O que é a "tropa"?
terça-feira, junho 14, 2005
Do Editorial de ontem (Tropa Fandanga) de Sérgio Figueiredo sobre as Forças Armadas (FA)...
Nem interessa agora lembrar que a nossa tropa é a única dos países civilizados que consom quase dois terços do Orçamento da Defesa em salários e pensões.
Talvez a reacção do editorialista seja inspirada por alguma declaração menos pensada de algum "sindicato" das FA, não sei, mas tirando essa eventual atenuante apetece-me dizer algo... - declaração de interesses: tenho familiares nas ditas.
Se eu retirar qualquer capacidade operacional às FA, em termos de instrumentos de guerra (pode até ser apenas no combustível), e ficar com as FA nos quartéis para poupar o orçamento, em que é que as FA gastam dinheiro? Pelas minhas contas, em salários ... Por outro lado, quantos dos países civilizados são efectivamente comparáveis com Portugal, país que, recorde-se, esteve em guerra até 1974 com o consequente sobredimensionamento das FA, na altura, e das pensões das ex-FA, agora? O custos da guerra ainda não acabaram, pois não.
Julgo não estar muito longe da verdade com este cenário. Suponho até que a situação não seja mais desequilibrada porque as operações internacionais onde estamos envolvidos (invenção de António Guterres mantida, e bem, desde então, remember?) têm exigido algum investimento em fornecimentos e serviços externos como o aluguer de viaturas ou de armamento (já para não falar do bacalhau para as consoadas)!
Seriamente, convinha saber se o desequilíbrio apontado por Sérgio Figueiredo se deve ao excesso de salários e de direitos face ao que se passa nas FA de outros países (tinha mesmo muita piada esta comparação!), ou antes a esta aberração que têm sido as Forças Desarmadas que temos tipo perante o patrocínio desleixado do Estado.
Posso estar enganado mas parece-me haver gente demais que têm na ideia uma "tropa" ainda sobre-dimensionada, ainda colonialista, a viver num outro mundo, o dos favorecidos (a dualidade de que fala Sérgio Figueiredo). Nesse sentido, a história dos submarinos enquanto gritante desperdício de recursos escassos, serviu de arma de arremesso, pretexto adicional para cegar quem deveria ver mais além. Não vi nenhum movimento generalizado de entusiasmo com os submarinos entre os militares, antes pelo contrário... Pareceu-me que a sensação de se tratar de dinheiro precioso mal gasto, foi tão popular entre os militares quanto entre a populaça, mas pode ter sido só impressão minha...
As FA não precisam de quem se sacrifique por elas na praça pública, defendendo uma dama impopular. As FA são, até decisão em contrário, parte do Estado e devem ser estruturadas e pensadas como tal. Devem existir, ou não, perante uma decisão nacional, tomada por todos, com a máxima urgência, assumida em permanência. E merecem a mesma dignidade que se exige a qualquer serviço público.
Em termos práticos algumas sugestões...
- (re)defina-se a missão e os objectivos para as FA nesta situação de emergência nacional/orçamental, garantindo os meios para a operacionalidade de uma percentagem mínima(máxima!) do quadro de pessoal profissionalizado;
- Questione-se a razoabilidade da relação quantitativa entre os diversos níveis hierárquicos existentes nas FA e imponham-se restrições até que a pirâmide hierárquica seja clara e não semi-invertida permitindo uma autêntica tropa de generais;
- Conclua-se, com urgência, a instalação do sistema de contabilidade público em todas as unidades, bem como, o plano de concentração/encerramento de unidades;
- Aproxime-se a segurança social das FA ao regime geral da função pública, particularmente na assistência na doença;
- Aceitem-se, reconheçam-se e valorizem-se as especificidades da função da FA e assuma-se o regime de reserva (passagem a reserva possível a partir dos 55 anos) e a idade da reforma (possível a partir dos 60 anos) em vigor entre os militares como vantagem/atracção adicional para o ingresso na carreira militar. A menos que se queira uma absoluta originalidade mundial de ter artilheiros, pilotos, maquinistas a reformarem-se aos 65 anos!
- Avalie-se o sucesso do actual modelo em termos de capacidade de atracção de quadros competentes para a carreira profissional.
- Que se deixe de chamar tropa aos militares dos três ramos das Forças Armadas, há qualquer coisa de jocoso e preconceituoso que se dispensa, particularmente quando se vê "a tropa fandanga" num editorial de um jornal.
(.)
Publicado por Rui MCB 13:00:00
10 Comments:
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Não sou especialista em armamento, mero leigo e ainda que me pareça que simplifica demasiado com algumas das referências que faz não vou argumentar por aí.
Quanto ao resto parece-me que estamos de acordo, particularmente quando cita o artigo sobre corrupção a que aludia indirectamente quando referi a implementação do sistema de contabilidade público (único em todas as unidades dos três ramos que se mantém em lento processo de implementação em várias unidades). Podia ter também referido a central de compras, que tem boas potencialidades para reduzir o problema.
Por outro lado também concordo consigo quando escreve: "Errado é afectar muitos recursos a meios e sistemas que oferecem pouco serviço, e não o contrário."
Note contudo que não foi nestas matérias que se centrou o artigo de Sérgio Figueiredo. Pareceu-me antes uma crítica (ainda) mais superficial em estilo de má propaganda. Não é bem de propaganda ou de contra-propaganda que precisamos neste momento. Mas antes de lucidez.
