O argueiro e as traves
domingo, setembro 04, 2005
O nosso bravo Vital, zurzidor de mabecos e biltres, que aliás vota ao desprezo, à míngua de melhor preocupação, atira-se em pequeno postal, a… um “monstro arquitectónico” citadino. Explico...
Em Viana do Castelo, existe há um pouco mais de trinta anos, um prédio de habitação, com uma dúzia de andares e que foi encravado no lugar de um mercado municipal então existente, sobressaindo na paisagem devido a uma erecção despropositada e algo obscena para os olhares púdicos da estética recente e reinante.
A construção do bloco de arquitectura aceitável e moderna, para a época, foi autorizada pelos poderes de então, amplamente democráticos e recém saídos do 25 de Abril e que não viram o efeito estético que desfeia a paisagem harmoniosa dos restantes edifícios vetustos, de segundos andares e mansardas, junto ao jardim público que separa a cidade do rio. O efeito, para quem está habituado à paisagem da cidade, é quase nulo e não é garantido que a sua derrocada programada altere substancialmente o agradável skyline da cidade. Para além disso, o custo das operação é elevado e um luxo estético pode comprometer uma aplicação mais consentânea com as nossas pobres bolsas portuguesas, à espera da recessão. Porém, esse aspecto é questão de somenos sempre que se trata de dar andamento a decisões políticas polémicas e a tricas de poderes que teimam em se digladiar por questões de teimosia e prestígio.
Assim, na questão concreta do prédio a demolir, a ideia inicial foi inserida no projecto Polis, há já alguns anos e desde então, os decisores políticos, ligados ao PS, mesmo com a oposição maioritária dos moradores e de uma boa parte da população que se ficará inteiramente nas tintas para a operação, exclusivamente estética , insistem em provocar a derrocada do prédio que já estará até programada. O PSD já manifestou a sua oposição e durante os governos do PSD, o projecto de demolição ficou congelado e sem andamento. É assim a política em Portugal e Vital assenta que nem uma luva neste esquema de sectarismo cego, surdo e mudo aos argumentos que não venham do lado certo da sua barricada.
Porém, Vital, em vez de defender uma causa aparentemente espúria e que nem é da sua terra, fazendo-o por motivos óbvios de luta política, poderia muito bem, olhar para… Coimbra, por exemplo!
Coimbra, actualmente e para o visitante ocasional, é um lugar de exílio. A alta coimbrã, redesenhada nos anos de Salazar, mantém a estética que os planeadores lhe imprimiram. E diga-se em abono da verdade, que não desmerece e acolhe uma academia com honra e dignidade mínimas, conjugando os edifícios antigos, vindos da ancestralidade medieval e modificados ao longo dos séculos, com a arquitectura do Estado Novo.
Não me parece, no entanto que seja preciso defender nessa alta coimbrã, alguma demolição por causa do efeito estético pernicioso.
Mas desçamos as escadas monumentais e entremos na zona da Praça da República: quem lá esteve há trinta anos e quem a visita agora , vê largos e sérios motivos de preocupação estética, com a evidência da fealdade e mau gosto a entrar pelos olhos adentro do visitante: tendas desmontáveis na placa; esplanadas acrescentadas sem critério; sujidade a rodos; um teatro Gil Vicente degradado e uma Associação Académica a envelhecer muito mal; carros estaciondos em ambos os lados de uma rua estreita e íngreme chamada P.e António Vieira . Descendo ainda mais em direcção a uma baixa de uma dignidade notável, ao lado da igreja de Santa Cruz, vemos obras no mercado municipal que o deixaram ficar no mesmo sítio. Na baixa, a retirada de carros, permitiu que lojas comerciais assentassem arraiais, mas não modificou ou melhorou a estética existente.
Se quisermos subir para o lado nascente e formos parar a Celas que temos de notável em trinta anos de poder autárquico local?! Nada! Nada de nada que merece relevo. Uns mamarrachos piores do que o prédio do Coutinho e que se multiplicam como cogumelos e que não merecem a atenção do Polis nem de Vital; uns edifícios de habitação incaracterísticos e uma degradação quase completa e triste na zona antes chique e agora de chiqueiro, na parte mais alta.
Se virarmos a bússola e seguirmos a rota do sul, paramos naquilo que misteriosamente se chama Pólo II. A zona, foi recentemente fustigada pelos incêndios rompantes que invadiram as portas da cidade, vindos directa e em poucas horas de Penacova e que os poderes locais, regionais e nacionais não conseguiram suster. Arderam casas de habitação nessa zona. Vital, que me lembre, nem um postalzinho escreveu sobre o assunto... que incomodasse e interrogasse por que motivos reais, foi possível deixar avançar um incêndio que começou dezenas de quilómetros antes e entrou de rompante nas portas da cidade. Nada de especial. Um silêncio sepulcral e circunspecto.
Mas as desgraças não se resumem à catástrofe natural que assolou essa parte da cidade. Quem lá passar, tem muitos e vários motivos de perplexidade: é uma zona cara da cidade. Muito cara, aliás. Uma moradia que em Viana do Castelo pode custar 60 mil contos antigos, lá não custará menos de 100 mil, garantidamente.
