Sampaio e Guilherme
segunda-feira, setembro 19, 2005
Correu por estes dias grave indignação pela escolha de Guilherme Oliveira Martins, ex-ministro de Guterres e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, para juíz-presidente do Tribunal de Contas. Já disse o que pensava disto. Martins não passa de um amável cortesão que representa muitíssimo bem o "regime", com a "vantagem" de emergir dos seus interstícios. De uma forma geral, não incomoda (ou só incomoda apenas por vir de onde vem), o que o torna ideal para a função. O gongorismo do Tribunal de Contas adapta-se, como uma luva, ao "perfil" de Guillherme e Guilherme fica bem sentado no cadeirão substancialmente inócuo do seu presidente. Sampaio, no entanto, prestaria um bom serviço à nação se recusasse esta nomeação. Por duas razões. A primeira, porque assim dispensaria G. O. Martins de um parágrafo menos feliz no seu currículo. A segunda, porque emprestava, com esse gesto, alguma credibilidade à meritória função de controlo do Tribunal. Sim, apesar de tudo, "aquilo" sempre é um Tribunal, qualquer coisa que tem a ver com a tão prostituída palavra "independência". Era conveniente, pois, no "estado a que isto chegou", não desprestigiar ainda mais o "regime" com coisas perfeitamente evitáveis. Guilherme não o merece e o país, distraído na sua bovina mansidão, também não.
Publicado por João Gonçalves 16:32:00
5 Comments:
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Deixemo-nos de fofoquices que não interessam a ninguém, senão aos fofoqueiros e lojistas limianos, e falemos de algo que interessa sobremaneira ao povo português.
Refiro-me ao chamado Balcão Único, que o governo de Sócrates vai lançar brevemente. Neste Balcão, que pode estar em qualquer ponto do país num serviço estatal já existente, um cidadão poderá tratar de qualquer assunto que lhe diga respeito, desdes assuntos do desemprego a assuntos de saúde ou fiscais, escusando de andar de capela em capela a pedir papeis para os entregar numa outra capela estatal qualquer.
Ora, quando um Governo que entra em funções e ao fim de três meses úteis de governação consegue fazer com que uma empresa seja criada numa hora ou pouco mais, pondo-nos na vanguarda europeia e mundial nessa área da adminstraçao pública (coisa impensável há um ano atrás), é evidente que esta nova reforma governamental socrática é para levar a sério.
Há sectores liberais na nossa sociedade que ainda têm reservas quanto a este Governo no que respeita à sua capacidade reformadora e modernizadora, até eu ao princípio desconfiei dessa capacidade, mas já vi que este é de longe o Governo mais reformista e modernizador das últimas décadas, senão mesmo do último século.
Note-se que Portugal, nos rankings europeus é considerado um dos países de vanguarda na e-government. Parabens por isso a este Governo por esta nova grande reforma.
Mas, por amor de Deus, deixem este Governo lá estar os 4 anos da legislatura para se verem os resultados. A estabilidade política é o bem mais precioso numa democracia recente como a nossa.
Portanto o seu post não colhe. É mais uma baboseira partidária do costume.
Porque será ?
1ª Parte de um texto de Abril de 2000, assinado pelo advogado e jornalista António Marinho
MARIO SOARES E ANGOLA
Por António Marinho (advogado e jornalista)
in « Diário do Centro », de 15 de Março de 2000
A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos.
Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, « comendadores » e comentadores de serviço, etc? Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel.
Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana « Papa Doc » e « Baby Doc ».
Vejamos então por que é que eu não gosto dele(s).
1. - A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios mas sim fins. É-lhe atribuida a célebre frase : « Em política, feio, feio, é perder ». São conhecidos também os seus zigue-zagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo.
Já depois do 25 de Abril, assumiu-se como o homem dos americanos e da CIA em Portugal e na própria Internacional Socialista. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador Allende no Chile e que colocara no poder Augusto Pinochet.
Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e foi amigo de Nicolau Ceaucescu, figura que chegou a apresentar como modelo a ser seguido pelos comunistas portugueses.
Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de ordem « Partido Socialista, Partido Marxista », mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas : políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários em atraso.
INSULTO A UM JUIZ
Em Coimbra, onde veio uma vez como primeiro ministro, foi confrontado com uma manifestação de trabalhadores com salários em atraso. Soares não gostou do que ouviu (chamaram-lhe o que Soares tem chamado aos governantes angolanos) e alguns trabalhadores foram presos por polícias zelosos. Mas, como não apresentou queixa (o tipo de crime em causa exigia a apresentação de queixa), o juiz não teve outro remédio senão libertar os detidos no próprio dia. Soares não gostou e insultou publicamente esse magistrado, o qual ainda apresentou queixa ao Conselho Superior da Magistratura contra Mário Soares, mas sua excelência não foi incomodado. Na sequência, foi modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira alteração de que foi alvo por exigência dos interesses pessoais de figuras políticas.
Soares é arrogante, pesporrento e malcriado. É conhecidíssima a frase que dirigiu, perante as câmaras de TV, a um agente da GNR em serviço que cumpria a missão de lhe fazer escolta enquanto presidente da República durante a Presidência aberta em Lisboa : « Ó sr. Guarda desapareça ». Nunca, em Portugal, um agente da autoridade terá sido tão humilhado publicamente por um responsável político, como aquele pobre soldado da GNR .
Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou melhor é muito democrata se fôr ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o ; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações. Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais.
Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país. Em 1980, não hesitou em apoiar objectivamente o General Soares Carneiro contra Eanes, não por razões políticas mas devido ao ódio pessoal que nutria pelo general Ramalho Eanes. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre como Francisco Salgado Zenha.
Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente, parece ter-se incluido agora o actual presidente da República), apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário Soares. Na altura todos meteram a cabeça na areia, incluindo o próprio clã dos Soares, e nem tugiram nem mugiram, apesar de as acusações serem então bem mais graves do que as de agora. Por que é que Jorge Sampaio se calou contra as « calúnias » de Rui Mateus ?»