Como uma onda - sempre do contra.
quarta-feira, julho 13, 2005
Marketeiros
O Manuel [Grande Loja] acha que me insulta chamando-me Edson Athayde. Engana-se. E está enganado.
A Espanha construiu a primeira linha de TGV, já lá vão uns anos, enquanto equilibrava as contas públicas. O resultado está à vista.
A França é tão avançada tecnologicamente que inventou a Net antes da Net (chamava-se Minitel, lembram-se?) e foi o flop que se viu. E agora ainda anda às voltas com o abissal afundamento da língua francesa na Net, americana como se sabe.
O problema de Portugal é outro - os grandes centros de excelência e de influência, como a GLQL, estão sempre do contra...
in Terras do Nunca
É irónico, ou talvez não, mas quem assina as linhas acima é o mesmo que no seu blog se tem entretido a criticar os plebeus que se põe em bicos de pés inundando as redações do jornais, e o espaço do leitor destes, com textos a metro sobre tudo e mais alguma coisa.
E é pena, porque o João é parte integrante da direção daquilo que continua a ser um dos esteios da comunicação social, do regime, e até do sistema, pesem as atribulações recentes, o Diário de Notícias. E sendo um dos esteios do esteio esperava-se, neste caso como ocorreu noutros, uma seriedade, uma precisão, mesmo opinando, substantivamente superior à do palpitador anónimo e plebeu que discute tudo sem perceber de nada.
A dimensão, a topologia, a distribuição demográfica e económica de Espanha tem pouco ou nada a ver com a Portuguesa. Admitindo que falamos por fases, e admitindo que o quer se quer hipoteticamente fazer com o TGV em Portugal corresponderá - grosso modo - à tal fase inicial espanhola (a segunda fase é a citada ontem pomposamente pelo João) está o João em condições de garantir que, e proporcionalmente, a dimensão do lado português é adequada ? i.e. - face à dimensão do país - não será gasto (vs o PIB, ou qualquer outra métrica) muito mais dinheiro do que se gastou em Espanha ? Sabendo-se que o TGV é util para viagens a partir de determinada duração/distância e que só é viável interligando pólos urbanos com uma determindada massa populacional (que garantam fluxos minimos de passageiros) quantos desses pólos existem em Espanha, e quantos existem em Portugal ? i.e. fará mesmo sentido, dada a dimensão e a geografia do país, que é a que é, ter um TGV quase transvestido de metro ultra rápido, ou antes, quanto muito, um TGV, racional em T, que nos ligue simplesmente a Espanha com conta peso e medida ? Ainda, sobre o TGV, dê-se de barato - a realidade não é assim tão simples - que o Governo Espanhol, aquando da sua construção, pretendia impulsionar - até com a própria construção - a economia espanhola - o João faz ideia de que percentagem real dos biliões a gastar no TGV ficarão realmente em Portugal, ou julgará quiçá que a Siemens tem capitais portugueses ?
Podem haver razões para existir um TGV - com pés e cabeça - em Portugal - e há, gostava é que o João, em vez de cantar de galo e puxar dos galões, demonstrasse quais são - no caso concreto português - e porque é que essas razões transformam o TGV numa prioridade imediata num tempo de parcos recursos financeiros.
Boutades como a acima transcrita podem ter piada numa conversa bem regada de café mas são tão pertinentes e geniais como afirmar que Portugal deve ter um programa espacial porque os americanos também tem um e a economia deles está a crescer...
Quanto à França, o João, bem, o João chutou para o lado. O minitel está para a internet como o fax está para o computador, e se o minitel foi um flop, e foi-o por duas ordens de razões, uma, era tudo menos descentralizado, e a grande virtude da net é todos poderem ser publishers, e no minitel o custo e a deficuldade de publicar conteúdos e serviços era substantial - era quanto muito uma proto-net quase read-only se é que se pode (?) comparar uma espécie de telexto (das TVs) à net. A outra razão é que os franceses desenvolveram o standard de uma forma fechada com base em standards fechados e elevados royalties, à revelia do resto do planeta, pelo que numa economia globalizada, não ganhou massa crítica - desenvolvimento em circuito fechado e praticamente só na França - o colapso era inevitável. Aliás a net foi inventada perto, no CERN na Suíça...
Mas indo à grande questão, engana-se o João e engana-se rotundamente - quando diz que em Portugal o problema é ser-se do contra. E engana-se porque isso é falso.
O problema em Portugal é não se ter ideias próprias, nem arcaboiço para as defender, e não as tendo, copiam-se e citam-se mal terceiros, porque se correr mal a culpa é dos outros, arranjam-se consultores milionários (ainda um destes dias me passou pelas mãos um powerpoint patético que custou largos milhares de contos encomendado por um ex secretário de estado a uma grande consultora e que só dizia banalidades sobre a problemática dos incêndios, mais, algo que qualquer estagiário em qualquer redação era capaz de compilar), e - pior, muito pior - não se ter coragem.