Além disso, a qualidade de construção dos edifícios, alguns deles em cascata pelo monte abaixo, é deplorável. Basta entrar e ver com os próprios olhos…
Para não desfiar mais contas deste rosário de amarguras que deveriam preocupar qualquer habitante de Coimbra, digno desse nome, deixo apenas uma nota...
Recentemente, foi construída e já está em funcionamento o edifício da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, precisamente no âmago desse Pólo II, já de si envolvido em matagal esparso de pinheiros e eucaliptos à farta, que permitiram que o fogo chegasse literalmente às portas dos edifícios do departamento das Químicas. A zona, sendo de paisagem frondosa, é feia devido à completa ausência de arranjos paisagísticos mínimos e elementares. Para comparação e vergonha, os responsáveis deveriam ser obrigados a visitar outro Pólo Universitário, mas desta vez, em Vigo, na vizinha Espanha. Vão e aprendam!
Escrevo aqui para todos lerem: aquele edifício da FCTUC, é dos edifícios mais feios e pior construídos e acabados que me foi dado ver recentemente. É uma autêntica vergonha pública. Nem sequer é uma questão estética -. é apenas uma questão de gosto comum e simples.
Não percebo por isso que Vital veja um argueirinho em Viana e se esqueça das traves de betão que se lhe atravancam na frente… mesmo lá, em Coimbra. E parece que a responsabilidade da edilidade, durante anos e anos a fio esteve a cargo de um tal Manuel Machado. Do PS, precisamente. Mas a estes, Vital Moreira, não belisca. Vá lá saber-se porquê, prefere entreter-se a injuriar.
Publicado por josé 12:29:00
Fernando Barata
Atrás do anonimato todos os biltres são heróis para si mesmos.
José Manuel
Já agora, falem também de Leiria (a GLQL podia chiar uma secção de atentados urbanísticos, por cidades, classificar a qualidade das mesmas e estariamos aqui dois ou três anos a conversar...!).
Na blogosfera, há nomes que só cultivam a personalidade.E detestam quem não lhes tira o chapéu.
São pequenos estalines que nunca mudaram naquilo que lhes será mais intrínseco: um carácter à medida da peanha que ocupam.
Para isso, é melhor ser um anónimo, mesmo que tenha como nome Carlos Manuel...
Mais concentração. Então homem, Deus lhe valha.
"São pequenos estalines que nunca mudaram". Cuitado. Isso é contagioso?
Heróis
Atrás do anonimato todos os biltres são heróis para si mesmos.
Mais palavras para quê?! Só se for para chegar ao nível dos nomes anódinos...
O meu email é este:
jmvc@sapo.pt
Agora, quero ver se tem coragem para se dar a conhecer.
Ou se toma do veneno que destilou.
Não é por acaso que uma cidade com uma localização muito boa, que teve um óptimo tecido industrial está neste momento reduzida a faculdades "velhas" , a advogados e médicos endinheirados que alimentam a bolha especulativa imobiliária.
Neste momento Coimbra é, de facto, uma cidade dependente da máquina estatal, da autarquia e do sector saúde (com clínicas privadas com sumptuosa rendibilidade).
Mais, é também uma cidade sem capacidade para gerar riqueza "reprodutiva", onde os únicas possibilidades de emprego se cingem a empregos ligados ao comércio/serviços.
Nada tenho contra o Prof. VM, mas desconfio das pessoas que utilizam as suas elevadas capacidades para serem desonestos intelectualmente.
JAM
COmo é bom de ler, também nada tenho de pessoal, contra o professor Vital.Absolutamente nada.
Tenho, porém, quanto ao que leio e vejo em tomadas de posição que são públicas.
Por outro lado, a figura identitária do blogger Vital, não se confunde com a pessoa que vive não sei onde; faz exactamente nem sei o quê e passa o tempo como não me interessa.
Interessa-me sim, o que vai escrevendo num exercício óbvio de influência mediática e militância política. Só isso. É só nessa vertente que tenho escrito e criticado o que o blogger e cronista ( do Público) VItal vai escrevendo.
Aqui há uns meses, escreveu um artigo no Público sobre a liberdade de informação e o segredo de justiça. COmo também escreveu um artigo no blog sobre o assunto, em discrepância patente, fiz-lhe ver o deslize.
Sobre o TGV também já tergiversou.
Agora, deu no insulto barato, por causa de lhe atirarem ao penacho.
O caso Vital importaria nada, caso fosse um anódino, mas a verdade é que não é. É ouvido, escutado no Rato e tomado em linha de conta o que vai produzindo intelectualmente.
É só por isso que lhe dou importância, porque de facto, na realidade, segundo se depreende do que vai escrevendo, não é brilhante. E foi uma desilusão, porque o tinha em muito melhor conta, por causa das obras jurídicas de algum rigor e interesse- a COnstituição anotada é uma obra prima, quanto a mim.
Enfim...
Acho que se devem corrigir os erros do passado mesmo que tenha passado muito tempo!
A qualidade de construção é má e a divisão de espaço é assustadora. O prédio é uma aberração.