Quanto aos seus conselhos, tentarie segui-los:
Estudem a História!
Estudem os meios!
Estudem as doutrinas e táticas!
Cumprimentos
Um problema que têm os militares do QP e de que pouco se fala é o das promoções, com muitos deles há tempo demasiado no mesmo posto.
O que o exército e principalmente a Arma de Engª fazem pelo País em missões de carácter "civil" devia ser divulgado para ajudar a mudar esta ideia que os militares estão fechados num quartel sem fazer nada.
Sugiro também que se procure saber as dívidas que muitas Câmaras Municipais têm acumuladas e que não pagam a tempo e horas às Unidades de Engenharia, que fazem trabalhos que nenhuma empresa estaria disposta a aceitar.
E tem toda a razão no seu post.
Os submarinos são o mais importante da nossa Marinha e não devíamos ter 2 mas uns 8 para o Mar, as Ilhas, que temos e o facto de só termos a Espanha como fronteira terrestre.
Em todas as guerras são os submarinos os meios que implicam mais cuidado dos adversários: Nas Falklands os Ingleses tiveram danos graves e fragatas afundadas porque os navios estavam todos configurados para a guerra anti-submarina e a disposição das forças teve de ter em conta os 2 vetustos submarinos Argentinos.
A interdição á armada argentina foi feita por um submarino se fosse um navio de superfície teria sido aniquilado pela Força Aérea Argentina. Devido ao afundamento do Cruzador General Belgrano pelo submarino Britânico nunca mais a Marinha Argentina saiu para o Mar , foi a acção mais decisiva de toda a Guerra.
Note-se que para ter uma escola de submarinos minimamente eficaz são precisos uns 10 anos de treino.
Mas isso não impediu que todo o país do 1º ao 3º mundo mesmo aqueles com pouco Mar e sem tradições Marítimas tenham decidido investir em submarinos. Perceberam o seu poder devido ás suas características
O Mar não é um copo de água doce é tudo menos um meio estável onde a salinidade e os termoclimas variam as propriedades do som o que torna muito mais dificil a detecção. Em alguns casos tornam impossível sem falar da identificação e classificação do alvo. É dito que nas Guerra das Falklands morreram mais baleias do que em qualquer outro período.
Por esse facto os EUA pagaram para terem um submarino sueco e a respectiva tripulação a viver nos EUA e a treinar a marinha dos EUA na guerra anti-submarina.
Discordo quanto aos Striker a partir do momento em que lhes meteram a "rede para as galinhas" podes ver aqui:
http://www.defence.co.kr/html/bbs/data/divisioncpkf/striker.jpg
os RPG deixaram de ser problema e são mais resistentes ás minas do que um veiculo de lagartas. O mesmo se pode fazer nos Pandur, mas pelo que ouvi a compra está congelada. No Money!
Ainda estou á espera de saber qual é essa novíssima metralhadora num Post abaixo!
Sem esquecer que os orçamentos da defesa têm sido falsos desde há anos uma vez que nunca se gasta o que está planeado. O dinheiro é cativado para gastos em outras áreas governamentais e na prática o Estado fica a dever ás Forças Armadas. Porque muito do dinheiro para compra de submarinos e outro equipamento já vem nominalmente de á vários anos mas nunca é entregue...
Dia 5/18/2005 - Testes da Arma Ligeira
a “Testes da Arma Ligeira para as Forças Armadas, na EPI”
Na sequência do concurso para a selecção da futura arma ligeira para as Forças Armadas decorrem na EPI, sob a orientação da Direcção Geral de Armamento e Equipamentos de Defesa (DGAED), os testes relativos à espingarda automática, metralhadora ligeira e pistola.
Os testes realizam-se no período de 16 de Maio a 3 de Junho e envolvem elementos dos 3 Ramos das Forças Armadas bem como as companhias “Swiss AHMS”, “HK”, “FN” e “PT SAWER”. (in Portal do Exército)
lucklucky
PT sawer é o nome do consórcio desconheço se foi ou não anglicisado se é um erro ortográfico.
Esse texto é só para jogadas da politica interna americana.
Qual é a diferença entre a blindagem do M-113 de lagartas e os Pandur ou os Striker? Qual protecção que os M~113 têm sem blindagem adicional. A mesma ou pior.Desde o Vietename passando pelas guerras Israelo-àrabes os soldados preferiam ir em cima fora do veículo por causa das minas e sacos de areia no chão do veículo.
Não tens nenhum veículo de transporte de tropas imune a rpgs excepto talvez os pesados Achzarit do exército Israelita que têm o peso e chassis de um tanque. Nem sequer os tanques M1 são imunes a rpgs como se viu ao terem de colocar a "rede das galinhas" junto aos respiradores dos motores.
Quanto a uma eventual escolha Pandur Submarinos é evidente que os Submarinos são mais importantes. Já para não falar do know-how que se perderia e que só com anos de treino e gastos adicionais se conseguiria recuperar. Mas em qualquer caso são escolhas banais de um qualquer exército não são luxos.
LL
Os israelitas não têm usado blindagem reactiva nos M113 embora tenham feito testes . Só a nova versão usa um sistema misto que pesa 3 toneladas e não protege o veículo todo. Um veículo de lagartas será sempre mais caro de manter do que um de rodas a não ser que as deslocações não sejam muitas e ou o terreno seja muito mau.
LL
adomi600@hotmail.com