Já não se faz nada porque se quer, porque se acredita, porque se tem uma visão, mas porque - alegadamente - lá terá que ser. Ser contra é assim tão chique como ser a favor desde que haja alguém em quem nos escudarmos, que nos desresponsabilize... É a inefável teoria dos ciclos ou se se quiser das modas, porque o que interessa é estar na onda.
Não é João ?
Publicado por Manuel 16:22:00
4 Comments:
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Não me ocorria que o JMF era o mesmo do DN.
É o mesmo da crítica musical?
Lamento mas tal afirmação demonstra um grande desconhecimento sobre a questão. Começando pela afirmação inicial de que o Minitel foi um falhanço: o facto de não ter atingido a mesma expressão do que a Internet não significa que se tenha tornado um falhanço. Os serviços concorrentes lançados pelos organismos congéneres no Reino Unido e na Alemanha tiveram uma expressão bem menor. Quanto ao grau de centralização dos dois sistemas é uma questão que analisada do ponto de vista técnico é bastante discutível.
"Era quanto muito uma proto-net quase read-only se é que se pode (?) comparar uma espécie de telexto (das TVs) à net". A maior parte dos serviços de valor acrescentado (muitos deles de caracter interactivo - o chat apareceu no minitel bem antes de existir na Internet) entretanto popularizados baseiam-se em conceitos desenvolvidos e testados com o Minitel. O serviço "quisque" é um bom exemplo.
Acrescenta-se mais adiante "os franceses desenvolveram o standard de uma forma fechada com base em standards fechados e elevados royalties". Lamento mas esta afirmação espelha uma vez mais uma profunda ignorância sobre o assunto. As normas videotexto foram em devido tempo publicadas pelo CEPT. Não só as normas eram públicas como os royalties invocados pelo autor nunca constituiram um problema para a difusão do serviço, já que este foi desenvolvido por uma entidade pública (a DGT).
Poderia continuar a desmontar uma por uma as múltiplas incorreções factuais e erros de interpretação. No entanto este nem é o problema fundamental. O que não se percebe é porque razão as pessoas sentem necessidade de se pronunciar sobre assuntos e temas que conhecem mal. Tanto mais que estes comentários são de pouca relevância e acabam por fragilizar uma tese (em meu modesto entender) justa - a da falta de bagagem técnica de muitos membros do pessoal político e o recurso aos "consultores" para credibilizar as suas ideias ou escamotear a ausência de qualquer pensamento coerente sobre as mais variadas matérias.
Indo directo ao assunto - O minitel foi um falhanço! E foi um falhanço porque era de facto centralizado (e isso não é uma questão de ponto de vista). Nenhum gato pingado de sua casa podia lançar um serviço via "minitel" e fornecê-lo aos vizinhos,ou podia (as BBS explodiram nos EUA à custa disso, e pode-se alegar que esse foi um dos factores q impulcionou o desenvolvimento inicial da net lá) ? Foi um falhanço porque o minitel não representou uma alteração substantial no modelo de publishing (coisa que a net representou) one to many clássico (McLuhan, já deve ter ouvido falar) i.e. nõa alterou paradigma nenhum, foi um falhanço porque a "inovação" do mesmo (ainda que com as specs publicadas read-only) foi nula dada que o detentor do know-how sem concorrência visível resolveu dormir na forma. Foi um falhanço porque não sendo a tecnologia no douto entendimento do leitor "proprietária" o facto é que ninguém a podia replicar sem prévio acordo dos franceses, o que deu no que deu, expansão ZERO além frança.
É óbvio que o modelo de negócio (do ponto de vista da operadora) era fabuloso - controlo total e absoluto do ecosistema, pago ao minuto, mas nem aí os franceses (até pela falta de concorrência e pela incapacidade de perceberem que a França já não é o mundo) acertaram - conceptualmente os japoneses conseguiram-no DoCoMo/i-mode, já que foram incapazes de criar APIs/interfaces consistentes de publicação (ainda que text based) de conteúdos.
Quanto aos chats - que não foram uma inovação do minitel (já deve ter ouvido falar em BBSs, não ?) estes não invalidam que no essencial aquilo fosse uma arquitectura centralizada one-to-all. E isto aplica-se aos serviços interactivos de comércio electrónico (a não ser que me falem na grande interactividade de uma transferência electrónica a seco, dado que aquilo de home banking pouco tinha).
Mas o minitel foi sobretudo um falhanço porque qualquer tecnologia deve ter espaço para crescer e se desenvolver. Sendo verdade que teve um bom share em frança, que rendeu muito dinheiro, muito por culpa dos seus propontentes, o minitel meteu-se num beco sem saída, cometeu hara-kiri. Outra vez um falhanço.
O leitor deve gostar de vitórias morais, e o minitel não teve sequer uma.
Quanto à boutade do "falar de cor" palpita-me que o autor deve ter lido o meu texto muito depressa, ou entõa não é do tempo do minitel...