Há uns tempos experimentei no tempo de uma posta rápida divagar sobre uma via para a organização das relações de trabalho no nosso tempo, de si extremamente complexas. Nela se atirava, ainda que com os pés, uma hipótese de liberalização dos despedimentos em contratos laborais que não estão sujeitos aos mecanismos e às regras da contratação colectiva. Hoje, no suplemento de Economia do Público, leio um interessante artigo da jornalista Ana Navarro Pedro sobre a influência que o modelo dinamarquês está a ter junto do primeiro-ministro do governo de direita francês, Dominique Villepin. Este modelo, recorrendo ao resumo da notícia, comporta em si a grande facilidade de despedimentos para as empresas e uma forte regulação do mercado de trabalho através de acordos colectivos ou de empresas, negociados entre os sindicatos e o patronato, ficando o Estado com o papel de acompanhamento dos desempregados e de lhes proporcionar reformas antecipadas, abstendo-se de qualquer outro tipo de intervenção, como, por exemplo, a de fixar um salário mínimo nacional que passa a ser combinado entre patrões e sindicatos. É uma medida que tanto agrada aos sectores mais conservadores da sociedade que tende a destacar a liberdade das empresas, como poderá agradar aos sectores mais progressistas pois faz apelo e implementa um sindicalismo muito forte e entregue a si próprio sem a figura paternal do Estado. Não sei se é do dia, mas tenho cá um palpite que Álvaro Cunhal iria descobrir neste modelo de um Estado ausente nas relações de trabalho as condições ideais para fazer valer o seu projecto de sociedade, com a probabilidade de o indivíduo encontrar só no colectivo o meio para a defesa da sua dignidade no mundo do trabalho e não através de uma individualidade levada ao extremo na competição com os seus pares ou do puro lacaismo.
Publicado por contra-baixo 15:17:00
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