Soares 1991-2005

Por duas vezes, em poucos dias, M. Soares insistiu em lembrar a nação que Cavaco Silva, em 1991, "mandou" que se votasse na sua recandidatura. Dá esse estafado exemplo e, em contraste, recorda o tão amado jargão do "socialista, laico e republicano". O tempo não anda para trás, por muito que o candidato socialista toque essa tecla. A última coisa que Cavaco desejava, no início do ano de 1991, era a mínima perturbação no seu propósito de renovar, em Outubro, a maioria absoluta para poder continuar a governar. Não existiam "reparos" de maior a fazer a Soares "primeira versão" e o primeiro-ministro, pragmaticamente, disse que o PSD não apoiaria ninguém se o presidente se recandidatasse. Soares, ele sim, fez então o célebre "passeio pela avenida", com uma votação "albanesa". Nada disso se passa agora. Soares, "terceira versão", vem "pelo lado" da actual maioria parlamentar unipartidária e em mera resposta à sua vaidade pessoal e ao desconforto "presidencial" do secretário-geral do PS. Não é, ao contrário do que quer fazer parecer, um "presidente" retirado que se "recandidata" galhardamente a "bem da nação". É só alguém que gostaria de terminar a sua vida política activa como o grande unificador da "esquerda" portuguesa e, mais do que isso, como o seu "dono" exclusivo. A recorrência a "Cavaco 91" é mera demagogia velhaca, sem qualquer semelhança com o passado, utilizada apenas para tentar "atrair" o eleitorado tendencialmente predisposto a apoiar o ex-primeiro-ministro. Acontece que, a verificar-se, a candidatura presidencial de Cavaco Silva não será um "contra-projecto" para se opôr a Soares ou para o "impedir" do que quer que seja. Soares, por seu turno, surgiu e impôs-se como uma majestática "negativa". Em 91, Soares "estava" e não estava mal. Em 2005, "vem" por nada de extraordinária relevância "nacional". E isso não vale um voto.

Publicado por João Gonçalves 22:26:00  

8 Comments:

  1. Anónimo said...
    Falando abertamente, sem segundas intenções, sem agendas escondidas, cada vez mais acredito que se calhar Alegre seria mesmo mais forte que Soares, a recolher votos dos eleitores de esquerda.

    diogenes
    Anónimo said...
    Diogenes:
    http://bloguitica.blogspot.com/2005/09/o-passeio-na-avenidade-da-liberdade.html
    Anónimo said...
    Alegre seria o Basílio Horta do PS. No último congresso teve 16% do PS. Supor-se-ia agora capaz de conquistar 50% do país???

    E quanto a Cavaco, lembra bem JG: "Acontece que, a verificar-se, a candidatura presidencial de Cavaco Silva...".

    Falta o pequeno pormenor do Professor resistir finalmente ao fastio desta chatice da política e dar à costa...
    Anónimo said...
    Quando Maria de Lurdes Pintasilgo foi primeira ministra de um governo da iniciativa da Ramalho Eanes, antes de sair do seu posto resolveu aumentar as pensões sociais de certas camadas de pensionistas. Foi um aumento considerável.

    Sá Carneiro, na altura a preparar a AD, criticou fortemente esse aumento. A AD ganhou a seguir as eleições e foi para o governo, com Cavaco Silva em ministro das Finanças. Não tardou muito e fez novo aumento dessas pensões, o que fez com que num só ano essas pensões tivessem aumentado cerca de 45%. Começou aqui o descalabro despesista do Estado.

    Mas, como o preço do petróleo entretanto tinha subido muito, de 12$/barril, para perto de 40$/barril, e como Sá Carneiro faleceu no acidente de Camarate, e era depois Pinto Balsemão o primeiro ministro, Cavaco Silva, prevendo mau tempo no canal para a economia mundial e portuguesa abandonou o barco da AD e recusou ser ministro do governo de Balsemão. Este ficou amuado e com o tempo se veria que nunca lhe perdoou este abandono do barco em pleno naufrágio.

    A AD, esfrangalhada por lutas intestinas e pela crise económica que levou o país à beira da bancarrota, acaba por perder as eleições em 1983 e dá lugar a um governo de salvação nacional presidido por Mário Soares, com Mota Pinto em vice-primeio ministro. Foi o governo do bloco central.

    Mário Soares teve de recorrer ao FMI para resolver a situação, com a ajuda do seu ministro das Finanças, Hernani Lopes. Em 1985 as contas públicas estavam recuperadas e o caso deu brado nos meios financeiros internacionais. Portugal passou a ser um exemplo de bom aluno do FMI.

