Os comedores, os políticos, as sardinhas e as francesinhas

Um grupo auto-intitulado "Mártires de Santo António" reivindicou a autoria dos atentados concomitantes que vitimaram ontem à dentada mais de 50 sardinhas no mercado do Bolhão e uma dezena de francesinhas estiradas numa bandeja de uma pastelaria muito concorrida na Rua de Santa Catarina, no Porto.

Num comunicado difundido através de um site alfacinha, a organização explicou que “os heróis bulímicos perpetraram um bendito ataque a dois lugares sagrados do Porto, e agora toda a Nação nortenha está aterrorizada.

Tínhamos avisado repetidamente as vendedoras da praça para só se abastecerem na lota de Sesimbra e o dono do café a trocar as francesinhas pelos pastéis de Belém com canela”.

Entretanto, a polícia descobriu nos locais vários manjericos suspeitos com nesgas de papel higiénico impregnado de quadras das marchas de Santo António alusivas à vitória benfiquista no último campeonato, sendo que, numa das sardinhas, as escamas continham a seguinte inscrição enigmática: “O próximo também será nosso”.

Os ataques terroristas suscitaram inflamadas reacções de todos os quadrantes dos frequentadores dos dois estabelecimentos, em especial de uma senhora esfomeada sentada numa mesa no lado sul do café, inconformada com o facto de ter de levar para casa as duas empadas restantes de galinha recessas, e das peixeiras das bancadas a poente, que, na miséria iminente, lamentaram ter declinado o convite recente para o pelouro das pescas de votos na câmara municipal de Gondomar.

A nível superior, o dono do café garantiu que “nenhum alarve fará alterar uma linha do histórico cardápio da casa, nem mesmo o Daniel Serrão”, instando todos os portuenses a responder ao terror dobrando o consumo das iguarias. O gerente do Bolhão também desvalorizou o episódio, uma vez que, das 50 sardinhas, apenas duas não tinham sido já congeladas e descongeladas várias vezes, porque eram enlatadas, de modo que os executantes não devem ter tido tempo de atravessar sequer o rio Douro, com o peso e o ardor da diarreia nas cuecas.

O papa foi mais comedido, limitando-se a exortar os oponentes a resolverem os conflitos dentro das quatro linhas da catedral do fecepê, tendo manifestado surpresa com a violência inaudita dos criminosos, ainda ligeiramente superior à das claques.

Finalmente, o rei das bolachas aventou uma vez mais a estratégia do diálogo com os comedores, acreditando que seria exequível a combinação da entrega semanal de um cardume fresco de sardinhas, preferentemente americanas, além do perdão inevitável da dívida das francesinhas, na esperança de erradicar a fome nos arrabaldes e prevenir assim a violência. Acrescentou que "somente por má-fé e radicalismo os portuenses ainda não substituiram as marteladas de São João pelas marchas de Santo António".

Publicado por Nino 18:29:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    cinco estrelas, para variar.
    Pedro Sá said...
    É O DESCRÉDITO !

    ESTÁ BRUTAL !

    BAHAHAHHHHHHAHAAHHAAHAHAHAH!

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