas cores e assertoadas no trato de imaginárias pranchas de surf.

Na versão original, o grupo compreendia os irmãos, Dennis, Carl e… Brian Wilson. Mike Love é primo deles e Bruce Johnston entrou em 1965, para suprir as faltas de Brian em palco. Falta assim Al Jardine, o bravo guitarrista e compositor de Califórnia Saga do LP Holland de início dos anos setenta e composto fica o ramalhete de um dos grupos mais importantes e significativos da música popular de expressão anglo saxónica.

Como parceiros de sonoridades excelentes, só se ouvem os Beatles. Como grupo de andarilhos de tournées, só duraram mais os Rolling Stones.

Na net, os sites dedicados ao grupo, são legião.

Com mais de sessenta anos cada um e vozes sumidas nos falsetes, Mike Love e Bruce Johnston fizeram-se acompanhar no espectáculo do Coliseu de quarta feira, 31 de Agosto, por um naipe de músicos jovens emedíocres. O grupo disfarça em duas guitarras à Chuck Berry, as sonoridades de dois instrumentos de teclas que permitem a Bruce Johnston permanecer sentado durante a maior parte do concerto, enquanto Mike Love repete pela enésima vez os gestos de sedutor barato em bar de segunda.

Mesmo com uma sonoridade confusa que a mesa de controlo e mistura não aclara e antes amplifica, as canções aparecem na sua identidade primitiva: ritmos rápidos e sincopados por naipes de teclado, a saltear vozes em falsete e harmonias canónicas, algumas vezes intactas e outras apenas perceptíveis na cacofonia da mistura sonora.

Em poucos minutos, desfilam no palco sonoro, mais de uma dezena de canções clássicas como a calça de ganga: algodão azul que melhora com o tempo e o uso.

Mesmo torcidas nas harmonias das últimas oitavas, o ritmo acelerado do baixo e bateria, acompanha o essencial da melodia e permite a identificação e a referência esperada: não tem a sonoridade dos discos, mas ouve-se com os olhos e desculpa-se o massacre sonoro com a presença em palco dos génios originais que as criaram.

Desfilam num ápice os hits dos sessenta... I get around, surfin´safari, little deuce coup, dance dance dance, why do fools fall in love, and… then i kissed her (verdade, porque aguentou o canto já rouco e aceitou dançar).

Depois do meddle que abarcou virtualmente todos os hits dos sessenta, uns slows com destaque para Surfer girl e uma naipe de canções de setenta, introduzidas por I can hear music ( et pour cause). Ouviu-se uma versão sofrível, mas bem ritmada de sail on sailor, surf´s up e outras como Califórnia Dreamin´ dos Mammas and Pappas que deram lugar aos hits maiores e à homenagem que Mike Love, com toda a justiça prestou aos primos Wilson, Carl e Brian. A versão audível de Good Vibrations e principalmente a canção genial God only knows, do LP Pet Sounds de 1967 que ombreia em qualidade intrínseca com um Sergeant Peppers dos Beatles e outros clássicos de todos os tempos. Neste caso, nem a voz emprestada consegue estragar a canção , pela melodia intemporal que transporta.
O concerto destes Beach Boys abreviados dura pouco mais de uma hora e meia. E chega. As canções do grupo, às dezenas, são audíveis em disco, com toda a qualidade de um sistema de som e um espectáculo deste teor, permite outras alegrias que passam sem o som perfeito ou a execução melhorada: permitem dançar e acompanhar a energia que elas sempre transmitiram a quem se dispôs a ouvir. Mesmo com um grupo medíocre, cujos guitarristas arriscam um solo ou outro que assassina a memória de Chuck Berry em cada acorde de Surfin´in USA.

Para ver e ouvir melhor, há sempre o primeiro episódio do filme Regresso ao Futuro, onde se compila em poucos minutos a história da música rock: três acordes e batida segura com muito panache e precisão técnica. Tudo isso falta ao grupo actual dos Beach Boys originais. Sobram-lhes prestígio e a memória do génio criador. E isso, para mim, bastou. E parece que para a audiência de uns poucos milhares de pessoas presentes também. Por isso, o encore refez-se em clássicos como Summertime Blues de Eddie Cochran. A canção perfeita do rock n´roll! Se ouvirem bem, começa com um som seco do baixo e bateria em quatro batidas bem nítidas e enérgicas. São fáceis de identificar pois já Beethoven as usou, ligeiramente modificadas numa das suas obra primas: a quinta sinfonia começa exactamente com esse som. Apenas com uma diferença. Na música de Beethoven a sonoridade é em tom dramático e majestoso e vai das notas altas para as baixas, num instante; naquela canção é leve e a toada convida logo á dança, pois as notas sobem…e baixam logo a seguir, como é normal... Para mim, é essa a diferença entre os dois géneros. O rock não tem grande mistério, mas tem um encanto - chama-se simplicidade e ritmo.

Nota: escrever sobre as sonoridades da California, numa altura em que uma região bem determinada do sul da América, sofre as consequências dramáticas de um desastre natural, só se compreende se for acompanhada de uma homenagem às pessoas e à música dessa região do nosso mundo. Homenagem às vítimas e tributo aos seus corajosos habitantes que sofrem. New Orleans, além disso, é terra de música e de músicos. E essa música é agora de todos nós. Mas foram eles quem a produziram.

Por isso, cito aqui uma das canções que mais aprecio de Arlo Guthrie...

Ridin' on the City of New Orleans
Illinois Central, Monday mornin' rail
15 cars & 15 restless riders
Three conductors, 25 sacks of mail

All along the southbound odyssey the train pulls out of Kankakee
Rolls along past houses, farms & fields
Passin' graves that have no name, freight yards full of old black men
And the graveyards of rusted automobiles

Good mornin' America, how are you?
Don't you know me? I'm your native son!
I'm the train they call the City of New Orleans
I'll be gone 500 miles when the day is done

Dealin' cards with the old men in the club car
Penny a point, ain't no one keepin' score
Pass the paper bag that holds the bottle
And feel the wheels rumblin' neath the floor

And the sons of Pullman porters & the sons of engineers
Ride their fathers' magic carpets made of steel
Mothers with their babes asleep, rockin' to the gentle beat
And the rhythm of the rails is all they feel

Good mornin' America, how are you?
Say don't you know me? I'm your native son!
I'm the train they call the City of New Orleans.
I'll be gone 500 miles when the day is done.

Night time on the City of New Orleans
Changin' cars in Memphis, Tennessee
Halfway home, we'll be there by mornin'
Thru the Mississippi darkness rollin' down to the sea

But all the towns and people seem to fade into a bad dream
And the steel rail still ain't heard the news
The conductor sings his songs again
"The passengers will please refrain:
This train got the disappea rin' railroad blues

Good night America, how are you?
Say don't you know me? I'm your native son!
I'm the train they call the City of New Orleans.
I'll be gone 500 miles when the day is done.

Publicado por josé 19:49:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Fala do "El Pais", home....xa...!
    Anónimo said...
    A grande Loja debia ser solidario con el Blog Portugues "Astrologiaecabala".

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