    Mas esta recuperação das finanças públicas custou popularidade a Mário Soares e ao PS, que na altura fez outra grande reforma, a do arrendamento, matéria tabú para os governos anteriores. E o PSD, com Cavaco Silva, sobe ao poder.

    Iniciava-se na altura a recuperação da economia mundial depois do choque do petróleo de 1980/81, com a descida forte do preço do petróleo. Cavaco Silva, bem infomado sobre os ciclos económicos, viu que teria um período de vacas gordas para fazer figuraço, até porque Portugal se preparava para entrar na CEE e iria receber chorudos fundos comunitários.

    Cavaco Silva passou então a governar com três Orçamentos, o geral do Estado, o dos fundos comunitários e o das privatizações da banca, seguros, etc.

    Foi um fartar vilanagem, dinheiro a rodos para distribuir pela clientela, incluindo centenas de milhares de funcionários públicos. O despesismo estatal no seu melhor! Fez obras, sim senhor, incluindo o CCB, que era para custar 6 milhões de contos e custou 40 milhões, segundo se disse na época. O rigor cavaquista no seu melhor!

    Anos depois vem a guerra do Golfo, com implicações económicas fortes a nível internacional, e Cavaco Silva, prevendo período de vacas magras e já com ele em andamento, resolveu abandonar o barco e parar de governar e entregou o testemunho ao seu ex-ministro Nogueira. Este perdeu as eleições para Guterres e em 1996 iniciava-se a recuperação da economia mundial. Foi um bom período para Guterres, que continuou o despesismo de Cavaco Silva, já que este último tinha deixado o campo minado por sistemas automáticos de aumento da despesa pública, o MONSTRO cavaquista de que viria a falar Miguel Cadilhe, além de milhares de contratados a recibos verdes no aparelho do Estado, que Guterres teve de integrar nos quadros do Estado para não ter de mandar para a rua gente que há anos não fazia outra coisa senão trabalhar para e dentro do aparelho de Estado.

    Foi este o percurso do despesista Cavaco Silva, o que como ministro das finanças da AD aumentou num ano, pela segunda vez, milhares de pensionistas, e o que, como primeiro ministro, aumentou a despesa pública de tal ordem que os défices públicos da sua governação, se limpos das receitas extraordinárias, subiram tanto (chegou a 9% do PIB) que o actual défice das contas públicas é apenas mais um no oceano despesista inventado por Cavaco Silva nos longínquos tempos da AD e continuado nos tempos em que foi primeiro ministro, depois da recuperação heroica dos tempos de Mário Soares e Hernani Lopes, nos anos 1983-85.

    É neste despesista disfarçado de rigor que devemos votar para PR? Desculpem, se quiserem propor Hernani Lopes para PR, podem contar com o meu voto. Mas como ele não aparece a candidatar-se a PR, vou votar em quem o ajudou a salvar Portugal da bancarrota provocada pela AD de Cavaco Silva. E esse alguém é Mário Soares.

    Estes os factos. E eu voto em factos, não em mitos e miragens. Mário Soares tem um brilhante CV em controlo da despesa pública (governos de 1977/78 e 1983-85). Cavaco Silva tem um brilhante CV no descalabro das contas públicas.

    Qualquer economista, se intelectualmente honesto e conhecer um pouco da nossa História recente, rejeita liminarmente este embuste chamado Cavaco Silva. Se ele for presidente da República, como pode ele pregar moralidade económico-financeira quando ele foi e é ainda o pai do MONSTRO? Monstro que agora Sócrates se esforça por abater com as reformas profundas que está a fazer.

    Para os mais novos aqui fica a radiografia do embuste chamado Cavaco Silva.
    Anónimo said...
    Está completamente enganado. Sou militante do PS e jamais votaria em Manuel Alegre. E como eu há muitos, acredite.
    Fernando Martins said...
    Já cá faltava o nonó...
    " Quando Maria de Lurdes Pintasilgo foi primeira ministra..."
    Quando Mário Soares tinha muitos dentes, as mãos não lhe tremiam, não tomava iniciativas descabidas (tipo diálo com a Al-Qaeda e Presidência do Parlamento Europeu...) e os animais falavam... esse tempo é que era bom...!
    Anónimo said...
    Oh! Anónimo das 12:53 hs. como eu gostava de saber o teu verdadeiro nome! Sabe, é que ao contrário da maioria dos tugas eu também tenho memória, embora pertença às massas, e gostei tanto da tua exposição ... Continue por cá que V.Exa. terá uma leitora atenta.
    Beijinhos
    Anónimo said...
    É claro que só não concordo com a parte do Sócrates. Sabe, ele é um mauzão disfarçado de cordeiro, mas a mim não me engana ...
    Um xi-coração da Laurindinha.

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